sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Macunaíma


Li na Folha de São Paulo que os desfiles da SP Fashion Week (também conhecida como Semana da Moda de São Paulo) e que este ano "tem como tema principal a diversidade", "praticamente não tiveram modelos negros." É, eu sempre soube: ser negro não é "fashion"...

Enfim, nada de novo: tal como aparece na apresentação de um livro da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, "Racismo no Brasil", "no que se refere ao tema racial, estamos bem longe de um "E viveram felizes para sempre"."

(imagem: quadro de Debret sobre a escravidão no Brasil; eu queria ilustrar esta postagem com uma foto de Grande Otelo, como Macunaíma, mas, curiosamente, a wikipedia não parece ter nenhuma foto de Grande Otelo - será por causa da cor dele?)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A rosa do povo


Passei quase dez dias longe deste meu diário eletrônico. Não que eu não tivesse novidades para postar, que, como todo mundo, as tenho: fui ao litoral, me embebedei como não fazia há muitos anos, conversei com amigos antigos, li sobre outros mundos...

E o mundo, este em que vivemos, não parou nestes meus dias de silêncio - os jornais se acumularam como sempre num canto de minha casa, com milhares de notícias novas (ainda assim tão velhas!). Eu podia aproveitá-las para escrever algo, fazer comentários inteligentes ou espirituosos ou... mas não! Estou cansado de notícias - inclusive as de mim mesmo.

Não foi para ser jornalista que eu comecei a escrever. O que eu buscava - busco - é a tal da Beleza (assim mesmo, com maiúscula). Beleza das palavras, que também se chama poesia, mas que vem de outro lugar e só depois, com muita sorte e cuidado, se transmuta em frases.

Não gosto especialmente de poesia, quero dizer, como ramo da literatura. Para mim poesia é mais do que literatura. Poesia é "A origem do mundo", de Courbet, é uma criança brincando, uma música instrumental, uma equação matemática, e até mesmo um poema.

Não gosto particularmente de Carlos Drummond de Andrade, mas em trechos e passagens, muitas vezes, concordo com ele, como neste poema, "Procura da Poesia", de "A Rosa do Povo",
"Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina."

É por isso que neste blog pouco se vai encontrar de notícias, e quando elas existirem é apenas para ver se delas consigo extrair algo atemporal, invariante, infinito, durável, enfim, belo. E se aqui não houver beleza alguma, a culpa é só de minha imperícia, de minha incapacidade de transformar meus desejos e visões em algo sólido: as vezes o pão que eu cozinho sai duro como pedra...

(imagem: uma rosa, da wikipedia)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O guardador de rebanhos


Fernando Pessoa é belo, tanto quanto uma galáxia ou o lado oculto de uma lua distante, ou o corpo humano nu. Há no universo tanta beleza que até eu, em certos momentos, acho que devo ser belo, de algum modo... Pena - para mim e para o Brasil - que eu não seja Fernando Pessoa.

(imagem: um rebanho, segundo a Wikipedia, na Terra do Fogo)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Cem anos de solidão


Foi num 2 de janeiro que eu comecei minha vida de estudante de pós-graduação. Ganhei a chave de uma sala, que passei a dividir com dois outros estudantes mais antigos que eu. Me apresentei a eles e saí da sala para conhecer o resto do prédio. Contudo, tive uma dúvida e voltei para a direção da sala - bem a tempo de, no corredor, ouví-los falando de mim, algo como "mas que cara ridículo!" Julgado e condenado em menos de 5 minutos - e não eram adolescentes, ou pessoas pobres e ignorantes: era um respeitável júri.

Fiquei meses almoçando sozinho.

Lembrei dessa história, hoje, um século depois, em outro 2 de janeiro, por estar almoçando sozinho, algo que vai se repetir quase o mês todo.

(imagem: uma refeição na corte do imperador Ferdinando I, no século XVI, na wikipedia)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Feliz Ano Velho


Dizem que um ano novo começou. Para mim é apenas burocracia: eu me sinto preso sempre no mesmo ano, no mesmo dia, como um personagem de um filme de ficção, "Feitiço do Tempo".

Entretanto, vi a novidade se apresentar a meu filho, deslumbrado com os fogos de artifício, apontando para cada nova explosão com um sorriso tão radiante quanto o sol. Eu queria ser ainda como ele, para quem o mundo é novo a cada dia...

(imagem: "ano-novo", na wikipedia)