sábado, 1 de maio de 2010

Sobre o amor e a morte


Acabo de chegar do cinema, onde vi uma comédia de Woody Allen. O personagem central do filme é um físico, eu também. O personagem central do filme tenta se matar - mais de uma vez - e, se tivesse uma arma aqui nessa casa, agora, ah!

Morrer. Morrer. Morrer. Não consigo parar de pensar nisso. O meu fluxo de pensamento vai a outras regiões e, invariavelmente, volta a isso.

Razões? Nenhuma, assim como não há nenhuma para eu estar aqui. Mas posso tentar argumentar com o que vi no filme, que é uma comédia agradável sobre relacionamentos, um bando deles. E como em todo filme agradável tudo acaba bem, pois, afinal, ninguém (bem, quase ninguém) vai ao cinema para sair com um gosto ruim na boca.

Mas, obviamente, é tudo uma bobagem enorme: toda essa coisa de relacionamentos humanos é uma merda, que só aparece de forma realista no cinema em raríssimas ocasiões. Deixa eu me explicar melhor: como físico, eu sei que a existência de simetrias é importante; no entanto, embora possam existir simetrias ideais e bonitinhas na natureza, as que existem mesmo, em geral, são feias, quebradas, quase não-simetrias. No relacionamento humano é a mesma coisa: nos filmes e livros pode-se imaginar relacionamentos simétricos, bonitos, regulares, mas o que há no mundo do lado de cá das páginas e telas é algo completamente diferente, quase sempre assimétrico - os lados de um casal quase nunca sentem o mesmo igualmente; um deles está sempre numa posição "superior" e aí pobre de quem é o "inferior".

Por isso tudo, amar e buscar relacionamentos é algo infeliz, estúpido e doentio, mas, felizmente, é uma doença que se cura com a morte (ou assim espero).

Ah! se tivesse um revólver nessa casa, ou se fosse um prédio, não uma casa... Eu sei que, de verdade, eu queria outra coisa, mas o que me resta, hoje, é só querer morrer. E nem isso eu vou conseguir, pelo menos não agora: hoje, eu sofro de um desejo absurdo de amar, que eu sei que não vai ser satisfeito, ficando no lugar dele esse desejo maravilhoso de morrer, que a minha covardia me impede de saciar.

(imagem: há um filme de Woody Allen, de 1975, cujo título original em inglês é "Love and Death" [Amor e Morte], onde aparece o diálogo "Sonja: You were my one great love. Boris: Oh, thank you very much. I appreciate that. Now, if you'll excuse me, I'm dead" [Sonja: Você foi meu único grande amor. Boris: Oh, muito obrigado. Gostei disso. Agora, me desculpe, eu estou morto], mas o título dessa postagem vem também de outro lugar; a foto de Woody Allen saiu da premiére de "Whatever Works", o filme que eu assisti hoje)

2 comentários:

Anônimo disse...

Aposto que vc leu Werther recenentemente.

Dedalus disse...

Caro Anônimo,

Não, mesmo. Ontem eu reli Rilke, terminei um livro de contos de ficção científica e recomecei a ler Joyce. Goethe só apareceu, de passagem, num conto: "Wer nicht vorwärts geht, der kommt zurücke".

Um abraço!