segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A origem das espécies

Estou lendo atualmente alguns livros de biologia. Charles Darwin é outro dos artistas que eu considero geniais, mais geniais que qualquer escritor ou poeta ou músico ou cineasta ou sei lá o quê. Eu invejo Darwin, não tanto por sua genialidade, mas principalmente por ele ter podido viajar num navio por anos a fio, observando o mundo. Passou até pelo Brasil, em 1832, onde se espantou com a natureza - "deleite é um termo fraco para expressar os sentimentos de um naturalista que anda pela primeira vez por uma foresta tropical brasileira" - e com a escravidão: "Graças a Deus, nunca mais voltarei a visitar um país escravista".

A idéia central da biologia moderna, aquela que lhe dá sentido, é a evolução. De acordo com essa idéia, descrita num livrinho simples e interessante, chamado "Evolução, o sentido da biologia", "o raciocínio evolutivo também permite compreendeer comportamentos". Um exemplo dado por esse texto é o das náuseas e vômitos sentidos por mulheres grávidas no primeiro trimestre da gravidez: seria uma defesa desenvolvida pela espécie humana para proteger o embrião de possíveis substâncias tóxicas ingeridas pela mãe.

Eu posso pensar em dúzias de outros comportamentos que 'herdamos' de nossa biologia. O problema é que a maioria das pessoas não pensa sobre isso, e age como se estivesse sendo motivada por razões... Deus sabe o quanto somos animais, e nossa razão é, em geral, usada apenas para satisfazer nossos instintos. Um exemplo: dentre os primatas, os seres humanos são aqueles em que os órgãos sexuais masculinos são os mais desproporcionais em relação ao tamanho do corpo. Em outras palvras, olhando um gorila e um homem, você seria levado a pensar que o pênis do gorila seria maior do que o do homem e, na verdade, é o contrário que acontece.

E daí? O que isso tem a ver com evolução e comportamentos humanos? Bem, como será que os humanos acabaram tendo essa característica? Talvez, por seleção feminina: as fêmeas humanas, no passado, selecionariam os machos que tinham os pênis maiores e essa característica seria passada para os seus filhos, e assim por diante, até chegarmos aos dias atuais. Qual razão elas teriam para fazerem isso? A mesma que faz as fêmeas dos pavões escolherem os machos com caudas mais vistosas: a cauda é um símbolo de saúde, força, talvez até mesmo de status social. Claro que, como a biologia é uma ciência, essa não é a única hipótese para explicar o tamanho dos pênis humanos, mas fico, por ora, com essa.

Hoje, de qualquer modo, qualquer que seja a explicação, as mulheres não escolhem mais os homens pelo tamanho do pênis. Dizem elas que escolhem por amor. Eu, tendo conhecido algumas mulheres, duvido. A escolha ainda é biológica, mesmo que encoberta por séculos de cultura. Mas o amor é cantado e decantado, aparecendo até na Bíblia. No entanto, toda essa supervalorização de um sentimento que pode ser nobre e real em alguns casos me parece apenas uma fuga, uma tentativa de esconder nossa origem animal, uma racionalização a posteriori do que é, na imensa maioria das vezes, fundamentalmente irracional.

Repito o que já disse antes, aqui, de outras formas: nós, humanos, podemos ser divinos, mas em geral somos apenas pó, podemos ser belos, mas em geral somos muito feios, e não gostamos que nos lembrem disso. Eu, que já busquei muito o amor, não procuro mais esse tipo de beleza: quero apenas a beleza pura e natural, que em princípio não depende diretamente de outros humanos para ser encontrada.

(imagem: detalhe do Nascimento de Vênus, de William-Adolphe Bouguereau)

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