Vi esta semana uma palestra em que um cientista apresentava a si mesmo através de seu trabalho. Logo no início o palestrante usou a imagem de uma caixa de ferramentas - isso mesmo: uma caixa de ferramentas, com chaves de fenda, alicates, grifos e sei lá mais o quê. Para mim, foi como se ele disesse: "veja, o cientista não é nada mais que um técnico, um encanador, um pedreiro ou um dentista, alguém treinado para usar as ferramentas adequadas no momento adequado".
Não tenho nada contra pedreiros ou encanadores ou dentistas: mas não entrei na ciência por isso. Senão eu seria um encanador ou pedreiro ou dentista. Eu quis ser cientista, e não um profissional. Eu quis fazer arte, e não ter uma profissão.
Mas acho que ninguém mais vê isso, a ciência como arte: é um negócio, com dinheiro e recompensas distribuídos a quem sabe fazer negócios. Meus colegas se vestem como empresários, cabelos alinhados, roupas impecáveis, e se tornam diretores e têm projetos e verbas e financiamentos, enquanto eu, o oposto disso, não tenho nada além de um punhado de idealismo, que a cada dia vai minguando mais e mais.
Não sei mesmo o que faço no meio dos cientistas: acho que me daria melhor sendo um golfinho ou um boto, inteligente apesar de (ou por) não usar ferramentas... E para não parecer tão maluco, aqui eu cito Carl Sagan, em "Os dragões do Éden", onde ele diz que
"a criatura com maior massa cerebral em relação a seu peso corporal é a denominada Homo sapiens. O próximo nesta escala é o golfinho."
Ou seja, já que eu não posso, por pura incompetência, estar entre os primeiros, eu me contentaria, de bom grado, em estar entre os segundos. Pena que eu tenha escolhido errado.