
Durante algum tempo vivi nas redondezas da Avenida Paulista. Era comum que eu fosse ao cinema ao menos uma vez por semana. Hoje, fazem quase seis anos que eu não ponho os pés numa sala de cinema. Ganhei dois ingressos do jornal que assino e não sei se vou usá-los.
Hoje, eu não ouço rádio, e meu carro só tem um buraco no painel: eu tinha um toca-fitas, e ele foi roubado. Quase nunca senti sua falta.
Também não me lembro quando foi a última vez em que fui ao teatro.
Eu era assinante de uma revista de música, de quem ganhei até um conjunto de LPs, num concurso. Mas o último CD que comprei ("Hail to the Thief") foi numa banca de usados, há meses, talvez há mais de um ano. E eu não baixo músicas ilegalmente da internet.
Filmes, música, teatro: dá para viver - bem? - sem tudo isso. Quando eu olho nos cadernos de cultura dos jornais ou vejo reportagens sobre as novas estréias do cinema, tudo me parece tão tedioso, tão repetitivo, inútil. É tudo como os zilhões de canais da TV a cabo: tudo do mesmo, tudo sem muita qualidade, feito apenas para entreter, não para adicionar, como as mil comédias do teatro brasileiro, mil versões com nomes diferentes de "Sai de Baixo", feitas para um público que, mesmo assim, ri. Filmes de terror japoneses, remontados em Hollywood, para os adolescentes da classe média do mundo, tal como Linkin Park, Backstreet Boys e Iron Maiden, Babado Novo e Ivete Sangalo, Max de Castro e Ana Carolina, são todos, para mim, versões diferentes do mesmo.
É, acho que fiquei velho: não vejo nada de novo sob o sol. Ou será que foi o mundo que envelheceu? Mais uma vez, não tenho respostas, só tenho meus olhos e um punhado de tempo para matar entre uma barca e outra...
(imagem: "For everything there's a season", ou, de forma mais sonora, há uma versão no YouTube...)