quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dicionário prático japonês-português

Hoje fui à aula de japonês. E saí de lá com um problema. Difícil, certamente. Insolúvel? Não...

O problema? Minha professora me apresentou um vídeo bem bonitinho, tirado do final dos anos 60, de um grupo chamado "The Drifters", que fazia música e comédia na TV japonesa. A música que aparece no vídeo chama-se "Miyo-chan", e eu fiquei tão interessado que quis achar, por conta própria, a letra para fazer a tradução. Mas não achei nada na internet.

Língua errada, é claro: bastou escrever no Google ミヨちゃん e a letra apareceu. Na verdade, não foi tão simples assim, pois apareceu a indicação de um milhão de páginas: como eu, estudante iniciante de japonês, posso saber qual é a certa? Problema...

Achei a música no YouTube e a ouvi algumas vezes. Peguei um trecho cujos sons achei que entendi, descobri como escrevê-lo em japonês e voltei ao Google: 僕のかわいいミヨちゃんは. A primeira página indicada me deu o seguinte texto:
「みなさん、まあ僕の話を聞いて下さい。
ちょうど、僕が高校二年であの娘も
ミヨちゃんも、高校二年の時でした。」
僕のかわいいミヨちゃんは
色が白くて小ちゃくて
前髪たらしたかわいい娘
あの娘は高校二年生
ちっとも美人じゃないけれど
なぜか僕をひきつける
つぶらな瞳に出あう時
何にもいえない僕なのさ
それでもいつかは逢える日を
胸にえがいて歩いていたら
どこかの誰かとよりそって
あの娘が笑顔で話してる
(間奏)
父さん母さんうらむじゃないが
も少し勇気があったなら
も少し器量よく生まれたら
こんなことにはなるまいに
「そんなわけで、僕の初恋は
みごとに失敗に終わりました。
こんな僕だから恋人なんていつのことやら
でも、せめて夢だけは
いつまでももちつづけたいんです。」
今にみていろ僕だって
素敵なかわいい恋人を
きっとみつけてみせるから
ミヨちゃんそれまでさようなら
さようなら
É a letra da música que eu procurava? Acho que é, por comparação com o vídeo do YouTube.



Enfim, falta a tradução. Mas o legal de se estudar uma língua estrangeira é isso: descobrir coisas novas e, no processo, exercitar o raciocínio. E o mesmo vale para o estudo da natureza, pois como disse Galileu,
“(O Livro da Natureza) está escrito na linguagem matemática, e os seus caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem os quais é humanamente impossível perceber uma só palavra; sem eles, vagueamos num escuro labirinto.”
Fazer ciência é estudar uma língua nova, a da natureza, e ser sempre um iniciante, vasculhando a resposta mais adequada entre milhares de possibilidades, quase às cegas. Por isso mesmo é tão excitante, e vez por outra você acaba até descobrindo uma música bonita... さようなら (ou, em caracteres ocidentais, sayonara, isto é, "até logo"!)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Depois do baile



Não pude deixar de perceber que eu poderia ter conversado com algumas pessoas que acompanham este blog (estou realmente surpreso que elas existam) e com autores de outros blogs que eu acompanho, em Arraial do Cabo, no último fim de semana. Mas praticamente não o fiz: entrei quase mudo e saí quase calado. Aos meus leitores acho que devo um pedido de desculpas, e essa postagem é meio que para isso.

Acho que a minha primeira paixão "aconteceu" quando eu tinha uns treze anos. Ela era uma mocinha oriental (acho que se chamava Kelly Cristina, ou algo assim) e, um belo dia, depois de perceber o quanto eu estava abobalhado, ela me convidou para uma festa na casa dela, para um daqueles bailinhos de adolescentes com músicas românticas. Eu me senti totalmente perdido: a menina era muito bonita, e sua casa era no centro da cidade, enquanto eu era muito feio e morava na periferia. Hoje vejo que eu estava no meio de um daqueles filmes de "besteirol americano", fazendo, é claro, o papel clássico de nerd.

Trinta anos depois disso, aconteceu o EWCLiPo (ótimas descrições do evento podem ser achadas em outros blogs), no último final de semana. E, ao ver as palestras e pessoas lá, saltei uns trinta anos para trás. As pessoas lá eram todas - todas - muito mais bonitas, mais bem vestidas, mais saudáveis e mais inteligentes do que eu. Ao ver uma palestra - muito, muito interessante - sobre gastronomia molecular, me senti um neandertal: gastronomia, para mim, é um luxo, algo que eu nunca entendi. Ao ver, na confraternização do primeiro dia, a distribuição de um risoto de (ou seria com?) frutos do mar, me senti um mendigo: eu nunca como nada assim tão sofisticado. Durante a confraternização algumas pessoas falavam de cervejas européias, estadas na Alemanha, pós-docs sei lá aonde.

Com o passar dos dias, meu sentimento de inferioridade só foi crescendo. A junção de arte e ciência era algo que eu só sonhava que existisse, como projeto, em minha cabeça, algo que eu nunca vira no mundo real, e estava lá, na minha frente, apresentada por duas pessoas, com o anúncio até de uma oficina literária. O ápice se deu com a apresentação de uma neurocientista, uma moça com uma fala e aparência tão diferente das moças e pessoas que eu vejo e vi nos meus dias, que já até apresentou uma matéria no Fantástico, que eu me senti um alienígena, morando num acampamento improvisado, vivendo num refúgio de periferia criado para criaturas estranhas como eu.

E mesmo as pessoas "estranhas", de aparência não televisiva, falaram de coisas tão inteligentes, que eu me senti uma ameba.

Não estou exagerando: estudei na USP e na UNESP, em diferentes cidades, campi, cursos e níveis, trabalhei em duas universidades federais, em dois estados diferentes, e nunca, nunca estive num meio tão socialmente sofisticado. Meu mundo foi, e é, o de gente comum, que come arroz, feijão e miojo todos os dias. Eu como miojo quase todas as noites. A peça de roupa mais cara que eu comprei na minha vida toda é a bota que eu uso hoje, que comprei apenas para poder acompanhar melhor os alunos em caminhadas no mato, e que custou uns cem reais.

Onde eu vivi esse tempo todo? Não sei. Acho que vivo de restos e migalhas de um mundo que eu não consigo enxergar, de uma mesa que é alta demais para que eu possa ver o que há nela. E eu, pelos critérios do Brasil, sou um privilegiado: eu estudei e tenho um emprego. Eu sou parte da elite - e não sou nada.

Tudo isso é muito estranho. A neurocientista, charmosamente carioca e impressionantemente "estilosa" (sentado atrás dela, não pude deixar de reparar que ela retocou o batom antes de levantar para falar), comentando, em sua apresentação, aulas de dança de salão que ela teve, me lembrou uma colega, oriental e bióloga, filha de cientistas, que dança graciosamente ao andar, e tudo isso me lembrou Kelly e as dúzias de paixões (não correspondidas) que eu tive: acho que as perdi, em parte, por eu nunca ter sabido dançar. Eu nunca dancei, eu nem mesmo consigo perceber o ritmo, a não ser quando já é tarde demais, e, por isso mesmo, acho que já dancei...

(imagem: mais uma imagem tirada da wikipedia - ""Il Ballo" (ou "A dança", com a legenda, em italiano, dizendo mais ou menos "Uma dança festiva desperta o amor e alimenta a esperança com viva alegria."), de Giuochi, Trattenimenti e Feste Annue Che si Costumano in Toscana e Specialmente in Firenze"; já o título dessa postagem é tirado de um conto de Tolstoi)

sábado, 26 de setembro de 2009

A terra dos meninos pelados



Dirigi por quase seiscentos quilômetros para participar da segunda edição do EWCLiPo (Encontro de Weblogs Científicos em Língua Portuguesa), em Arraial do Cabo. O que aprendi? Quem conheci? Não sei mesmo, mas me surpreendeu o bom humor do Cardoso, gostei de saber que existe alguém pensando em "Poesia para Físicos", e me marcou uma dica mostrada pelo organizador do evento, citando um poema de João Cabral de Melo Neto, intitulado "Graciliano Ramos":
"Falo somente com o que falo:
com as mesmas vinte palavras
girando ao redor do sol
que as limpa do que não é faca:

de toda uma crosta viscosa,
resto de janta abaianada,
que fica na lâmina e cega
seu gosto da cicatriz clara

Falo somente do que falo:
do seco e de suas paisagens,
Nordeste, debaixo de um sol
ali do mais quente vinagre:

(...)
Falo somente por quem falo:
por quem existe nesses climas
condicionados pelo sol
pelo gavião e outras rapinas.

(...)
Falo somente para quem falo:
quem padece sono de morto
e precisa de um despertador
acre como o sol sobre o olho

que é quando o sol é estridente
a contrapelo, imperioso,
e bate nas pedras como
se bate numa porta a socos."
É preciso falar de forma precisa, e saber falar do que se fala, ouvindo quem se quer como ouvinte. Isso me fez pensar: e eu que, por ficar isolado nos coffee breaks, aqui parece que cumpro mais uma vez o papel de Raimundo Pelado, eu, precisamente, para quem eu falo? Do que eu falo? Da minha janela, neste hotel, vejo sol, mar e areia, e reconheço meu tema e minha platéia. E, claro, aqui o vento não me deixa esquecê-lo, e espero que faça o seu trabalho: a ele confio minhas palavras, sempre.

(imagem: um marco histórico na Praia dos Anjos, em Arraial do Cabo, em foto da wikipedia - será que ele marca os caminhos de Tatipirun?)

domingo, 20 de setembro de 2009

O que é vida?



Diz a lenda que havia duas árvores importantes no Jardim do Éden bíblico, uma ligada à vida e outra ligada ao conhecimento do bem e do mal.

Diz a lenda que Moisés viu uma sarça ardente, "e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia". E no meio da sarça Moisés encontrou Deus.

Diz a lenda que Buda parou embaixo de uma árvore, para meditar. E sob a figueira Buda alcançou a iluminação e encontrou o nirvana.

Fui a um aniversário de um amigo, e na casa da namorada dele havia, bem na entrada, uma mesinha com dois porta-retratos: num a moça, seu irmão e a mãe deles, no outro a bela folhagem de uma árvore fotografada de baixo para cima, em maravilhoso contraste com o céu, que eu não pude deixar de notar.

Na estrada, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, parei para ver um "ipê-amarelo", iluminado ao mesmo tempo pelas flores que vieram saudar a primavera e por um raio de um sol de um fim de tarde, escapando de um céu nublado. E eu, ao ver isso, não pude deixar de parar o carro.

Não, eu não sou Moisés ou Buda, mas acho que encontrei Deus e alguma iluminação, um dia, na beira do meu caminho, quando eu voltava da padaria, com um saquinho de leite B e um punhado de pães. E havia uns arbustos conhecidos como "coroa-de-cristo" cercando as laterais da viela sem asfalto por onde eu caminhava.

E o que eu vi era indescritível, mas era luz, vida e conhecimento, certamente.

Pena que hoje, em meu mundo, ao meu redor, exista pouco além de cimento e asfalto, e de uma corrida sem fim em busca de sucesso. E a cidade em que eu moro parece viver um inverno eterno, sem cores.

Não vivo no paraíso, não sou profeta, nem um grande cientista (não sou nem mesmo um cientista mediano), mas talvez eu também possa, com a pouca ciência que conheço, ajudar na descoberta do sentido da vida: eu sei que viver é conhecer, para o bem e para o mal. Onde o fogo, a luz, onde a vida? Tem que ser em mim, que conheço tudo isso. Que eu busque ser a árvore que dá frutos e sombra ou que, pelo menos, eu tente ajudar a embelezar e iluminar o caminho de outros...

(imagem: árvore fotografada por meu celular, no meio do nada)

Desvendando o arco-íris



Na estrada, em direção a mais um congresso, paro para entender os dois arcos coloridos que emolduram o meu caminho: nunca vi nada igual. O que isso pode significar? Será que o universo está querendo me dizer algo?

Dias antes, minha filha, de sete anos, sentada no banco de trás do carro, tinha me perguntado quantas cores há no arco-íris. Quantas? Sete é a resposta padrão, mas eu sei que é só uma resposta padrão: há entre o azul e o vermelho muito mais do que sete passos...

Enfim, o que haverá no final dessa estrada de asfalto com linhas amarelas? Há um tesouro no fim do arco-íris? Tudo bem, eu não queria encontrar mesmo um tesouro, mas sim uma ponte para uma outra realidade e, no entanto, sei que não é nada disso. O que eu vou encontrar é outro dia e outra estrada e outros dias chuvosos se misturando com dias ensolarados.

Não há mágica no universo. O que há é beleza, e eu posso parar para admirá-la e, talvez, indicá-la a outros. Hoje, isso é mais fácil, já que inventaram celulares com câmera, computadores e a internet, e eu posso rapidamente contar a todos o que aprendi: o que me trouxe aqui, o que nos trouxe aqui, não foi nenhum milagre - foi o trabalho de homens e mulheres, como eu e você.

Quantas cores há no arco-íris, minha filha? A lenda diz que são sete, mas eu sei que são mais, muito mais: a realidade é muito mais sofisticada que as lendas. Basta estudar para aprender a ver mais. E eu vou a mais um congresso, para ver se aprendo algo mais sobre pontes para outras visões da realidade.

(imagem: foto vagabunda que tirei com meu celular, perto de Guararema)

domingo, 6 de setembro de 2009

O governo Jânio Quadros


E para falar um pouco mais dos jornais de domingo, encontro na Folha de hoje um intelectual, José Arthur Giannotti, falando da política atual:
"Já tenho idade para ter assistido a várias dessas irrupções salvadoras e moralizadoras: Jânio, Collor... Qual seria o conselheiro da vez?"
Pois é: eu acho que faltou falar quem se beneficiou com o aparecimento dos aventureiros Jânio e Collor. Collor, por exemplo, foi criado para derrubar quem? "Cui bono"...

(imagem: o presidente Jânio Quadros, em foto divulgada na wikipedia; o título dessa postagem é o mesmo de um livrinho da coleção Tudo é História, da editora Brasiliense, de autoria da professora Maria Victoria de Mesquita Benevides, "homenageada" pela Folha recentemente, num episódio muitíssimo didático da "ditabranda" - recomendo a leitura do texto lincado aqui...)

Agosto


Hoje, domingo, peguei a Folha e achei, com bastante atraso, um texto lembrando da morte de Getúlio Vargas, escrito por um Ferreira Gullar, ex-poeta e ex-comunista, intitulado "Mataram o Velhinho". Eis alguns trechos:
"Lacerda, na "Tribuna da Imprensa", jornal que havia sido criado para combater o getulismo, chegou a escrever: "O senhor Getúlio Vargas não pode ser candidato; se candidato, não pode ser eleito; se eleito faremos uma revolução para derrubá-lo." De fato, Getúlio candidatou-se, elegeu-se e tomou posse na presidência do país. Lacerda, por sua vez, não desistiu das ameaças que fizera e desencadeou contra ele uma guerra sem tréguas, com acusações de toda ordem."

 "... todos que ali estavam mostravam-se a favor da deposição do presidente. Eu também, o que era natural, uma vez que a campanha de Lacerda surtira efeito: de minha sogra, que era católica, gaúcha e getulista, ao partido comunista, todos estavam contra Getúlio."
Resultado? Em 24 de agosto de 1954 Getúlio se suicidou e eis o que reporta Ferreira Gullar:
"... logo a multidão tomou as ruas, indignada com a morte de um presidente que, de fato, não roubara nem enriquecera."
Getúlio morreu, saindo da vida para entrar na história. E o que a história fala dele? Vamos à wikipedia:
"Getúlio era chamado, pelos seus simpatizantes, de "pai dos pobres" (título tirado do livro de Jó 29,16), e, por pessoas próximas, de "Doutor Getúlio"."
"Durante o governo provisório, Getúlio Vargas deu início à modernização do Estado brasileiro. Criou:
 A lista de realizações de Getúlio continua, com mais uma dúzia ou tanto de itens, e continua no Estado Novo:
"No Estado Novo foram criados o Ministério da Aeronáutica, a Força Aérea Brasileira, o Conselho Nacional do Petróleo, o Departamento Administrativo do Serviço Público, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis, a Companhia Vale do Rio Doce, o Instituto de Resseguros do Brasil, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, o Conselho Federal do Comércio Exterior, a lei da sociedade anônima.
Getúlio deu os primeiros passos para a criação da indústria aeronáutica brasileira. Foi criada a Fábrica Nacional de Motores (FNM), inicialmente planejada para ser fábrica de aviões, e que posteriormente produziu tratores e o caminhão "FNM"."
E a coisa continua, e continua e continua...

Getúlio foi um ditador, que tomou o poder numa revolução que acabou com a República do Café com Leite, controlada pela oligarquia (palavra complicada...) agrícola do Brasil. Ou seja, Getúlio "representava" uma revolução que modernizou o país e, de fato, ele fez isso. E foi eleito depois, com enorme apoio popular. E acho que foi isso, a popularidade de Getúlio, que deixou seus críticos, especialmente Lacerda e os paulistas, mais irritados.

Algum paralelo com o que acontece hoje? Quem representa Lacerda hoje? Quem vive irritado com a popularidade de personalidades públicas? Não sou só eu que vejo a semelhança...

Enfim, a história não é assunto muito conhecido pela maioria dos brasileiros, mesmo os educados (aliás, o que sabe a maioria dos brasileiros? Os jornais que eu leio, voltados para a classe média, têm ótimas seções de gastronomia, cultura e esporte, onde eu leio em cada página o lema "pão e circo". A quem isso interessa?). E, citando sem saber a fonte, "um povo que não conhece sua própria história é fadado a repetir os mesmos erros do passado."

Em tempo: em seu tempo, a imprensa do "golpista" Lacerda influenciou até mesmo intelectuais como Ferreira Gullar; hoje, eu vejo, com medo, o mesmo acontecendo com a classe média toda. É triste e trágico.

(imagem: "Bota o retrato do velho outra vez\ Bota no mesmo lugar\ O sorriso do velhinho\ Faz a gente trabalhar\ Eu já botei o meu\ E tu, não vai botar?\ Já enfeitei o meu\ E tu vais enfeitar?\ O sorriso do velhinho\ Faz a gente trabalhar", marchinha de carnaval, de Haroldo Lobo, em homenagem a Getúlio - a foto é da wikipedia)

1984


Os jornais, os jornais: não gosto deles, mas os leio todos os dias. Para mim a imprensa brasileira é elitista, parcial, conservadora, direcionada, manipuladora, provinciana, e eu acho que poderia adicionar uns outros tantos adjetivos nada elogiosos. E quando eu comento isso com algumas pessoas, elas me perguntam: "qual a fonte de informação que é confiável? Onde buscar a descrição dos fatos de forma mais próxima do que na realidade aconteceu?" Eu, sinceramente, não tenho essa resposta. Só o que eu sei é que é preciso ler os jornais de forma crítica, com uma lente, lendo o que não foi escrito neles. Repetindo o que eu escrevi num outro blog:
"Eu leio a Folha (sou assinante há N anos, até me mandaram um cartão por isso) e o Estadão (raramente vejo a Globo) com um filtro na frente; na enorme maioria das vezes o que eles dizem é verdadeiro, mas há motivos por trás disso. Não sei se vocês lembram de um comercial que a Folha (é, a Folha...) fez, onde depois de falar várias coisas boas e verdadeiras de um sujeito ela mostrava quem era o sujeito."
Enfim, eis o comercial da Folha:



A história é sempre escrita pelos vencedores, mas para vencer, muitas vezes, é importante escrever a história antes...

(imagem: Senate House, em Londres, que, segundo a wikipedia, teria servido de inspiração para o Ministério da Verdade que aparece no livro 1984, de George Orwell)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

As origens do totalitarismo


Eu sonho. Na noite da terça para a quarta acordei com a clara recordação de meu sonho: eu sonhei que vivia num mundo em que Hitler vivia, um mundo controlado por nazistas e em que todos eram evangélicos... Em meu sonho uma mulher era fuzilada na minha frente por ter ido a um lugar "proibido" e visto o que não devia ser visto.

O que esse sonho quis me dizer? Simples: eu tenho medos. Ditaduras me assustam. Controle e manipulação das informações também me assustam. A imposição da verdade me assusta. O pensamento fundamentalista me assusta. A paixão cega me assusta.

E o que mais me assusta é ver que essas coisas existem de verdade, no mundo real. Ontem, quarta, vi no canal da National Geographic um documentário sobre os 70 anos da Segunda Guerra Mundial, que me assustou demais por seu realismo e suas ligações com a "modernidade". Só para constar: estava lá um dos pais do capitalismo moderno, Henry Ford, com seu apoio ao nazismo.

Enfim, eu sei que Goebbels não está mais na Terra, mas não tenho certeza quanto ao destino do seu espírito.

(imagem: você podia ter um desses de qualquer cor, desde que fosse preto...)