segunda-feira, 7 de julho de 2008
A volta ao mundo em oitenta dias
1. Já é o quarto hotel em oito dias, em três estados diferentes. Viajei de avião, ônibus, metrô, táxi e em meu carro. Me sinto um pouco como Passepartout, seguindo atônito um Phileas Fogg que mal tem tempo para pensar. Só que eu, ao contrário dos personagens de Julio Verne, cheguei a perder um dia: um evento que eu jurava que começaria hoje, segunda, na verdade começou ontem, domingo...
2. Em João Pessoa peguei dois dias seguidos de muita chuva. Ao primeiro sinal do sol fui andar, a esmo, sem me preocupar com atividades turísticas, apenas para me sentir vivo. Funcionou, ao menos para mim. Ouvi duas vezes (de um taxista, que a contou de um jeito, e de um colega, que a contou de outro jeito) a estória de uma participante do congresso que foi assaltada (no bairro do Bessa) e, ao resistir, ganhou uma passagem pelo hospital.
3. Ida e volta, passei por Recife. Eu já tinha feito isso antes, dez anos atrás, também por causa de uma viagem à João Pessoa. Achei a cidade feia, suja, confusa. Agora, uma ida de metrô da rodoviária (ou TIP, como eles dizem lá) até o bairro de meu hotel me deixou estupefato pela visão da pobreza, que se espraia em todas as direções. Na saída da estação, perguntei a uma moça na bilheteria como ir até o hotel, e ela, arregalando os olhos, me disse para eu ter muito cuidado e pegar um ônibus no ponto mais próximo da estação, pois táxi ali nem pensar. No ponto, ao lado de uma barraquinha que vendia sucos e refrigerantes, mas que não tinha garrafas d'água, uma senhora me recomendou para ficar bem pertinho da barraca e esconder um pouco a mala. No hotel, em Boa Viagem, o recepcionista disse que o shopping era próximo e que dava para ir a pé (na verdade, eram só três quarteirões de distância), mas me aconselhou a deixar qualquer coisa de valor no hotel (correntinhas, por exemplo) e a voltar de táxi. Conclusão: Recife não é Veneza, mas é mesmo bem brasileira.
4. E agora, depois de breve estada em São Paulo, eis-me em Juiz de Fora. A cidade é muito maior do que eu imaginava, mas a rodovia para cá (Rodovia do Aço, que passa por Volta Redonda) é muito menor; por conta disso, gastei nove horas no trajeto. Encontro rostos e sorrisos conhecidos, e espero que bons amigos: talvez eu volte para cá, para outro almoço no Berttu's.
5. Enfim, resumindo tudo, não creio que haja alguma lição a se tirar dessas minhas viagens. São apenas isso, viagens feitas por alguém que pode fazê-las, e que, embora tenham me levado a muitos lugares, não me levaram a lugar nenhum; ainda estou preso a mim mesmo, e não poderia ser de outro modo.
6. Também não há muito o que se esperar dessas notas de viagem. Elas são só isso, notas de viagem, feitas num frio quarto de hotel, por mãos ociosas, movidas por uma mente cheia de idéias vazias, e filhas de uma alma perdida.
7. Tá bom - eis uma moral: o mundo é imenso, e pode ser incomensuravelmente belo, mas não entrega sua beleza sem esforço, e sem cobrar algo em troca. E a maior beleza, em geral, por mais paradoxal que seja, só pode ser vislumbrada, e foge rápido quanto se tenta agarrá-la.
(imagem: uma ilustração francesa, do século XIX, para o livro de Julio Verne)
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2 comentários:
AH, não teve viagem de balão??
Sabe adoro as aventuras de Julio Verne..
Fico a imaginar como seria se ele tivesse escrito uma viagem por aqui..
abraços
Cara Beatriz,
A minha viagem num balão foi noutra época, e eu escrevi sobre ela em julho do ano passado, num post chamado "As aventuras do Barão de Munchhausen". Não sei se Julio Verne escreveu algo sobre uma viagem ao Brasil, mas sei que o pessoal ligado ao Monty Python já fez isso, em dois filmes: "As aventuras de Erik, o viking" e, é claro, "Brazil, o filme" - os dois valem a pena!
Um abraço!
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