domingo, 31 de agosto de 2008

Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica


Eis um tema que merece uma postagem particular: a ficção científica no Brasil.

Comprei na Bienal um livrinho chamado "Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica". Bem, o livro deve ser louvado, é muito interessante, mas de longe o melhor que aparece lá é Machado de Assis, com sua verve irônica irretocável. As outras coisas que há nesse livro me deram pena - de ser brasileiro.

Tudo bem, o editor da coletânea, Roberto de Sousa Causo, merece ser elogiado: é dele um livro maravilhoso, "Ficção científica, fantasia e horror no Brasil", que eu gostaria de ter escrito - ou orientado, já que o livro é resultado de um projeto de iniciação científica.

Eu já li muita coisa. Quando estudei a literatura inglesa moderna, por exemplo, passei obrigatoriamente por H.G. Wells e Aldous Huxley, por exemplo. Na literatura estadunidense, não há como fugir de Ray Bradbury e Kurt Vonnegut, por exemplo. No Brasil, bem, no Brasil, o que há é Jorge Amado, uns tantos baianos e nordestinos, e mil sensualidades e exotismos ótimos para turistas estrangeiros e paulistas (que não fazem parte do Brasil - ou fazem? - nem sei mais!). No Brasil não há ambiente para crescimento do gênero ficção científica, pois não há inserção da ciência na cultura. E, assim, a ficção científica é vista como algo kitsch, reservado para cdf's e nerds.

Intelectual no Brasil é, única e exclusivamente, quem cultiva as letras e as humanidades. Será que vale ser escritor de blog?

(imagem: ilustração para edição européia de "A guerra dos mundos", de H.G. Wells, feita pelo brasileiro Henrique Alvim Corrêa, no início do século XIX)

Como e por que ler


Nas duas últimas semanas estive bem ocupado. Como exemplo de minhas atividades posso citar uma ida à Bienal do Livro de São Paulo, em que andei por um bom punhado de horas, e a participação em um evento com a presença do Excelentíssimo Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, em que fiquei em pé por um bom punhado de horas.

A ida à Bienal foi para mim uma experiência ao mesmo tempo agradável e frustrante. Agradável pela possibilidade de folhear e conhecer um mundo sem fim de livros, e frustante pela constatação - óbvia - de que a maior parte da produção de livros, no Brasil, embora destinada a uma minoria pelo elevado preço de venda, é de títulos de qualidade no mínimo duvidosa. Em poucas palavras: no Brasil se lê pouco, caro e mal.

Em minha busca específica, quase não achei livros de ciências e/ou de ficção científica. As editoras de livros técnicos e universitários têm em seus catálogos principalmente livros destinados a administradores, muito, muito pouco das ciências básicas - física, química, matemática - e só um pouquinho a mais de biologia, apenas por conta dos futuros médicos e dentistas, mas a preços proibitivos, enquanto a área de humanidades tem uma abundância de ... inutilidades. Já as editoras de literatura concentram seus esforços em best-sellers e livros de auto-ajuda ou modismos ou livros de figuras, para centro de mesa, do tipo "Almanaque daquilo", "O livro de ouro de tal coisa", etcetera e tal. A ficção científica, que eu admiro tanto, não existe no Brasil, como literatura e mercado, pelo simples fato de no Brasil ninguém ligar para ciência.

Assim, vi muito e comprei pouco, e não apenas por conta dos preços. Melhor gastar meu dinheirinho na Amazon (olha uma possibilidade d'eu faturar com propaganda...).

Quanto ao presidente, foi uma grata surpresa. Nunca o tinha visto discursar e, bem, o homem é um showman, que sabe o seu ofício. Antes dele, falaram vários dignatários, inclusive um reitor universitário (responsável pela tradução de um dos livros que comprei na Bienal) - que leu um discurso longo e se atrapalhou com o texto diversas vezes, chegando a criar o termo "células-tranco" - e, de longe, o melhor discurso, informal, focado, bem humorado e tocando nos pontos importantes para a audiência, foi o do presidente. Ao meu lado, um operário - com capacete, macacão e suor - resumiu direitinho o que vimos: "o Lula é foda!".

Dessas duas experiências fico com uma certeza: entre intelectuais e 'burgueses' (eita termo mais feio - fazer o quê? não consigo pensar em outro), que lêem - mal - para talvez ter um pouquinho de idéias, e a espontaneidade do povo, fico com a última.

(imagem: Coroação da virgem, quadro do pintor espanhol Diego Velázquez - século XVII - apresentando Maria, a mãe de Cristo, que segundo o grande escritor Augusto Cury - "seus livros já venderam mais de 5 milhões de exemplares no Brasil" - foi a maior educadora da história)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Visão do paraíso


Em tempos de Olimpíada, acho curioso que os brasileiros se decepcionem com o desempenho dos seus conterrâneos: parece que nunca pararam para pensar que o Brasil é um país de periferia, com uma população majoritariamente pobre e uma elite muito, muito ruim, em todos os sentidos.

Para mim, a síntese desse país é o Rio: paisagem maravilhosa, Zona Sul e favelas, lado a lado, com a bandidagem abastecendo - e abastecida pelos - 'burgueses'. Numa palavra, mutualismo, ou "relação de interdependência entre espécies". São Paulo é igual, igual, só que com uma geografia diferente.

E, no entanto, acho que se fizerem uma pesquisa, hoje, haverá muita gente - a maioria - dizendo que o Brasil é um paraíso, "abençoado por Deus e bonito por natureza". Assim seja.

(imagem: O jardim do Éden, pintura de Thomas Cole, século XIX)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Gnarls Barkley

E já que é para falar de música, "quem vai salvar minha alma?"



O diálogo que aparece nesse vídeo surreal não poderia ser mais... realista.

CSS

Houve um tempo em que a música era minha companhia, "my hot, hot sex". Hoje, por um momento breve, redescobri essa alegria: eu queria mesmo era ser alguém como esse pessoal do Cansei de Ser Sexy...



And I think I would like to be off the hook...

sábado, 16 de agosto de 2008

Aula


No final de semana passado fui à Juréia. Para ser mais exato, fui ao Núcleo Arpoador da Estação Ecológica Juréia Itatins, em Peruíbe, litoral sul de São Paulo.

Chuva, chuva e muitos passos depois - com direito a subidas e descidas em morros bem inclinados, acompanhados por uma exuberante mata atlântica - chegamos a um lugar chamado Parnapoa, onde havia uma escolinha abandonada...

Foi uma aula maravilhosa sobre sucessão ecológica, "nome dado à seqüência de comunidades, desde a colonização até a comunidade clímax para determinado ecossistema". A praia nua seguida por gramíneas, arbustos e finalmente a floresta, se sucedendo no espaço como sinal de sua seqüência no tempo.

E não foi tudo: no caminho encontramos vários bichos mortos - a ossada de um pingüim, outra de outra ave marinha grande (albatroz, atobá, gaivotão?), a ossada de um mero, o crânio de um boto, e várias tartarugas mortas por ficarem presas numa rede de pesca. Morte falando da diversidade da vida. E ainda houve uma ida, de barco, ao mangue...

Fiquei com a visão nítida de que o mundo em si pode ser uma ótima escola, que não vale a pena abandonar.

(imagem: foto que eu tirei, e que acho que serve para mostrar que uma praia vazia em dia de chuva é, em geral, melhor que São Paulo num dia de sol)

Alice


Há uma pasagem no livro "Através do Espelho", em que a personagem Alice anda em um jardim de flores vivas e acaba por encontrar a Rainha Vermelha (uma peça de xadrez), que a fez correr com ela. Entretanto, depois da corrida, Alice se espanta:
""Ora, eu diria que ficamos sob esta árvore o tempo todo! Tudo está exatamente como era!"
"Claro que está", disse a Rainha, "esperava outra coisa?"
"Bem, na nossa terra", disse Alice, ainda arfando um pouco, "geralmente você chegaria em algum outro lugar... se corresse muito rápido por um longo tempo, como fizemos."
"Que terra mais pachorrenta!", comentou a Rainha. "Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais rápido que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido!""

Bem, tal passagem (que eu copiei da tradução brasileira do livro "Alice- edição comentada", de Martin Gardner) serviu de base para o nome de uma idéia da biologia: a "hipótese da Rainha Vermelha", que, de forma simplificada, pode ser descrita como dizendo que existe uma corrida evolutiva sem fim. No caso de parasitas isso significa que eles e seus alvos mudam - evoluem - o tempo todo, um para escapar do outro, mas ambos continuam juntos, como se corressem sem sair do lugar. Bactérias resistentes a quase tudo (a revista New Yorker publicou recentemente um texto com o título "Superbugs - The new generation of resistant infections is almost impossible to treat", e o Brasil enfrenta problemas com uma micobactéria) parecem ser bons exemplos dessa hipótese: nós inventamos medicamentos, elas desenvolvem defesas - e a corrida continua.

Enfim, acho que a mensagem é essa: evoluir é preciso, mesmo que não se saia do lugar. Mas eu, pessoalmente, prefiro viajar de verdade, nem que seja de vez em quando, nem que seja sentado defronte à minha tela de computador: navegar é preciso, viver, não.

(imagem: uma rainha do jogo de xadrez, o mais nobre dos esportes - tem reis e rainhas - e que, injustamente, não é lembrado em tempos de Olimpíada)

domingo, 3 de agosto de 2008

Os condenados


Fui a Franco da Rocha, no final de semana passado, para visitar uma mancha de cerrado que faz parte de um parque estadual. Lá vi muita vida que a cidade de São Paulo não sabe que existe: aves, répteis, verde, verde e verde... Mares de capim, com ondas e o rastro dos barcos que por lá passaram. E no meio de tudo a transição fantástica de clima gerada por um rio e as árvores que o cercam. Um outro mundo, a menos de uma hora de minha casa.

São Paulo é, em minhas memórias, uma cidade sem estrelas e, agora, por comparação, uma cidade sem vida. Pessoas, sim, muitas, mas acho que todas como eu - merecendo pêsames.

(imagem: São Paulo, "um lugar original")

Oxford Advanced Learner's Dictionary


Comprei uma TV nova. Na verdade, duas, para substitutir os aparelhinhos de 14 polegadas que me acompanham há anos. Uma das TVs velhinhas agora fica aqui, ao lado do computador, de modo que posso acompanhar - com bastante chiado - o jogo de futebol do domingo ao mesmo tempo em que navego na rede.

Não sei se isso irá melhorar ou piorar minhas postagens, mas ao menos acho que vai servir para afastar um pouco o silêncio e o frio que teimam em permanecer neste escritório: mais iluminada e quente, só uma lareira...

Assim funciona o mundo: eu comprei uma TV, para usar como lareira, quando eu precisava
mesmo era de algo para aquecer meu coração. Enfim, talvez a frase que me descreve, nesse caso, fique melhor em inglês, tal como encontro no meu dicionário: a fire burning in the heart, longing for a hearth and a home.

(imagem: uma lareira, em ilustração do século XIV, segundo a wikipedia)