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Domingão é dia de almoço na casa dos meus pais. Lá sempre tem o Estadão, que geralmente me diverte muito. Hoje, por exemplo, fiquei sabendo que morre 1,3 motoboy por dia em São Paulo. Ou que 12% dos cremes e condicionadores pós-banho do mundo são vendidos no Brasil. Ou ainda que 98% das mulheres brasileiras usa ou usou recentemente tinturas para o cabelo. Que uma menina de cinco anos, trabalhando como modelo, consegue ganhar até 15 mil reais por mês, e que a mãe de uma dessas misses infantis confessa que a filha não sai de casa sem retocar o gloss. Espantado, eu nem consegui chegar na parte de resenhas literárias, que é o melhor do jornal de domingo...
Durante o almoço, eu fiquei me perguntando: quem precisa tanto de motoboys? Na história de um dos rapazes mortos li que ele largara um emprego fixo por ganhar mais como motoboy. Será que valeu a pena, no final?
Outra pergunta: quem consome tanto creme e tintura? Será que são aquelas mesmas pessoas que não lêem porque o preço dos livros é alto demais? Bem, eu deixei de ser farmacêutico-bioquímico em parte por odiar fabricar e vender cosméticos, que sempre achei em sua imensa maioria, fúteis e desnecessários. Parece que me falta sensibilidade.
E, enfim, o que é gloss?
Comi a sobremesa concluindo que o fútil e desnecessário, no fim, sou eu, com essas perguntas inúteis.
(imagem: um tubo de rímel, que lá fora, em inglês e francês, é conhecido pelo nome - mais apropriado? - de mascara; segundo a wikipedia em português - não achei a definição de gloss lá - esse produto é "utilizado especialmente pelo sexo feminino, tendo como finalidade de valorizar o olhar e também proporcionar um visual sofisticado e requintado".)