quarta-feira, 16 de abril de 2008

Gravitation


Eu tenho, em minha casa, um quarto que me serve de escritório, com uma computador e uma pequena biblioteca. Às vezes, quando venho para cá, meu filho me acompanha, e pega alguns livros que ele folheia, sem ainda entender o que está neles. Às vezes, ele me pede para escrever "letrinhas" no computador, e às vezes ele me pede para explicar as figuras de algum livro para ele.

Na semana passada eu peguei, para tirar umas dúvidas, um livro grande, pesado, de mail de mil páginas, capa negra com uma maçã e uma lupa desenhadas em branco. Meu filho, curioso, quis folhear o livro, que não tem muitas figuras, e nele encontrou uma foto de Einstein, que ele me mostrou, alegre por encontrar algo familiar: "Pai, olha!".

É, meu filho, que ainda não lê, e que usa fraldas, reconhece Einstein.

É um contraponto meio cruel para o quase silêncio que a imprensa brasileira deu para a morte de um dos autores do livro que eu peguei, John Archibald Wheeler. Ele não era Einstein, mas, para alguns era um dos "últimos titãs a caminhar na Terra" - só para constar, foi o criador do termo "buraco negro". Não sei se há ou houve no Brasil alguém como ele, de tanta importância científica. Talvez daí o quase silêncio (ainda bem que existe a internet...).

Espero que meu filho cresça sabendo distinguir as coisas. Ao menos pretendo deixar para ele esta bibliotequinha...

(imagem: Gravitation, o livro, que, salvo engano meu, não teve e acho que nunca vai ter tradução para o português - em tempo: na wikipedia, o verbete em português sobre Wheeler é pífio, em comparação com a versão em inglês)

domingo, 6 de abril de 2008

O universo numa camiseta


Junte sexo, novelas (com ou sem mutantes), fotos de modelos (inclusive a que se tornou a primeira-dama da França), discussões sobre a Bíblia, política e politiquinhas, sexo, sexo e mais sexo, vídeos (com ou sem música), notícias sobre artistas (que, provavelmente, nunca leram um livro ou pintaram um quadro), esportes, sexo, nudez, sexo, etcetera e tal, e você terá o universo inteiro que interessa a quase a totalidade das pessoas que freqüentam a internet.

Eu não sei para que eu escrevo.

(E eu posso notar que é uma descrição do universo que cabe numa camiseta...)

(imagem: o universo)

As mentiras que os homens contam


Ler os jornais do dia é uma obrigação que me deprime. Nem tanto pelas notícias, que são, de forma genérica, as mesmas que foram ontem, mas principalmente pelas opiniões, que continuam as mesmas de ontem, e de outro tempo em que eu nem era vivo.

Ao que me parece, há muitos que sentem saudade dos tempos em que só havia o rei, bem nascido e bem criado, entre a nobreza e o clero. E o resto do mundo existia para servir. É essa nostalgia que eu sinto nos colunistas e cronistas dos jornais do meu país.

Há exceções, é claro, como o bom e velho Luis Fernando Verissimo, que este final de semana, em que há mil e duas reportagens sobre o assassinato de uma criança branquinha e bonitinha, e outras duas mil reportagens sobre um dossiê que parece ser tão importante quanto o mais importante segredo do universo, apenas propôs uma peça de teatro em que nada disso aparece (há uma chamada para o texto dele na capa do jornal).

Mas os meus olhos, acho que doentes, leram outra coisa. Na peça proposta, ao se abrir a cortina há, no palco, apenas um telefone que toca insistentemente até que alguém da platéia o atenda. Quando uma mulher faz isso, a cortina se fecha. O marido vai atrás dela e desparece. Quando a cortina se abre a mulher está vestida como uma empregada e o marido sentado no sofá: ela age como se fosse uma personagem das mil e tantas comédias similares e repetitivas do teatro brasileiro, e ele é "levado" a participar da farsa, antevendo a aparição de algum personagem nu (que realmente aparece).

Bem, o que eu vi? Uma descrição de como o nosso mundinho funciona, uma armadilha para passarinhos, com o alpiste debaixo da arapuca, e alguém escondido esperando o momento certo. Que passarinho se pega com uma peça de teatro, com uma farsa? Só o que vai ao teatro, é claro.
Que é o mesmo que se pega com jornais e reportagens repetitivas, batendo-se sempre na mesma tecla, até que alguém atenda o telefone e entre na farsa.

Confuso? Eu achei, por isso mesmo acho que entendi tudo errado. Certamente, Luis Fernando Verissimo não escreveu nada disso que eu vi. Só propôs uma peça, que não me custa reler.

(imagem: uma empregada doméstica, que podia estar em "Trair e Coçar", mas que eu achei na wikipedia)