sábado, 29 de maio de 2010

A insustentável leveza do ser

Este blog esteve fechado, por razões pessoais, nos últimos vinte e poucos dias. Para fazê-lo voltar a funcionar tive que impor regras novas para os comentários - eles agora só serão publicados depois de minha aprovação. Viver, especialmente em público, é complicado, perigoso, exigindo certos cuidados que eu não tinha tomado, por preguiça ou excesso de otimismo. Não posso ter esses luxos.

Enfim, devo voltar a escrever, e para isso retorno ao meu teclado com a cópia de um trecho retirado de uma edição antiga de "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera, da finada Editora Rio Gráfica, livro que eu comprei em uma banca de revistas em 1986, e que hoje tem páginas amareladas, envelhecidas como eu:
"Ao contrário de Parmênides, Beethoven considerava o peso como algo de positivo. "Der schwer gefasste Entschluss", a decisão gravemente pesada está associada à voz do Destino ("Es muss sein!"); o peso, a necessidade e o valor são três noções íntima e profundamente ligadas: só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.
Essa convicção nasce da música de Beethoven, se bem que seja possível (ou talvez provável) que ela seja mais da responsabilidade dos exegetas de Beethoven do que do próprio compositor; todos nós a compartilhamos de uma certa forma hoje em dia: para nós, o que faz a grandeza de um homem é ele carregar seu destino como Atlas carregava sobre os ombros a abóbada celeste. O herói de Beethoven é um halterofilista que levanta pesos metafísicos." 
Atlas eu também, carrego meu destino, minha história pesa sobre meus ombros como o céu, e eu não me sinto nenhum herói. Sinto sim outra coisa: debaixo do céu parece que, finalmente, encontrei meu lugar, e me vejo escrevendo minha história, o que embora canse, me faz feliz...

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