quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O homem e seus símbolos


Existem palavras e existem coisas. E as palavras, pelo menos como eu as sinto, podem ser vistas como coisas que usamos para descrever coisas que, às vezes, nem existem mesmo, a não ser como palavras ou como idéias...

Por favor, me desculpem se nada do que eu escrever aqui hoje fizer sentido. Em certos dias eu acordo confuso, e hoje é um dia desses. Acordei com várias palavras na cabeça e, só para exemplificar minha incoerência mental, cito duas delas que vieram à superfície dos meus pensamentos sem o menor motivo: atemóia e Würzburg. Eu sei mais ou menos o que é uma atemóia - algo parecido com uma pinha - e sei também que Würzburg é uma cidade alemã. O que eu não atino é a razão dessas duas palavras me aparecerem assim, de sopetão.

Usando um bocadinho de imaginação, talvez eu até pudesse escrever um ensaio intitulado "A atemóia de Würzburg", aproveitando essa súbita "inspiração". E nesse ensaio eu poderia escrever que em Würzburg há uma residência do principado - um palácio - que foi considerada pela Unesco algo como um dos patrimônios históricos do mundo, lugar onde há uma pintura de um artista barroco - Tiepolo - mostrando o imperador Frederico I (também conhecido como Barbarossa), do Sacro Império Romano, se casando com uma tal de Beatriz de Borgonha, em algum ponto da idade média. Eu poderia falar da atemóia como sendo uma fruta algo barroca, feita do casamento improvável de uma pinha com "uma fruta andina chamada cherimóia" (isso gerou "uma fruta saborosa e doce como a pinha sem alguns de seus inconvenientes: pouca resistência a pragas, baixa durabilidade e muitas sementes"). E daí eu aproveitaria para fazer algum paralelo, entre casamentos e seus frutos, mas isso não responderia à minha pergunta: de onde, dentro de mim, saíram essas palavras?

Não sei. Talvez o caminho seja outro. Eis outras informações que a internet me oferece: uma atemóia é uma fruta que "possui aspecto rústico devido à casca rugosa e pontiaguda, semelhante à da graviola", mas que tem em seu interior "polpa branca e macia". Já sobre a tal da Beatriz de Borgonha  pode-se ler, na wikipedia em inglês, que
"Beatrice was active at the Hohenstaufen court, encouraging literary works and chivalric ideals. She accompanied her husband on his travels and campaigns across his kingdom, and Frederick Barbarossa was known to be under Beatrice's influence."
[Beatriz era ativa na corte de Hohenstaufen, encorajando trabalhos literários e ideais de cavalaria. Ela acompanhou seu marido em suas viagens e campanhas pelo reino, e Barbarossa estava sob sua influência.]
Há também o seguinte poema sobre ela:
Venus did not have this virgin's beauty,
Minerva did not have her brilliant mind
And Juno did not have her wealth.
There never was another except God's mother Mary
And Beatrice is so happy she excels her."
[Vênus não tinha tal beleza virginal,
Minerva não tinha sua mente brilhante
E Juno não tinha sua saúde.
Nunca houve outra assim, exceto Maria, mãe de Deus
E Beatriz é tão feliz que a ultrapassa.]
Bem, talvez inconscientemente, eu tenha visto em algum lugar - onde? - algo sobre Würzburg, e por um instante tenha sentido o desejo de ser imperador do Sacro Império Romano, para me casar com alguém como a rainha Beatriz, mesmo que essa pessoa, por fora, não indique o sabor, a doçura e a polpa branca, e seja improvável e incomum como uma atemóia.

Ou talvez nada disso faça sentido: as palavras "atemóia" e "Würzburg" talvez sejam para mim símbolos de outras coisas que não têm nada a ver com a fruta atemóia e a cidade de Würzburg (símbolos de quê?).

Pois é: a alma tem caminhos que a razão desconhece, e eu, confuso, não conheço a minha, nem os meus caminhos... Por isso escrevo: talvez assim, no meio de um milhão de palavras, eu me desvende e veja a realidade.

(imagem: o quadro de Tiepolo; o título desta postagem vem de uma obra de Jung)

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