sábado, 16 de agosto de 2008

Alice


Há uma pasagem no livro "Através do Espelho", em que a personagem Alice anda em um jardim de flores vivas e acaba por encontrar a Rainha Vermelha (uma peça de xadrez), que a fez correr com ela. Entretanto, depois da corrida, Alice se espanta:
""Ora, eu diria que ficamos sob esta árvore o tempo todo! Tudo está exatamente como era!"
"Claro que está", disse a Rainha, "esperava outra coisa?"
"Bem, na nossa terra", disse Alice, ainda arfando um pouco, "geralmente você chegaria em algum outro lugar... se corresse muito rápido por um longo tempo, como fizemos."
"Que terra mais pachorrenta!", comentou a Rainha. "Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais rápido que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido!""

Bem, tal passagem (que eu copiei da tradução brasileira do livro "Alice- edição comentada", de Martin Gardner) serviu de base para o nome de uma idéia da biologia: a "hipótese da Rainha Vermelha", que, de forma simplificada, pode ser descrita como dizendo que existe uma corrida evolutiva sem fim. No caso de parasitas isso significa que eles e seus alvos mudam - evoluem - o tempo todo, um para escapar do outro, mas ambos continuam juntos, como se corressem sem sair do lugar. Bactérias resistentes a quase tudo (a revista New Yorker publicou recentemente um texto com o título "Superbugs - The new generation of resistant infections is almost impossible to treat", e o Brasil enfrenta problemas com uma micobactéria) parecem ser bons exemplos dessa hipótese: nós inventamos medicamentos, elas desenvolvem defesas - e a corrida continua.

Enfim, acho que a mensagem é essa: evoluir é preciso, mesmo que não se saia do lugar. Mas eu, pessoalmente, prefiro viajar de verdade, nem que seja de vez em quando, nem que seja sentado defronte à minha tela de computador: navegar é preciso, viver, não.

(imagem: uma rainha do jogo de xadrez, o mais nobre dos esportes - tem reis e rainhas - e que, injustamente, não é lembrado em tempos de Olimpíada)

5 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Atlas, eu acho que no livro a rainha vermelha é uma carta de baralho (de copas?). E pôquer também não é esporte olímpico...

Dedalus disse...

Caro Osame,

Eu também já me confundi com isso, mas hoje posso afirmar com certeza: a Rainha Vermelha é uma personagem do jogo de xadrez, e aparece no livro "Através do Espelho", enquanto que a Rainha de Copas é uma carta do baralho e aparece no outro livro de Alice, o mais famoso "Alice no País das Maravilhas" - há até uma ilustração de Tenniel (o ilustrador original dos livros) mostrando Alice correndo com uma rainha de xadrez. Quanto ao poquer ou o xadrez não serem esportes olímpicos acho isso uma tremenda injustiça...

Um abraço!

PS: vc tem um irmão que é filósofo/psicólogo, não é?

Osame Kinouchi disse...

Então não seria a Rainha Branca (como na sua foto?). Sim, o Renato Kinouchi é meu irmão...

Dedalus disse...

Caro Osame,

A rainha da minha foto é branca só por eu não ter achado a foto de uma rainha vermelha. E, na verdade, a minha rainha preferida é de outra cor... (sobre isso, veja a postagem "As jóias da coroa" - http://dedalus-atlas.blogspot.com/2008/07/as-jias-da-coroa.html)
Quanto ao Renato, estou com mais de uma dívida com ele: só para começar falta ainda eu falar da tradução de Peirce que ele fez, e de comentar (e, principalmente, devolver) uns vídeos...

Um abraço!

Rafael Reinehr disse...

A imagem da rainha vermelha: http://sisu.typepad.com/photos/uncategorized/redqueen_1.jpg

Abração!