segunda-feira, 30 de junho de 2008
Simetria
Mais uma cidade, mais um congresso que já não sei se é o mesmo ou é outro. No programa aparecem dezessete apresentações só no primeiro dia, e são cinco dias...
Eu estive aqui há quase quinze anos atrás, e fiz alguns amigos, com os quais aluguei um carro. Um deles, argentino e carioca, ainda vejo em muitos encontros. Numa das últimas vezes em que o vi, no Rio, fui a uma pizzaria com ele e sua namorada, uma bela moça argentina que, curiosamente, uma das participantes do congresso de hoje me lembra bastante.
No final da tarde, a moça se apresenta: surpresa! Ela é argentina e a voz é quase a mesma da namorada do meu amigo. Parentes ou clones ou sou eu, por conta da idade, que estou vendo tudo igual?
Será assim comigo também? Serei eu a cópia de alguém ou, pior, um estereótipo? Me olho no espelho e espero que não haja outro como eu: ninguém merece tal destino...
(imagem: Alice atravessando o espelho, por John Tenniel)
Dicionário do viajante insólito
À minha frente, a mensagem não pode ser mais clara: "use o assento para flutuar". Acho que quando eu sair daqui, vou pedir para levar esse assento mágico comigo: quem sabe assim eu chego às nuvens...
(imagem: um tapete voador, do pintor russo Viktor Mikhailovich Vasnetsov)
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Cosmos
Quando criança eu não sabia o que eu queria ser. Ou melhor, sabia, mas daquele jeito de criança: eu queria ser um dos tripulantes da nave Enterprise, do seriado "Jornada nas Estrelas".
Mais recentemente, há cerca de seis meses, eu comprei uma casa, velha, e passei a mudar minhas velharias para lá. Na casa de meus pais ainda havia uma caixa com coisas minhas, entre as quais, para meu espanto, havia um caderno de minha 4a. série. Numa das páginas finais, eu li o que escrevi então: "eu não quero ser médico". Ou seja, com menos de dez anos, eu sabia o que não queria ser.
Nas caixas que acabei de abrir encontrei um livro que comprei com defeito - algumas das primeiras páginas em branco - no centro velho de São Paulo, numa livraria que acho que nem existe mais, quando eu tinha uns dezesseis anos (ou menos). Que livro? "Cosmos", de Carl Sagan. Passei noites de domingo acordado, esperando o final do Fantástico para acompanhar a série e viajar num dente de leão pelo universo!
Taí: Carl Sagan foi um cientista que marcou minha vida. Primeiro "Cosmos", depois "Os Dragões do Éden", depois o magnífico "O mundo assombrado pelos demônios"... Eu tenho o filme "Contato" em DVD, e o dei de presente para meu pai, o indico a meus alunos. E eu comprei a série Cosmos, lançada em banca de revistas como uma série de 5 DVDs, mas perdi um número: eis aí outras páginas em branco...
Não, eu não me esqueço das imagens quase surreais do universo, da comparação entre o nosso cérebro e o dos outros animais, da história da sobrevivência dos caranguejos com rostos nas costas, da simples idéia de que um dragão que não pode ser detectado, na verdade, não existe...
Hoje, dou palestras e aulas para lembrar as pessoas de que o universo é grande, e que pode haver muita vida por aí afora, e de que há muita vida ao nosso redor com a qual devemos ter cuidado, e acho que somando todos esses momentos eu não emano nem uma centelha da luz que Carl Sagan emanou.
Acho que se eu pudesse dar minha vida para que Carl Sagan continuasse a dele, o mundo dos homens sairia ganhando.
(imagem: o autor de "Cosmos"; essa postagem faz parte da blogagem coletiva “Um cientista na minha vida”, que você pode acompanhar, por exemplo, em Brontossauros em meu jardim e Rainha de Copas)
sábado, 14 de junho de 2008
Muito barulho por nada
Um punhado de palavras pode muito: destruir reputações, transtornar mentes, exaltar ânimos... E, no fundo, não é nada: só um punhado de palavras.
(imagem: primeira página da comédia de Shakespeare que dá nome a essa postagem)
domingo, 8 de junho de 2008
Nada de novo no front
Ontem estive num show de música. Acho que de duas uma: ou estou voltando a viver, ou voltando a perder tempo. Ainda não sei dizer ao certo o que está acontecendo.
De qualquer modo, era uma apresentação de conjuntos musicais de alunos de uma universidade pública. Seis horas e mais ou menos dez grupos depois eu fiquei com uma impressão vaga de que havia algo estranho. A Folha de São Paulo de hoje (na versão impressa) só me confirmou esse estranhamento: numa pesquisa o Datafolha constatou que "Sertanejo e MPB são estilos musicais mais ouvidos"; no entanto no show que assisti não havia nada disso.
Vamos lá: vi um grupo de punk-rock, um de classic rock ("The Blenders"), um de pop-rock ("Entropia"), um de punk-punk-mesmo ("Diarréia Brutal"), um de reggae ("Andame", sem um único componente negro ou sequer moreninho), um de roquinho brasileiro à la CPM22, um de roquinho de meninas ("Pandora", grupo feminino que eu fiquei sem saber se cantava em português, inglês ou russo), um de rock alternativo com toques de folk e MPB ("Comala"?) e outros poucos que não me lembro.
Bem, o que isso parece querer dizer? Eu arrisco que a mensagem é que numa universidade pública o povo, essa entidade abstrata e indefinida, não está. Ou seja, novidade nenhuma.
Quanto aos garotos que vi tocar, tocaram bem, em geral, como seria de se esperar de crianças saudáveis e bem criadas, imitando modelos direitinho. Tal como aquelas crianças que aparecem no programa "Raul Gil"...
Enfim, nada de novo no front, mas pelo menos serviu para me despertar a vontade de ver um documentário sobre o "Joy Division" (que nenhum dos grupos apresentou em seu repertório).
(imagem: foto de trincheiras na 1a. Guerra Mundial que, segundo a wikipedia, tem forte relação com as descrições do livro ''Nada de Novo no Front'')
De qualquer modo, era uma apresentação de conjuntos musicais de alunos de uma universidade pública. Seis horas e mais ou menos dez grupos depois eu fiquei com uma impressão vaga de que havia algo estranho. A Folha de São Paulo de hoje (na versão impressa) só me confirmou esse estranhamento: numa pesquisa o Datafolha constatou que "Sertanejo e MPB são estilos musicais mais ouvidos"; no entanto no show que assisti não havia nada disso.
Vamos lá: vi um grupo de punk-rock, um de classic rock ("The Blenders"), um de pop-rock ("Entropia"), um de punk-punk-mesmo ("Diarréia Brutal"), um de reggae ("Andame", sem um único componente negro ou sequer moreninho), um de roquinho brasileiro à la CPM22, um de roquinho de meninas ("Pandora", grupo feminino que eu fiquei sem saber se cantava em português, inglês ou russo), um de rock alternativo com toques de folk e MPB ("Comala"?) e outros poucos que não me lembro.
Bem, o que isso parece querer dizer? Eu arrisco que a mensagem é que numa universidade pública o povo, essa entidade abstrata e indefinida, não está. Ou seja, novidade nenhuma.
Quanto aos garotos que vi tocar, tocaram bem, em geral, como seria de se esperar de crianças saudáveis e bem criadas, imitando modelos direitinho. Tal como aquelas crianças que aparecem no programa "Raul Gil"...
Enfim, nada de novo no front, mas pelo menos serviu para me despertar a vontade de ver um documentário sobre o "Joy Division" (que nenhum dos grupos apresentou em seu repertório).
(imagem: foto de trincheiras na 1a. Guerra Mundial que, segundo a wikipedia, tem forte relação com as descrições do livro ''Nada de Novo no Front'')
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