
Eis um tema que merece uma postagem particular: a ficção científica no Brasil.
Comprei na Bienal um livrinho chamado "Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica". Bem, o livro deve ser louvado, é muito interessante, mas de longe o melhor que aparece lá é Machado de Assis, com sua verve irônica irretocável. As outras coisas que há nesse livro me deram pena - de ser brasileiro.
Tudo bem, o editor da coletânea, Roberto de Sousa Causo, merece ser elogiado: é dele um livro maravilhoso, "Ficção científica, fantasia e horror no Brasil", que eu gostaria de ter escrito - ou orientado, já que o livro é resultado de um projeto de iniciação científica.
Eu já li muita coisa. Quando estudei a literatura inglesa moderna, por exemplo, passei obrigatoriamente por H.G. Wells e Aldous Huxley, por exemplo. Na literatura estadunidense, não há como fugir de Ray Bradbury e Kurt Vonnegut, por exemplo. No Brasil, bem, no Brasil, o que há é Jorge Amado, uns tantos baianos e nordestinos, e mil sensualidades e exotismos ótimos para turistas estrangeiros e paulistas (que não fazem parte do Brasil - ou fazem? - nem sei mais!). No Brasil não há ambiente para crescimento do gênero ficção científica, pois não há inserção da ciência na cultura. E, assim, a ficção científica é vista como algo kitsch, reservado para cdf's e nerds.
Intelectual no Brasil é, única e exclusivamente, quem cultiva as letras e as humanidades. Será que vale ser escritor de blog?
(imagem: ilustração para edição européia de "A guerra dos mundos", de H.G. Wells, feita pelo brasileiro Henrique Alvim Corrêa, no início do século XIX)