domingo, 18 de maio de 2008

O relato de Álvar Nuñez Cabeza de Vaca


Álvar Nuñez Cabeza de Vaca foi um explorador espanhol que, logo após a descoberta espanhola da América, naufragou na costa da Flórida, ficando "perdido" por muitos anos (de 1528 a 1535) entre os indígenas da região. Seu relato desse período, que eu encontrei num livro em inglês, "The Norton Anthology of American Literature", é considerado um texto histórico fundamental na descrição do modo de vida dos índios americanos vivendo entre o que hoje é o sul dos Estados Unidos e o México.

No retorno à civilização, Cabeza de Vaca e uns outros poucos sobreviventes, ajudados por índios que se afeiçoaram deles e que receavam deixá-los, encontraram-se com um capitão espanhol, Diego de Alcaraz (a tradução a seguir é minha, do inglês).
"Alcaraz indicou ao seu intérprete que ele devia dizer aos Índios que nós éramos membros de sua raça que há muito estavam perdidos; que seu grupo era o dos senhores da terra que deviam ser obedecidos e servidos, ao passo que nós não éramos importantes. Os Índios não prestaram atenção a nada disso. Após conversarem entre eles, responderam que os Cristãos [os espanhóis] mentiam: nós tínhamos vindo do nascer-do-sol, eles do pôr-do-sol; nós curávamos os doentes, eles matavam os sãos; nós viemos nus e descalços, eles vestidos, com cavalos, e com lanças; nós não ambicionávamos nada mas dávamos o que quer que nos fosse dado, enquanto eles roubavam quem quer que eles encontrassem e não davam nada a ninguém."

Não creio que os cristãos de hoje sejam assim tão diferentes da visão que os espanhóis de então entregaram aos índios: se julgam superiores aos outros homens, pois adoram um homem que crêem ter sido superior a todos os homens.

Não, eu não sou cristão: não espero a salvação, e muito menos o inferno para aqueles de quem discordo. Prefiro ser um índio, da Terra, e não esperar tanto assim o céu, que talvez até venha, mas se vier que seja como Deus quiser: eu serei eu.


(imagem: placa comemorativa da descoberta das Cataratas do Iguaçu, por Cabeza de Vaca, feito realizado por ele em 1542; seu livro, em espanhol, está disponível para download, com link na wikipedia)

Um comentário:

Gilberto Silveira disse...

O dificil é acreditar nas verdadeiras intenções do seres humanos, as vezes o sim é não e o não é sim,quem pode afirmar?