quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Abbey Road
No mês passado, comemoraram-se os quarenta anos da chegada do homem à Lua. Coincidentemente, eu também fiz quarenta anos, quase no mesmo dia. E não vi motivos para grandes celebrações em nenhum dos casos. O homem foi à Lua: e daí? Foi por razões políticas, um país querendo mostrar que podia mais que o outro, e só. Pavões mostrando suas caudas e, terminado o embate, cada um foi para o seu lado. A Lua ficou lá, no céu, esquecida e despovoada como antes. Quanto a mim, fiz quarenta anos e também pensei: e daí? Estou velho, e é só.
Na semana passada, acordei com uma música dos Beatles na cabeça, vinda da região fronteiriça entre o sonho e a cosnciência. Imediatamente me lembrei do álbum que tem a música, e fui buscá-lo no meu escritório, onde ele jazia adormecido. Ao por o CD em minhas mãos , notei que eu não o ouvia há anos. Curioso que eu tivesse me lembrado da música assim, do nada. Levei o CD para o meu carro e fiquei com ele no aparelho que tenho lá, e lembrei da minha adolescência, quando descobri os Beatles e um mundo de coisas.
No sábado, a surpresa: fazia quarenta anos que a foto da capa do CD havia sido tirada. Haveria uma comemoração em Londres. Eu não fazia idéia.
E eu conto tudo isso para dizer que essa semana, saindo de casa pela manhã, ao parar com o carro num semáforo perto de casa, ouvindo o mesmo CD dos Beatles, dei de cara com a morte. Não, não vi a morte de alguém, vi a minha morte, que veio clara, com uma certeza infalível. Eu me vi morrer, não num tempo definido, mas em breve, não num futuro distante e quase inatingível, mas num dia desses, que pode ser amanhã ou daqui a quarenta anos. E isso não me assustou, muito pelo contrário: achei tão natural como esperar que depois da manhã venham a tarde e a noite.
Pois é, estou consciente da minha mortalidade e da minha irelevância. Eis o que eu vejo no espelho retrovisor que existe dentro da minha cabeça: um homem pequeno, de capacidades intelectuais tão grandes quanto as de um esquilo (não é auto-depreciação, não: após um teste aparentemente simples fui avaliado por um estudioso da área de cognição, que classificou minha capacidade de dedução como equivalente à de um esquilo), e que vai se gastando como o estofamento do meu carro, pelo uso puro e simples.
O que as pessoas ouvirão daqui a quarenta anos? Beatles, Beethoven, NX Zero? Sei lá... O que lembrarão de mim? Sei lá... Assim como a Lua permaneceu pouco tocada pela passagem humana, também o mundo provavelmente continuará o mesmo depois da minha passagem: eu, como todo mundo, só estou aqui como um pavão, mostrando minhas penas numa infinita competição de egos.
Pena que não era nada disso que eu tinha em mente, ao menos lá atrás, quando eu era um adolescente. Por isso, lá atrás em minha vida, escolhi a ciência: eu achava, ingenuamente, que podia fazer alguma diferença.
(imagem: um machado prateado de um geólogo, usado para mostrar a efemeridade da vida - dá para ver um fóssilzinho no meio das pedras...)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Dedalus! Dedalus!
Eu não fiz isso! Eu comparei o comportamento de todos nós humanos com as performances exigidas pelas convenções da lógica. Todos somos parecidos com esquilos. E por falar nisso, os esquilos são seres bastante dignos e obreiros.
O cansaço influi na performance, sim. Tudo provavelmente influi (história de reforçamento, sexo, idade, ser destro ou canhoto etc). Por isso é importante que a amostra seja o mais próxima possivel do aleatório. Houve diferença, pequena, entre alunos do noturno e diurno. Mas isso não importa. O teste não faz juízo de valor. Só mostra que não somos tão racionais como imaginamos.
Desculpas de novo. Foi uma péssima comparação, no calor dos argumentos.
Bom, sobre a morte, o tal do Matias Aires tem boas passagens. Recomendo fortemente a leitura das "Reflexões sobre a vaidade dos homens".
Longa vida amigo!
KNX
Ah... me esqueci.
Vc já ouviu falar do Paradoxo de Monty Hall?
http://www.youtube.com/watch?v=mhlc7peGlGg
Esse mostra que praticamente todo mundo tem dificuldade em avaliar probabilidades condicionais.
KNX, again.
Postar um comentário