sábado, 9 de fevereiro de 2008

Hamlet


Escrevi outro dia, num blog profissional, um comentário sobre a arte rupestre, deixada nas paredes de cavernas e outros lugares de difícil acesso por nossos antepassados primitivos. O assunto discutido no blog era qual a razão da arte (na verdade, era quase isso) - e eu acho que é a mesma que sempre foi, desde os tempos dos primeiros homens: comunicar, impressionar, impulsionar sonhos, e também conjurar uma certa mágica.

Enfim, acho que eu não devia pensar nisso, nem em mais nada: eu, comparado a uma simples pintura rupestre, não sou nada. Não comunico nada, não impressiono, não tenho mais sonhos e quanto à mágica, pfff...

Não imagino que o homem que desenhava nas cavernas pudesse sonhar que seus desenhos durassem séculos. Certamente os artistas rupestres eram poucos: seus contemporâneos deviam estar mais preocupados com a sobrevivência, pura e simplesmente. Eram tempos duros, aqueles dos nossos antepassados.

Quanto a mim, já disse, não sonho. Decerto, eu deveria engrossar a multidão dos que hoje se preocupam mais com a sobrevivência: vivo mal e porcamente e acho que sobreviver é tudo que me resta. Embora eu não saiba mesmo para quê. Mas nem essa dúvida é mesmo minha: está lá, no famoso monólogo de Hamlet, há séculos.

(imagem: Hamlet e Horácio, por Delacroix - ao menos é o que informa a Wikipedia)

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