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Em uma de minhas aulas de ecologia eu ensinei aos alunos que uma das grandes questões da biologia é o sexo: qual a razão dele existir? Não seria mais simples e eficiente se reproduzir sem sexo? Afinal, é o que as bactérias e samambaias fazem...
O sexo tem um custo alto para os indivíduos: há a necessidade de órgãos especializados, sem falar no gasto com busca de parceiros, corte, competição com outros indivíduos - e, no entanto, existem machos e fêmeas (com eventuais hermafroditas aqui e ali).
Eu acho tudo isso uma grande sacanagem - eu sou um macho humano, com as vantagens e desvantagens que ser humano e macho acarreta: e parece que biologia é destino. Por isso, gostaria que o hinduísmo estivesse certo no que diz respeito à reencarnação: seria bom poder reencarnar como outro ser, de tipo diferente do que eu sou.
Ah! Aqui entro no reino das especulações: se eu fosse viver outra vida eu seria ainda eu ou outro totalmente diferente? Minha alma, se pudesse migrar para outro corpo, continuaria a mesma, ou mudaria conforme o corpo? Biologia é destino?
Há na matemática um ramo que estuda as transformações que um corpo pode sofrer mantendo ainda uma identidade: é a topologia. Topologicamente, uma caneca e uma rosquinha são idênticos, já que um pode ser transformado no outro de uma forma contínua, suave.
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Posto de outro modo, há dois tipos distintos de curvas fechadas, onde se volta ao ponto de partida, e que não podem ser deformadas a um ponto, tanto na superfície da caneca quanto na superfície da rosquinha. Canecas e rosquinhas são superfícies de mesmo genus, formadas pelo produto de dois círculos.
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Seria a reencarnação algo assim? Poderia cada alma ser identificada por um 'invariante topológico' próprio? Não, eu não sei se existem almas ou se tenho uma, e se tenho se há algo, um número, uma medida, que possa caracterizá-la como única. Talvez eu seja apenas um número na multidão humana, como o 7 escrito por Mário de Sá-Carneiro:
"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro. "
(imagem: a cidade de Konigsberg, no século XVII, com suas sete pontes que inspiraram o matemático Leonhard Euler a estudar topologia)
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