domingo, 17 de junho de 2007

Leviatã

Hoje, parece que quem quer conhecer o mundo não precisa sair de casa: mesmo ignorando-se a internet, fantástica, onde quase tudo pode ser encontrado, pode-se apelar para a TV, que tem no mínimo uma dezena, quando não centenas, de canais jorrando informação a princípio vinda de toda parte.

No entanto, num domingo pela manhã, não foi isso que vi: num canal, a visão de soldados posando de heróis ao matarem inúmeros árabes; noutro, imagens de um esporte em que homens, em um campo verde riscado de números, corriam e se digladiavam violentamente, acho que atrás de uma coisa ovalada, que certamente não era uma bola; noutro, negros com correntes de ouro e óculos escuros e capuzes falavam num ritmo que eu não conseguia acompanhar; noutro, crimes encenados como diversão; noutro, anúncios intermináveis de traquitanas eletrônicas... De posse do controle remoto fui passando pelos mais de cinqüenta canais da minhaTV - a cabo - e naquela procissão de imagens vi uma só, um único monstro, falando uma única língua, uma única cultura, disforme, doente, um mosaico de violência, egoísmo e hedonismo.

Por um instante, acho que senti o terror que deve ter motivado alguns a jogar aviões e passageiros contra prédios, vendo neles não construções de aço e concreto onde viviam pessoas, mas uma encarnação real do - mal? não acho outra palavra - que vi na TV. O que eu vi, meu Deus?

Se a Estátua da Liberdade é símbolo de alguma coisa, hoje é disso: de algo que está em cada cidade, em cada lar, em cada tela quadrada desta nossa porção de mundo, milhões, bilhões de estátuas que, para o bem da humanidade, talvez devessem todas serem explodidas, derrubadas uma a uma, como símbolo da libertação de uma tirania. Mas que tirania! Doce enquanto cruel, e barulhenta enquanto silenciosa, e que promete o mundo mas entrega miragens entorpecedoras, vindas de um único deserto.

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