quarta-feira, 13 de junho de 2007

Lithium

Nos últimos meses, o vento se apresenta ruidosamente nas janelas ao meu redor. A cidade está logo ali, do outro lado do vidro, mas eu estou longe demais dela, com meus ossos doendo sob o abraço constante de um frio que parece interminável.

Fico sozinho e em silêncio agora quase todos os dias. Quando quero companhia humana, ligo a TV nem que seja para ver e ouvir bobagens. Ontem, por exemplo perdi alguns momentos vendo um filme desconhecido, que depois descobri ter sido julgado impiedosamente como "a horrible little movie about a high school ancient history class". No entanto, por uns instantes ele foi para mim uma boa companhia, melhor do que a das paredes brancas de meu apartamento vazio.

O problema maior do silêncio e da solidão é que eles forçam à reflexão. Nesse filme, por exemplo, eu achei um espelho, que me seguiu até a manhã de hoje. Numa cena, um ex-professor, que havia acabado de dar a um antigo aluno um pequeno sermão sobre virtudes, recebe uma resposta do tipo "Quem dá a mínima para isso?". Tal frase ecoou profundamente em meu apartamento e ressoando se fixou em meu crânio.

Na cama, à noite, eu ainda podia ouvir a redescoberta silenciosa que tais palavras me trouxeram: eu sou nada. Aos quarenta anos, eu sou nada. Portanto, nunca serei nada. No entanto, "quem dá a mínima para isso?" Eu viajei muito, vi diferentes terras e paisagens, só para chegar em casa e encontrar uma terra arrasada e infértil, jazendo sobre os meus ombros. Agora é tarde, mas só agora descobri que meu talento é nenhum.

Sou um professor ridículo, de um filme de quinta categoria, que ninguém viu, e que escreve em silêncio palavras que ninguém lê. Meu trabalho, meu destino, é esse: semear no vazio para colher o vento. E ainda estou no outono: o inverno parece que vai ser longo. Mil aulas inúteis ainda me esperam, de segunda a sexta, quase todas as noites.

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