domingo, 18 de novembro de 2007

Canção do exílio


O que me distancia do mundo? Um punhado de coisas. Por exemplo, acho que se alguém disesse que imaginou um acidente de avião, com o avião caindo em um determinado lugar (sei lá, Diadema, talvez), e se logo depois essa imagem se tornasse realidade, com o acidente acontecendo de verdade, mesmo assim a maioria de meus conhecidos, cientistas e céticos, diria que era apenas coincidência. Já eu, não tão cheio de certezas, teria que discordar, pois para mim seria coincidência demais.

O que me distancia do mundo? Moro numa periferia, onde a língua é outra e os olhos vêem diferente. No meu horizonte, hoje, há morros cheios de casas, e ruas com algumas árvores. Meus conhecidos não têm essse panorama. No entanto, embora o que eles vejam e sintam não seja o mesmo que eu, não creio que seja só uma questão de geografia. Meus vizinhos, moradores de periferia como eu, também não são como eu: também não falo a língua deles.

O que me distancia do mundo? Não sei. Só sei que acho que saber, inutilmente, que o bem-te-vi, que canta de cima de minha antena de TV, se chama Pitangus sulphuratus, só aumenta a beleza que vejo no mundo, e que isso, dentre outras tantas coisas, me faz ser muito só.

(imagem: um bem-te-vi - ou grande-kiskadi, segundo a Wikipedia)

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