domingo, 2 de setembro de 2007

Utopia


Não sei ao certo quando, mas um dia desses acordei com o nome de três lugares em minha cabeça: Latvéria, Cafiristão e San Marcos. Pouca gente deve ter conhecido ou se lembrar desses lugares, mas eu não os inventei: eles estão lá na Wikipédia. Como o motivo de eu me lembrar do Cafiristão é um pouco interessante, acho que vale umas linhas.

Uma noite, ao chegar em casa do trabalho, li num jornal que na TV, mais tarde, haveria um filme, "O homem que queria ser rei", cuja história se passava lá. Eu tinha que levantar antes das 7 da manhã para entrar no trabalho às 8, e o filme começaria às 2 da manhã. Eu não tinha vídeo e, na época, esse filme não podia ser encontrado em locadoras. Então criei coragem e fiquei acordado até o fim.

No dia seguinte, fui trabalhar com a convicção que meu trabalho não valia a pena. Melhor seria para mim e para o mundo se eu tentasse ser rei em algum lugar distante, mesmo que imaginário, mesmo que sem conseguir.

Previsivelmente, hoje não sou rei. Vivo como mais um serviçal de um templo dominado por uma burocracia de sacerdotes que podiam ser advogados ou empresários, sem amor à religião que praticam. São homens de método, sem espírito. Que método e espírito são esses? Oras, "o espírito científico, fortemente armado com seu método", que "não existe sem a religiosidade cósmica", a qual "consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza".

Acho que é isso: sou um utópico, vivendo por palavras, idéias e lugares que ninguém conhece.

(imagem: ilustração para Utopia, livro de Thomas Morus)

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