domingo, 20 de setembro de 2009

O que é vida?



Diz a lenda que havia duas árvores importantes no Jardim do Éden bíblico, uma ligada à vida e outra ligada ao conhecimento do bem e do mal.

Diz a lenda que Moisés viu uma sarça ardente, "e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia". E no meio da sarça Moisés encontrou Deus.

Diz a lenda que Buda parou embaixo de uma árvore, para meditar. E sob a figueira Buda alcançou a iluminação e encontrou o nirvana.

Fui a um aniversário de um amigo, e na casa da namorada dele havia, bem na entrada, uma mesinha com dois porta-retratos: num a moça, seu irmão e a mãe deles, no outro a bela folhagem de uma árvore fotografada de baixo para cima, em maravilhoso contraste com o céu, que eu não pude deixar de notar.

Na estrada, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, parei para ver um "ipê-amarelo", iluminado ao mesmo tempo pelas flores que vieram saudar a primavera e por um raio de um sol de um fim de tarde, escapando de um céu nublado. E eu, ao ver isso, não pude deixar de parar o carro.

Não, eu não sou Moisés ou Buda, mas acho que encontrei Deus e alguma iluminação, um dia, na beira do meu caminho, quando eu voltava da padaria, com um saquinho de leite B e um punhado de pães. E havia uns arbustos conhecidos como "coroa-de-cristo" cercando as laterais da viela sem asfalto por onde eu caminhava.

E o que eu vi era indescritível, mas era luz, vida e conhecimento, certamente.

Pena que hoje, em meu mundo, ao meu redor, exista pouco além de cimento e asfalto, e de uma corrida sem fim em busca de sucesso. E a cidade em que eu moro parece viver um inverno eterno, sem cores.

Não vivo no paraíso, não sou profeta, nem um grande cientista (não sou nem mesmo um cientista mediano), mas talvez eu também possa, com a pouca ciência que conheço, ajudar na descoberta do sentido da vida: eu sei que viver é conhecer, para o bem e para o mal. Onde o fogo, a luz, onde a vida? Tem que ser em mim, que conheço tudo isso. Que eu busque ser a árvore que dá frutos e sombra ou que, pelo menos, eu tente ajudar a embelezar e iluminar o caminho de outros...

(imagem: árvore fotografada por meu celular, no meio do nada)

8 comentários:

Rafael Reinehr disse...

Dois ipês amarelos: http://reinehr.org/fotografia/fotos-de-quinta/fotos-de-quinta-032-11-10-2007

As melhores fotos estão em um HD com dano físico. A realidade me avisa: não é o momento para gastar 700 reais para recuperar as mais de 3000 imagens, milhares de MP3 e arquivos txt históricos, desde o começo de minha vida no computador. Eu aguardo.

Dedalus disse...

Caro Rafael,

A beleza da natureza está aí: para ver hoje um ipê-amarelo tão belo quanto os que você fotografou não custa quase nada - afinal, é primavera, de novo...

Um abraço!

enchendo minhalma disse...

É primavera de novo!
Talvez a vida seja isso, uma sequencia de primaveras... mas só pra quem sabe ver.

Abraço,

Dedalus disse...

Cara Joanna,

Infelizmente, nem tudo são primaveras: há outonos, invernos e verões. Mas cada tempo tem a sua beleza (e as suas alegrias e tristezas, também): no inverno vai bem um vinhozinho, no verão, a praia, e no outono, pontes e folhas (http://inlinethumb25.webshots.com/45144/2235517190102799276S600x600Q85.jpg)...

Um abraço!

Anônimo disse...

Prezado Dedalus,

Para mim, o sentido da minha vida consiste em, pelo menos, ser um PATO quer as ÁGUIAS não ousem atacar.

Na verdade, quem sabe, uma GAIVOTA, a la Tchecov, por causa de minha atração pelo mar.

KNX.

Dedalus disse...

Caro KNX,

Eu já pensei em ser muita coisa, talvez até mesmo águia, pato e gaivota, mas me achei um pardal fuleiro. O problema em ser uma águia é virar bicho de estimação para algum nobre. O problema em ser pato é virar refeição. O problema em ser gaivota é o mesmo de ser pardal: ninguém dá muita bola...

Um abraço!

KNX disse...

Caro Dedalus,

O Epicuro, que era um belo espécime das Corujas, dizia: "Vive ignorado".

Antes Pardal Fuleiro ou Gaivota, do que conseguir atenção às custas do rabo, feito um Pavão narcisista.

KNX

Rafael Reinehr disse...

Aqui na cidade, só Ipês Roxos. Acho que tenho que plantar um amarelo, não?

Pronto. Anotado aqui nos meus alfarrábios.