sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Nova gramática do português contemporâneo


O mundo é um texto, feito de letras que formam palavras, e palavras que se juntam em frases. Eu, você, o ar entre nós, os átomos de nós todos e de cada coisa, e até mesmo os componentes desses átomos, tudo são letras que se uniram numa narrativa enorme e complicada, que é escrita continuamente, em cada instante.

Todo texto tem um suporte: papel, a tela de um computador, a pele seca de um animal. E entre as letras de um texto há uma ordem, e espaços, pausas. Com o mundo não é diferente.

Pois é isso que eu queria: tocar, no mundo, o que não é palpável, agindo como quem molda nuvens, agindo no espaço que dá suporte ao real, no espaço entre as letras que compõem o texto do mundo, compondo de lá uma canção feita de silêncio e pausas, e que assim mesmo seja impossível de se ignorar.

Eu queria escrever nas entrelinhas, e sem dizer uma palavra diretamente, ser perfeitamente entendido.

Eu queria ser isso, sutil, imaterial e penetrante como a beleza que vejo na moça que eu amo, indescritível como o amor que eu sinto: não uma palavra, mas a ação por detrás e dentro dos verbos.

Eu queria que ela me entendesse assim.

(imagem: Mário de Andrade, um sujeito que escreveu "Amar, verbo intransitivo" que, se não é um bom livro, pelo menos tem um bom título, que parece que não era o original - “O livro se chamava Fräulein de primeiro; mudei o título por causa de errarem a palavra na pronúncia”)

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Dedalus,

faz tempo que eu não comento seus posts. Só para não perder o hábito, escrevo para dizer que há gente bastante convencida a respeito dessa textualidade da vida: o pessoal da semiótica, em especial C. S. Peirce. Todavia, não são as letras, fonemas ou palavras os componentes fundamentais -- são os signos.

Abraço,
KNX.

Dedalus disse...

Caro KNX,

Sua presença aqui é sempre muito bem vinda. Te respondo com uma postagem: "O mundo como vontade e representação".

Um abração!