segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Tristes trópicos


Eis Claude Lévi-Strauss, que encontrei num outro blog:

"Tudo o que os físicos e os biólogos ensinam me apaixona; nada estimula mais minha reflexão. Ao mesmo tempo, parece-me que cada problema resolvido, ou que acreditamos resolvido, faz surgir novos problemas, e assim por diante, indefinidamente; de modo que nos compenetramos cada vez mais da certeza de que nossa capacidade de pensar é e permanecerá sempre inadequada ao real, de que a natureza profunda do real escapa a qualquer esforço de representação."

Eis o que eu vivo querendo dizer, mas não consigo. Eu também sinto que o mundo é muito mais sofisticado - e ao mesmo tempo paradoxalmente mais simples - do que nossa mente é capaz de imaginar. Representar o mundo é quase impossível, mas é necessário.

É: às vezes, me dá uma enorme vontade de largar tudo isso e andar nas matas, e ser índio, ou bicho (golfinho acho que seria legal), em comunhão com o cosmos...

(imagem: representação clássica de indígenas brasileiros, por Debret, na wikipedia)

2 comentários:

Charles Morphy D. Santos disse...

Caro Sandro,
Os trópicos são tristes mesmos. No entanto, não aceito muito a idéia do bom selvagem: índios são da nossa espécie. A predisposição para a guerra e a violência apareceu muito antes da origem do H.sapiens, e está amplamente disseminada em todos. Não há exceções.
Além disso, essa idéia não é romântica demais? Quem disse que índio vive em harmonia com o cosmo? No momento, estou em Manaus e não vejo uma gota sequer dessa "convivência pacífica" com os elementos!
Ser bicho também não adianta. As florestas estão desaparecendo e os mares enchendo-se de lixo de todos os tipos. O que precisamos mesmo é levantar a cabeça e mudar essa situação! Só não sei como fazer isso...
Abraço

Dedalus disse...

Caro Charles,

Vi esses dias, na TV, duas coisas que me fizeram lembrar dos índios: "Brincando nos campos do Senhor", filme com Tom Berenger e Daryl Hannah, mostrando um choque cultural entre índios e brancos (e com nudez da Daryl Hannah!), e um programa chamado "Pé no chão", onde a atriz global Daniele Suzuki foi ao Xingu brincar de índia (ela também ficou pelada...). Não vejo os índios de forma idealizada: vejo que eles vivem uma vida menos complicada. Um índio, assim como um bicho, não tem que se preocupar com produtividade ou com representações ou blá-blá-blá - eles só têm que sobreviver, e fazem isso bem prá caramba: é nesse sentido que eles estão mais em comunhão com o cosmo do que nós. Quanto aos trópicos serem tristes, não sei se concordo: só escrevi isso por ser o título do livro do Levi-Strauss.

Um abraço!