sábado, 26 de julho de 2008
As cidades invisíveis
De Juiz de Fora fui a Três Corações e, no caminho, passei por uma miríade de cidadezinhas que o resto do mundo não deve saber que existem, todas enquadradas pelo céu azul e vigiadas por uma imóvel platéia de montanhas e morros.
No meio de um desses nadas, um homem apareceu correndo na beira da estrada, pedindo com gestos que eu parasse. Parei, e o que ele queria era uma carona até a casa dele, alguns quilômetros à frente: "aqui não passa ônibus, não". Pouco antes de chegarmos a Liberdade, ele me apontou uma casa de fazenda com paredes brancas: "se o senhor passar por aqui de novo e quiser comprar uns queijos é só falar com o rapaz dessa casa, que faz os melhores queijos da região."
Quilômetros adiante, fiquei condoído com uma família, pai, mãe e filho, pedindo carona e os levei comigo até o meu destino, Três Corações, que por puro acaso era o mesmo deles, o que me fez pensar que embora o mundo seja grande, seus caminhos são poucos...
Já em Três Corações, fui almoçar, a convite, num lugar chamado "Venda do Chico", na beira da Rodovia Fernão Dias, com pratos de metal, lingüiça frita, couve, frango, e café servido num bule, cercado de vozes falando a mesma língua que eu mas com outro tom, outra harmonia - "nóo!" Com Varginha e São Tomé das Letras ali do lado, fiquei realmente pensando que aquele poderia ser outro mundo. No entanto, fui logo alertado de que era o mesmo: no almoço, todos preocupados com a "lei seca", não bebemos mais que um copo de cerveja - a estrada nos esperava.
É, talvez eu deva voltar aqui, em busca de Liberdade, queijos, o cheiro de café, ou de alguma outra coisa intangível desta Terra de cidades em torrentes, e de sutilezas que jamais serei capaz de descrever...
(imagem: mapa mundi de Fra Mauro (século XV), provavelmente influenciado pela viagem de Marco Polo, que inspirou um mundo de viajantes, incluindo Ítalo Calvino...)
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