sexta-feira, 10 de abril de 2009

1001 filmes para ver antes de morrer


E, com algum tempo livre, mais zilhares de canais na TV a cabo, acabei por ver alguns filmes legais, quase que de uma tacada só. Num único final de semana vi, quase que em seqüência, "Na natureza selvagem", "Onde os fracos não têm vez" e "Tropa de elite", além de uma ficção científica bem fraquinha e cheia de clichês chamada "Serenity".

Fiquei apaixonado pela coragem do protagonista de "Na natureza selvagem", que abandonou tudo para viajar. Quantas vezes eu não quis fazer isso? E ir parar no meio do Alasca como ele fez foi de uma burrice quase insuperável... Por conta disso, o rapaz da história, Christopher McCandless, é um anti-herói. Palmas para o autor do livro, o escritor/jornalista Jon Krakauer (recomendo muito a leitura do artigo original dele sobre o caso, "Death of an innocent").

Em "Onde os fracos não têm vez", a conversa era outra, e era a mesma: um mundo selvagem onde um animal pode liquidar outro num instante. E o protagonista do filme, Llewelyn Moss, mistura também coragem e estupidez em doses cavalares. Palmas para os roteiristas.

Já em "Tropa de elite" o que eu vi foi - ei, de novo! - coragem e estupidez: a coragem do pessoal do BOPE e a estupidez da sociedade brasileira que mantém esse estado de coisas, essa guerra entre traficantes e policiais, tudo em benefício de uns Johnny's da zona sul, que não existem só no Rio... Palmas para ninguém ou, talvez, para o Capitão Nascimento, fascista ou não.

Nessa salada toda, para mim o único herói autêntico que vi foi o matador Anton Chigurh de "Onde os fracos não têm vez": no fim ele sobrevive e faz imperar sua vontade, preocupado apenas em ser "competente" e "produtivo" a seu modo, na sua profissão. Mundo esquisito esse do cinema moderno: não é mesmo uma terra para velhos como eu...

(imagem: um ônibus mágico na natureza selvagem - "Every day I get in the queue (Too much, the Magic Bus) To get on the bus that takes me to you (Too much, the Magic Bus)" (para quem não sabe, isso é um trecho de "Magic Bus", do The Who))

5 comentários:

Ruth Mendes disse...

Dedalus,
analisando esses três filmes, percebo que os personagens principais têm algo em comum. Por razões diversas eles passam por um mesmo processo:desumanização.O personagem de "Na vida selvagem" vai perdendo sua humanidade enquanto se isola e mergulha na natureza.Os personagens de "Tropa de Elite" e "Onde os fracos não tem vez" estão mergulhados na "selva de pedra". Vivem no mundo civilizado mas se afastam cada vez mais dele, na medida que não se comportam como humanos e não estão nem ai para a lei.
Um abraço.
Ruth

Dedalus disse...

Cara Ruth,

Mas os personagens de "Na vida selvagem" e "Tropa de elite" são baseados em personagens da vida real, descritos em livros. Ou seja, são praticamente pessoas reais. O que você me diz é que pessoas reais se desumanizam facilmente? Sei não: será que eu posso considerar mais humano e civilizado que esses personagens o cara que vejo todos os dias e que nunca me falou algo mais do que um "bom dia"? O que é, afinal, ser desumano? Boas dúvidas que você me põe, Ruth!

Um abraço!

Ruth Mendes disse...

Dedalus,
entre os filósofos parece existir um consenso(coisa rara) de que a ação, especificamente humana, está voltada para si mesmo(emoções)para o outro(moral)e para o mundo(trabalho, criação, conhecimento). O personagem do filme: "Na natureza selvagem" desistiu de qualquer ação, certo?Só quer morrer. O que dsumaniza o capitão Nascimento é a sua relação com os outros. Voltada para a destruição. Escolheu o caminho "imoral" para lutar contra a corrupção da polícia e lidar com os bandidos.

Um abraço
Ruth

Dedalus disse...

Cara Ruth,

Obrigado pela citação das qualidades de ações humanas, que eu não conhecia. Vou pensar bastante no assunto, mesmo. No entanto, não sei se o rapaz de "Na natureza selvagem" queria mesmo morrer, pelo menos conscientemente. Ele parecia não querer agir para os outros e para o mundo, ou seja, ele parecia não gostar de interagir com a sociedade humana.

Um abraço!

Ruth Mendes disse...

Dedalus,
sim, era um desejo inconsciente.Não existe possibilidade de vida humana fora da sociedade. A situação de isolamento total é uma espécie de suicídio.Veja o caso do personagem do filme: "Náufrago".É a situção contrária.Viver sozinho na ilha foi um verdadeiro inferno. Ele encontrou dificuldade de todo tipo.Mas a partir de sua capacidade de criar(calendários, jangadas e cálculos)ele conseguiu sair da ilha.

Um abraço.
Ruth