sábado, 9 de outubro de 2010

Publicar e perecer


A relatividade geral, teoria elaborada por Albert Einstein, está prestes a fazer cem anos. Quase cem anos, e eu ainda a estudo com admiração.

É bastante possível que em cinquenta anos eu esteja morto. E que daqui a cem anos estejam mortos os que tiveram lembranças de mim. Antes de tudo isso, porém, o mais provável é que tudo que eu escrevi - poemas, textos soltos, este blog, artigos científicos - já tenha sido esquecido e apagado.

Na academia, o lema é publicar ou perecer: e assim pilhas de palavras, gráficos e equações são produzidas apenas para aumentar a quantidade das coisas que irão, rapidamente, para o lixo da história, inflando por algum tempo o ego e a reputação local de alguns. Meus colegas cientistas contemporâneos são todos mais produtivos e de maior reputação científica que eu. No entanto, duvido que daqui a cem anos algo que algum deles - e que eu - tenha publicado até hoje venha a ser lembrado...

Pois é, não quero entender como tanta energia pode ser gasta em tanto trabalho vazio: acho mesmo que eu já deveria estar no lixo. Só que, enquanto isso não acontece, irracionalmente continuo produzindo textos vazios como estes.

(imagem: as árvores produzem folhas, elas caem ao solo e novas crescem para que a árvore sobreviva e cresça - será assim a ciência? O título desta postagem vem de um livro onde há um personagem que, à beira da morte, pensa: "This can't be happening to me. I've got tenure.")

3 comentários:

Anônimo disse...

Estimado Dedalus,

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Os trabalhos publicados provavelmente se distribuem em uma guassiana, com a maioria sendo medíocre, alguns verdadeiros lixos, e alguns realmente bons. Perecer é um fato consumado... mas pelo menos podemos deixar de nos auto iludirmos a respeito da academia. Aliás, a ciência é ótima, mas os cientistas... e os filósofos... Se tiver estômago para uma crítica mordaz sobre tudo isso, segue o link abaixo.

http://condor.wesleyan.edu/courses/2006s/soc244/Bourdieu-Specificity%20of%20the%20Scientific%20Field.pdf

Abraços, KNX.

Anônimo disse...

Assim como em todo grande sistema, na Academia também se encontram oportunistas e aproveitadores vivendo nos espaços vazios da estrutura que o sistema cria para se sustentar. Nem por isso deixa de ser triste, muito triste, vermos oportunistas usando a ciência para inflarem seu ego e sua vaidade e aproveitarem da condição social que o status de cientista lhes proporciona.

Ass: Maria

Dedalus disse...

Caro KNX,

É uma gaussiana, e não há pontos fora da curva; tudo cabe numa só moda, estatisticamente falando.

Cara Maria,

Como se diz no Eclesiastes: vaidade de vaidades, tudo é vaidade!

Um abraço!