quarta-feira, 2 de junho de 2010

The boney king of nowhere

Ontem fui a uma mesa redonda em que dois filósofos da ciência falaram sobre suas idéias e experiências pessoais. Um deles me assombrou, ao se dirigir aos alunos, dizendo que "a felicidade está fora da academia, nos amigos, na família".

Acho que não entendo nada de felicidade, nem de amigos ou de família. Hoje, não sei se conheço tais coisas. No frio desta manhã, parece que só existe a solidão, me envolvendo como um oceano, desde sempre, para sempre.

Há cerca de um ano fui a um show do Radiohead sozinho. Foi provavelmente o melhor espetáculo musical que eu já assisti, mas faltou algo: alguém do meu lado (e eu estava esmagado no meio de uma multidão). E hoje pela manhã, ao estacionar o carro no pátio do meu local de trabalho, fiquei uns minutos a mais, com o carro desligado, só para terminar de ouvir "There There", enquanto eu observava as nuvens correndo por sobre os prédios:
in pitch dark i go walking in your landscape.
broken branches trip me as i speak.
just because you feel it doesnt mean it's there.
just because you feel it doesnt mean it's there.

there's always a siren
singing you to shipwreck.
(don't reach out, don't reach out)
steer away from these rocks
we'd be a walking disaster.
(don't reach out, don't reach out)

just because you feel it doesn't mean it's there.
(there's someone on your shoulder)
just because you feel it doesn't mean it's there.
(there's someone on your shoulder)

there there

why so green and lonely?
heaven sent you to me.

we are accidents
waiting waiting to happen.

we are accidents
waiting waiting to happen.
Até ontem, eu pensava que havia caído em meu colo, por puro acidente, um tesouro, brilhante como o Sol, enviado para mim talvez diretamente das mãos de Deus, mas me esqueci que sempre há nuvens: o que resta, hoje, é o vazio de eras passadas, que acho que vai persistir até que eu me dissolva na Terra. Acho que foi ontem, quando me botaram na rua, que me disseram que eu sou um príncipe. Não, não mesmo: eu sou um saco de ossos ambulante, rei de lugar nenhum...

É: eu ainda posso dizer, como na canção, "Nós somos acidentes esperando para acontecer", mas creio que eu vou ter que esperar um bocado mais - e é bem provável que nada aconteça.

Me resta a academia.

5 comentários:

André Procópio disse...

tenho algo pela academia, a vejo como um lugar de fuga, um refúgio. Não conheço outro espaço atualmente, onde se pode debater certos assuntos, poder se aprofundar neles, e ainda por cima não ser mal visto por isso. Fico desesperado pelas pessoas que "desperdiçam" as possibilidades que a universidade proporciona, a maioria quer ter um bom diploma para um bom emprego (apenas). Mas, dizer o que os outros devem fazer não é algo que me orgulho.

Li alguns publicações, parece bacana.

L. Felipe Benites disse...

Ah... esperaca ansiosamente o retorno de seus textos. Acho que todo dia olhava, até que desisti. Mas ainda bem que voltastes...
Acho que entendo, talvez o que você diz.
Um Grande abraço.

tainah disse...

Olá! Vim pra agradecer pelo comentário delicado no blog e fiquei feliz demais com o que li, essas canções do radiohead inesquecíveis e que dizem tanto, e suas impressões sobre ela e o que vem junto. Ótima essa parte dos blogs que querem dizer encontro com outras palavras!
Abraço!

Anônimo disse...

Oi Dedalus,

Que bom que está de volta!

E não dê ouvidos a filósofos não... são todos meio malucos.

KNX

Dedalus disse...

Caro André Procópio,

O problema com a academia é a relação dela com a ciência, que aparece numa frase de Einstein: "science is a wonderful thing if one does not have to earn one's living at it"...

Caro L. Felipe A.,

Eu tive que me ausentar por um tempo e me esconder debaixo da cama, mas não dá para ficar lá para sempre. Agradeço muito por seu comentário, que me soa como um grande elogio.

Cara Tainah,

Escrever é uma atividade solitária, mas viver não precisa ser: as palavras podem muito bem servir como pontes, onde a gente pode se encontrar nem que seja só para ver as águas do tempo passarem... (e seu blog é uma belezura só!)

Caro KNX,

Os filósofos são todos meio malucos? Acho que você não conhece bem os físicos...

Um abraço a todos!

PS: e mil desculpas pela demora em responder seus comentários - o Blogger parou de me alertar de que havia comentários para liberar...