quarta-feira, 13 de junho de 2007

Contingência, ironia e solidariedade

Fazendo compras no Wal Mart encontrei numa banca de ofertas um livro ilustrado sobre as viagens de Marco Polo por menos de dez reais. Impossível não comprá-lo mesmo tendo dúzias de outros livros para ler.

No entanto, ao ler as descrições da China antiga e ver os desenhos do livro, o que me veio à mente foram outras viagens em outros livros: a literatura - e, é claro, a filosofia - são só isso mesmo, coleções de descrições de viagens imaginárias, mesmo que baseadas na realidade.

Uma cidade visitada, uma paisagem vista, não são nada diferentes de idéias que surgem na alma, de sonhos que se tem ao dormir, de textos escritos com uma linguagem não-escrita. A realidade, para todos os termos práticos, em tudo que importa, é só uma construção com uma certa sintaxe.

E as imagens que temos sobre o mundo são isso: frases que eu leio com os meus olhos de hoje de modo diverso ao que vi com os meus olhos de ontem, e que entenderei e descreverei de modo diferente amanhã. Quanto aos outros homens, então, pouco posso dizer: são outros mundos, distantes... Mas no meu isolamento, só reconheço a miséria humana, e me solidarizo com todos - por mais irônico que me pareça, hoje, invejo os que acabaram de morrer: a mortalidade é uma bênção que ainda não me alcançou em cheio.

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