quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O nascimento de uma nação


Eu tenho uma amiga que está acompanhando uma disciplina de um curso de cinema, sobre a construção de imagens. Ela já viu um bocado de coisas, desde o cinema alemão clássico até o início de Hollywood, e de vez em quando nós conversamos sobre algumas das coisas que ela viu.

Pois eu também tenho dois olhos e por meio deles o mundo me apresenta uma infinidade de imagens...Não é algo como uma escola de cinema, algo que eu nunca frequentei, mas acho que também dá para se divertir e talvez até aprender algo.

Enfim, imagens: é isso que transborda de "A origem", filme com Leonardo DiCaprio, que envolve uma trama complicada e camadas sobre camadas de imagens. Há um virtuosismo nos efeitos visuais do filme que impressiona quando misturado com as sutilezas do enredo, mas no fundo, debaixo disso tudo, a idéia central do filme é brincar com a mesma questão que se brincava em "Matrix": o que é a realidade? Ou seja, "A origem" é um sub-"Matrix", com desnecessárias perseguições, lutas em paredes e tiroteios, tão típicos do cinemão americano.

Só para comparar, há mais de um episódio de "Jornada nas estrelas: a nova geração" em que um dos personagens entra no mundo onírico (ou subconsciente) de outro, e nesses casos os roteiristas, provavelmente por restrições orçamentárias, não usaram perseguições e edições espertas, mas imagens simbólicas mais simples e nem por isso tão menos eficientes. E há, é claro, "O conto do sábio chinês", de Raul Seixas, direto lá do começo dos anos 80...





Imagens de uma coisa para se mostrar outra é o que há em "Distrito 9", um filme de ficção científica que é uma alegoria:
"Uma alegoria (do grego αλλος, allos, "outro", e αγορευειν, agoreuein, "falar em público") é uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico (vide: retórica), que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal. Diz b para significar a. Uma alegoria não precisa ser expressa no texto escrito: pode dirigir-se aos olhos e, com freqüência, encontra-se na pintura, escultura ou noutras formas de linguagem."
Do que fala "Distrito 9"? Não precisa muita genialidade para se perceber que um filme cuja história se passa na África do Sul, mostrando uma favela para refugiados alienígenas não é exatamente um filme de ficção científica. De qualquer forma, eu gostei bem mais de "Alien Nation", com James Caan (em português, "Missão Alien"), que era menos pretensioso e com menos (bem menos) recursos visuais. Na minha modesta opinião, "Distrito 9" é fraquinho, passável mas fraquinho.

Imagens inúteis, sem rumo, é o que se vê em "O dia final", péssimo filme de ficção científica e terror, que é uma refilmagem de um filme inglês da década de 60 ("The day of the triffids", no original). O criativo roteiro desse filme resume-se a uma história passada num futuro não muito distante, em que há plantas carnívoras que andam, criadas e mantidas em cativeiro pelos seres humanos, e que se libertam para destruir a humanidade, logo depois de uma tempestade solar que cega a maior parte das pessoas. Eu não consegui ver nem metade, mas na parte inicial pensei que se tratava de um sub-"Ensaio sobre a cegueira". Que nada! Era mesmo só mais um filme B do século XXI, isto é, um filme B sem a criatividade ou o charme dos filmes B originais.

Por fim, imagens algo kitsch e ensossas é o que se encontra em "Engel e Joe", filme alemão de adolescentes, feito em 2001 provavelmente para adolescentes, e aparentemente escrito pelo mesmo roteirista de "Christiane F.", filme polêmico da década de 80. É uma historinha de amor, "inha" mesmo, que me lembrou um pouco "Kids", de 1995, sem a AIDS. Numa citação do imdb:
"Kids is basically a movie that warns you what the hell could be happening to your very own child."
Tá bom, um pouco interessante, mas... Depois de ver esse filme, eu recomendo a leitura de "O senhor das moscas", e como história de amor entre adolescentes, "Romeu e Julieta": certamente dá para aproveitar mais.

Para terminar, acho que hoje, no seu curso de cinema, minha amiga vai assistir "O nascimento de uma nação", de D. W. Griffith, de 1915, um clássico do cinema que fala da Guerra Civil americana, enquanto eu, bem, eu devo assistir "Nosso lar", um clássico da literatura espírita, de 1944, que eu vejo como uma obra de ficção científica. Se isso quer dizer algo, deve ser sobre a imagem que projetamos no mundo...








(imagem: definição de imagem numa imagem da wikipedia...)

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