segunda-feira, 24 de agosto de 2009
O triunfo da vontade
Há algum tempo li um livro bem interessante sobre a história da eletricidade: "Universo Elétrico", de David Bodanis. O livro conta, por exemplo, parte da história de homens como Faraday, um brilhante autodidata que, talvez por inspiração religiosa, "inventou" o conceito de campo, Hertz, um experimental dedicado que morreu precocemente, e Turing, o pai da computação moderna (há uma versão, bastante plausível, de que o logotipo da Apple é o que é em homenagem a ele, que se matou mordendo uma maçã envenenada).
Nesse livro aparece um trechinho que eu não conhecia e que me assombrou pela sua modernidade: "Toda propaganda deve apelar ao povo, e seu nível intelectual deve ser ajustado de acordo com a capacidade receptiva das pessoas mais limitadas entre as que ela pretende atingir. Quanto maior a massa de homens a ser atingida, tanto mais baixo se deve ajustar o seu nível intelectual. [...] Mesmo das mentiras mais impudentes sempre fica alguma coisa."
O autor desse texto, tirado do livro "Minha Luta", é um famoso líder alemão que criou a Segunda Guerra Mundial.
Sim, os nazistas entendiam de manipulação da informação, a começar por seu líder.
Minha razão para lembrar disso? Hoje, como ontem, as pessoas são manipuladas e nem percebem. Os "nazistas" de hoje ganham muito dinheiro. E poucos, pouquíssimos, tentam pensar criticamente. Sinceramente, não conheço quem conheça o termo "cui bono" (que não existe na wikipedia em português): no entanto, para mim, é sempre preciso perguntar - em qualquer ação - "a quem isto beneficia?"
Vi ontem um filme, em casa, com a família de minha esposa - evangélicos - que se regozijaram com a mensagem passada: nem todos os chamados serão escolhidos. O filme? "Presságio", com Nicholas Cage. Para mim, não foi um filme, foi algo como tortura chinesa - em poucos minutos eu vi a "propaganda" religiosa/conservadora descarada e decifrei qual seria o desfecho, algo que ninguém mais na sala (havia umas dez pessoas) viu...
Enfim, eu leio jornais todos os dias - tenho a assinatura de dois diferentes - e vejo um monte de propaganda neles. As manchetes principais são pura propaganda, mas parece que só eu vejo isso. A classe média todinha, que me envolve em meu ambiente de trabalho e que eu ouço de minha mesa, parece incapaz de fazer essa mesma análise e compra sem pestanejar o que é vendido.
Pena: falta o ensino de pensamento crítico nas escolas do Brasil. E a quem isso beneficia?
(imagem: Leni Riefenstahl, cineasta alemã que trabalhou - muito bem - para o partido nazista alemão e cujo filme principal, "O triunfo da vontade", recebe o seguinte comentário na wikipedia em português: "É um dos filmes de propaganda política mais conhecidos na história do cinema, com grande reconhecimento das técnicas utilizadas por Riefenstahl, que depois passaram a influenciar filmes, documentários e comerciais".)
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3 comentários:
Pura coincidência, acabei de falar de um tema correlato: http://incautosdoontem.opsblog.org/2009/08/24/como-escrever-um-romance-de-sucesso/
Gostei de conhecer seu blog.
Ainda não li Mein Kampf, mas me foi fortemente recomendado como um livro necessário. Quando começou a falar em propaganda, logo me lembrei de um filme que loquei há muito tempo atrás, um filme obscuro cujo nome agora me falha que fala sobre um futuro imaginário em que a propaganda seria "inoculada" de forma subliminar em várias formas, atacando de forma puramente inconsciente a população daquele "mundo", gerando satisfação para o empresário e loucura e caos entre as pessoas. Se lembrar o nome do filme te aviso.
Sobre a angústia que sentiste ao ver Knowing, entendo perfeitamente. Deves ter "previsto" o final do filme naquela cena, logo no início, que o professor Nicolas Cage fala sobre determinismo e livre arbítrio a seus alunos. Realmente, o final já era esperado...
Ah! E obrigado por compartilhar o cui bono. Vivendo e aprendendo.
Caro Ulisses,
Gostei muito de sua visita e seu blog: em breve deverei acrescentá-lo à minha lista de "Outros sites interessantes"...
Caro Rafael,
Eu também nunca li o o Mein Kampf, mas o encontrei ainda criança (acho que devia escrever sobre isso um dia desses). É um desses livros que a gente sabe que teve uma influência enorme, tão enorme que assusta.
Quanto ao filme, "Knowing", meu maior problema, não citado na postagem, foi ter de agüentar o Nicholas Cage como cientista. Eu, certa vez, estava saindo com uma moça que disse, um belo dia, algo como "Eu amo o Nicholas Cage". Daí em diante, o nosso "caso" degringolou e eu não consigo ver nada com esse cara...
E seja sempre muito benvindo: seu blog também é para mim "um blog que gosto muito". E acho que também devo fazer uma postagem sobre isso, um dia desses.
Um abraço a ambos!
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