sábado, 27 de dezembro de 2008
Guia ilustrado de cinema
E já que eu estou na época do Natal, com algum tempo livre, gastei parte desse tempo em frente à TV, vendo o "Homem de Ferro". Antes eu tinha visto "Kill Bill", volumes 1 e 2, e posso pôr tudo na mesma prateleira mental: filmes para adolescentes.
O "Homem de Ferro" é enormemente superficial e "Kill Bill" é deprimente pela contagem de corpos (e partes de corpos), e ambos são muito inverossímeis, lembrando videogames ou quadrinhos (por que será?). "Kill Bill", em particular, por suas tomadas, cenários e vestuários muitíssimo bem feitos, me lembra uma orquestra sinfônica regida por algum funqueiro carioca tocando "créu, créu, créu"... E funciona: dá vontade de comprar uma espada de samurai e sair por aí cortando pessoas ao meio - e acho que deve dar uma vontade danada nas mulheres de se vingarem tal qual a heroína (?) do filme.
Bem, tem quem diga que Chaplin era um gênio, mas perto desses filmes ele fica parecendo de outro planeta.
(imagem: quem diz que a pena é mais forte que a espada não viu "Kill Bill"; o título dessa postagem é de um livro que me dei de presente nesse Natal)
As coisas são assim
Numa postagem sobre a África, eu escrevi que achava que nenhum africano tinha ganho um Prêmio Nobel - eu queria dizer da área de ciências, mas não disse e, de qualquer forma, eu estava errado. Um comentarista anônimo me corrigiu:
"Cohen-Tanoudji é Argelino. Agora se vc estiver falando da Africa sub-saariana creio que não há nenhum Nobel em física, mas há Nobel da Paz que creio ter maior valor."
Cohen-Tannoudji foi meu "professor" de Mecânica Quântica: quando cursando a graduação em física, eu precisava muito tirar uma boa nota na prova final de Mecânica Quântica I (ou II, não me lembro) e não me restou outra alternativa senão "queimar as pestanas" (essa expressão vem da época em que os estudantes para ler a noite tinham que usar velas). Fui à biblioteca e vários outros colegas já tinham tido a mesma idéia que eu, antes; assim, só restavam nas estantes os livros de Cohen-Tannoudji, que são grandes e volumosos, e em francês. Logo, acabei aprendendo um pouco (não muito, mesmo) das duas coisas, quântica e francês...
Eu tenho já decadas de vida e décadas de leitura; sei muita coisa, mas sei que o volume de coisas que não sei - e que nunca saberei - é muuuuuito maior. Portanto, em geral uso muito o verbo "achar" - dou freqüentemente a quem me ouve ou lê a chance de duvidar de mim, pois sei da minha ignorância. E agradeço quando alguém me corrige, como esse comentarista anônimo fez: obrigado!
E, bem, qual foi o Nobel que Cohen-Tannoudji ganhou? Eu sinceramente não sei. Apelo para a internet e descubro que ele ganhou o prêmio (de física, é claro) em 1997, junto com Steven Chu e William D. Phillips, por terem
"desenvolvido métodos de uso da luz de lasers para resfriar gases à temperaturas da ordem de µK e manter os átomos resfriados flutuando ou capturados em diferentes tipos de "armadilhas para átomos"."
Eu diria que isso é realmente cool...
Quanto a um Prêmio Nobel africano da paz, eu sabia dos srs. Nelson Mandela (prêmio em 1993, junto com o então presidente da África do Sul, Fredrik Willem de Klerk) e Kofi Annan (em 2001), estava esquecendo do bispo Desmond Tutu (prêmio em 1984) e não sabia nada, por exemplo, da sra. Wangari Maathai (prêmio em 2004). Há outros dois que encontrei numa busca rápida: Anwar Al-Sadat, então presidente do Egito (prêmio em 1978) e Albert John Lutuli, então presidente do Congresso Nacional Africano (prêmio em 1960). Fora esses há os de literatura: Nardine Gordimer (em 1991), J.M. Coetzee (em 2003), ambos sul-africanos, Wole Soyinka (Nigéria, em 1986) e Naguib Mahfouz (Egito, em 1988) - e há ainda Albert Camus (1957), que era argelino (ou seria francês? O jornal The New York Times disse, quando do anúncio do prêmio de literatura de 2003 para J.M. Coetzee, que só havia outros três africanos laureados - faça a conta com a lista acima...).
Mas o que eu queria ter escrito em minha postagem é que eu achava que nenhum africano havia ganhado um Prêmio Nobel da área de ciências, pois eu, pessoalmente, acho mais difícil ganhar um desses do que um prêmio da paz ou de literatura, por exemplo. Vamos lá: é mais difícil de ganhar pois a competição é beeeem maior e mais desigual, já que há muito mais cientistas em países desenvolvidos do que em países pobres e os comitês de ciência do Nobel, em geral e ao menos aparentemente, não fazem escolhas tão políticas e subjetivas quanto os outros comitês (note que eu posso estar falando uma grande besteira, mas sou sincero: isso é o que eu, cientista, sinto quando vejo a lista dos laureados com o Prêmio Nobel - alguém lê ou leu ou viu numa lista do tipo "1000 livros que você deve ler antes de morrer" algum livro dos escritores africanos citados aqui?).
Enfim, eis, para o bem e para o mal, minha ignorância exposta. Outras vezes errarei, e gostaria de ser corrigido quando isso acontecer (de preferência amigavelmente, é claro): errar é humano, e continuar no erro não é muito cool... Além, disso todo cientista deve admitir que pode estar errado, mesmo que isso não seja muito bom para sua imagem.
(imagem: um tipo de erro bastante comum nos dias de hoje)
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Tempos modernos
Relendo a minha postagem sobre "Em busca do ouro", notei que eu devia comentar também que o primeiro filme que vi no cinema, com meu pai, aos cinco anos, foi "Tempos Modernos", e que Chaplin nitidamente influenciou demais Mazzaropi e Renato Aragão...
Aí eu me lembrei, graças em parte à minha mãe, de que eu tinha que escrever sobre um filme muito bonitinho que vi recentemente, na TV paga, em companhia de meu filho (de três anos de idade, e que adorou o filme, pois falou dele depois espontaneamente): chama-se "Tapete vermelho", foi feito em 2005, e tem como protagonista principal um caipira interpretado por Mateus Nachtergaele.
A história é simples: o caipira decide, no aniversário do filho, levar o menino à cidade grande para ver um filme de Mazzaropi, tal qual o pai dele tinha feito com ele, anos antes. Bem, mas qual é a cidade do interior que tem cinemas, e onde se vêem filmes de Mazzaropi, hoje?
Ver um filme, hoje, não é uma atividade social importante como foi no passado, quando as pessoas - especialmente famílias - iam em grupo ao cinema. Os filmes, hoje, são vistos em casa: é para isso que existem TVs por assinatura, DVDs e computadores com banda larga. No entanto, como foi comigo, levado por meu pai, ir ao cinema era algo diferente, uma espécie de aventura que não se esquecia facilmente: eu me lembro da ida ao centro da cidade, da sala cheia de gente, maior do que eu, e das cenas do personagem Carlitos "perdido" numa fábrica...
Hoje, ir ao cinema é algo diferente, os filmes são diferentes: Carlitos ou Mazzaropi não tem espaço no circuito comercial. Minha mãe viu "Tapete vermelho", com alunos dela, no SESC, e acho que boa parte desses alunos, de periferia, provavelmente não tem o hábito
de ir ao cinema: na periferia as pessoas compram filmes - DVDs - em camelôs, na feira, por muito menos da metade do preço da entrada do cinema.
Bem, dei de presente de Natal ao meu pai um DVD (original, não pirateado): "O dólar furado", com Giulliano Gemma. Minha mãe disse que foi o primeiro filme que ela viu no cinema, quando chegou como migrante aqui em São Paulo. Acho que para meu pai, na época "caipira" vindo do interior do Brasil, ir ao cinema era ir a outro mundo - e ele queria compartilhar isso com sua família, mesmo morando na periferia.
(imagem: tempos modernos)
Em busca do ouro
De ressaca da ceia de Natal, fiquei a tarde toda jogado no sofá. Zapeando nos mil canais da TV a cabo, encontrei por acaso um filme de Charles Chaplin, "Em busca do ouro". Para quê? Tive de me segurar - muito - para não chorar (e mesmo agora quando escrevo essas linhas ainda sinto um comichão nos olhos)...
O filme, que conta as aventuras do personagem conhecido no Brasil por Carlitos na corrida do ouro do Alasca, foi originalmente feito por Chaplin em 1925, mas a versão que assisti é uma remontagem também feita por Chaplin em 1942, quando então foi acrescentada uma narração (feita pelo próprio autor) e uma trilha musical. Na narração, o que me chamou a atenção foi a descrição do personagem Carlitos, que nunca recebe um nome, mas que é apresentado (inclusive nos créditos) como "lone prospector" e "little man" - dou destaque para os adjetivos "lone", solitário, e "little", pequeno.
Até onde o sucesso do personagem de Chaplin se deve a essa colocação dele como um outsider, pequeno e solitário? E até onde isso tem a ver com a visão que Chaplin tinha de si mesmo? Chaplin gostava de parecer pequeno e solitário?
Nos filmes de Chaplin que assisti é comum que Carlitos, uma criatura um tanto quanto patética e ao mesmo tempo esperta, se apaixone por alguma moça que não lhe retribui o sentimento de imediato (isso acontece no "Em busca do ouro"), mas que se encanta com o personagem no desenrolar da história.
Acho que a poesia está aí: Carlitos pode até cometer pequenos delitos, mas não é mau, só é fraco, pequeno, quase ingênuo e certamente tem um bom coração, e essa conjunção de características acaba por, no fim, conquistar os corações - especialmente da audiência, que reconhece as dificuldades de Carlitos com facilidade e que quer acreditar que o bem vence no final.
Não, não é preciso ter palavras, nem efeitos especiais sofisticados ou violência para encantar: basta ter poesia, e nisso Chaplin demonstrou ser um mestre. Não foi à toa que ele fez "O grande ditador"(outro filme maravilhoso que vi recentemente também numa tarde perdida), criticando abertamente Hitler e Mussolini antes da guerra (as filmagens começaram uma semana antes do início da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939): ele viu o que ninguém queria ou conseguia ver.
"The way of life can be free and beautiful. But we have lost the way." (trecho do discurso final de "O grande ditador")
(imagem: dança dos pães)
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Um conto de Natal
Passei o dia de ontem praticamente sozinho, num shopping center apinhado de gente. Comprando presentes de Natal encontrei um livrinho curto de Bertrand Russell, onde ele diz:
"A vida virtuosa é aquela inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento."
E me lembrei de outro filósofo, Jean Paul Sartre, que li ainda menino, e o que dele ficou em mim foi a idéia de que "ao escolher o homem que deseja ser, o homem está julgando como todos os homens devem ser. Em outras palavras: o homem está condenado à subjetividade humana. Somos responsáveis por toda humanidade" (essa citação tirei de uma página da rede, mas o texto que me marcou chamava-se "O existencialismo é um humanismo").
Eu, responsável por mim, entendi ainda menino que o que iria guiar minha vida era o amor, pela humanidade e pelo conhecimento - nada mais desde a infância me pareceu valer a pena. E cá estou eu, na véspera de Natal, décadas depois, reencontrando isso num texto de filosofia intitulado "No que acredito", escrito por um "agnóstico declarado" e "inveterado humanista"...
Pois bem, é esse o meu desejo de Natal a todos: que busquem amor e conhecimento, e que vivam vidas virtuosas. Eu tentarei viver a minha.
Feliz Natal prá todos.
(imagem: vídeo da Turma da Mônica da década de 70)
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
A insustentável leveza do ser
Lendo uns textos e participando de discussões aqui e acolá, confirmei a impressão de que jamais serei "popular": não sou radical o bastante - entre o machismo e o feminismo, o capitalismo e o comunismo, eu prefiro o humanismo.
E ninguém, nem mesmo Deus, parece querer nada moderado: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca." (Ap 3:15,16)
Mas eu, vomitado ou não, vou continuar do meu jeito, onda e partícula, mar e areia, flanando enquanto puder entre o céu e a terra...
(imagem: yin-yang)
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Sutil é o Senhor...
Há lugares em que provavelmente nunca porei meus pés - um deles acho que é a África. Não tenho nada contra o continente, mas não consigo imaginar nenhum motivo para me aventurar por lá, nem mesmo uma Copa do Mundo...
Sou um cientista (ou uma imitação barata de um) teórico, e meu assunto de interesse principal é a física. Na física, em geral, a geografia tem pouca - talvez, na verdade, nenhuma - importância. Um físico teórico quer saber de coisas - leis, teorias - que valem em qualquer lugar, não da Terra, mas de preferência, do universo.
No entanto, a África pode ser encontrada na história recente da física. Em 29 de maio de 1919, cerca de uma no após o final da Primeira Guera Mundial, haveria um eclipse visível numa faixa que atravessava o Oceano Atlântico - oportunidade ótima para se testar a nova e revolucionária teoria da relatividade geral, de Albert Einstein, que previa que a presença de um corpo com muita massa, como o Sol, seria capaz de deformar o espaço, de modo que até mesmo a luz das estrelas seria desviada de seu caminho normalmente retilíneo, e esse desvio poderia ser medido comparando-se a posição das estrelas no céu à noite, sem o Sol, com a posição delas na presença do Sol, no céu escuro de um eclipse.
Uma equipe comandada por um astrônomo inglês, Arthur Eddington, escolheu duas posições para ver o eclipse: a "isolada cidade de Sobral, no estado do Ceará", e a "ilha do Príncipe, uma colônia portuguesa um grau ao norte do equador, na costa atlântica da África" (estou citando trechos do livro "Einstein", de Walter Isaacson). Eddington foi para esse último lugar e as fotos do céu que ele tirou, embora não muito boas, quando em conjunto com as fotos tiradas no Brasil permitiram que se confirmasse a previsão da teoria da relatividade.
Einstein ficou famoso no final do ano, com o anúncio oficial dos resultados, mas antes disso casou-se com sua prima Elsa em 2 de junho de 1919 (pelo menos segundo o livro de Abraham Pais, "Sutil é o Senhor..."), apenas poucos dias depois do eclipse, convicto de que sua teoria era boa: ele teria dito a uma aluna,"Eu sabia que a teoria estava certa", e quando ela lhe perguntou o que ele faria se os experimentos não tivessem comprovado a teoria, ele teria respondido: "Aí eu teria pena de Deus nosso Senhor; a teoria está certa".
Enfim, até hoje, acho que nenhum africano ganhou algum Prêmio Nobel, mas a ciência independe de fronteiras - em tese, pode-se fazer ciência na África ou em cantos isolados como Sobral. Basta querer e, é claro, ajuda ter algo como a mente de um Einstein.
(imagem: um eclipse, pintado no século XVI; essa postagem tenta fazer parte de uma blogagem coletiva sobre a África)
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Red Queen
Na sexta passada fui a Ribeirão Preto participar de um encontro de blogs de ciência. Achei tudo bastante legal, o encontro, o campus da USP de Ribeirão, e as pessoas lá presentes (contei cerca de 30 participantes, entre palestrantes e ouvintes). Fiquei bem impressionado com alguns dos participantes e notei duas coisas: pouca presença feminina e preponderância de físicos e biólogos.
Uma pergunta simples de fazer é: onde estão, afinal, as mulheres blogueiras de ciência? Uma resposta é que a blogosfera é um ambiente masculino (não, não sou eu que acho isso: li isso numa reportagem - a "blogosfera é muito competitiva e masculina, é um jogo em que, para você ganhar, alguém tem que perder. Não é um lugar para conversas ponderadas.") e a ciência é tão ou mais masculina que a blogosfera (isso é, em parte, constatação minha: quantas mulheres já ganharam o Prêmio Nobel de ciências? E haveria necessidade de um prêmio de incentivo às mulheres cientistas - dado pela L'Oréal - se elas fossem comuns na ciência?). Logo, esperar que aparecessem muitas blogueiras (havia uma jornalista) era meio que esperar demais (eu não esperava)...
Quanto à presença de físicos e biólogos, não sei muito o que pensar. Acho que os físicos são seres que deveriam ter tentáculos (a definição não é minha, é de um dos participantes do encontro), e os biólogos creio que estão doidos para divulgar a biologia (é meio um desejo de afirmar que a biologia é tão boa quanto ou melhor que a física). Já a falta de químicos eu poderia explicar supondo que eles são menos nerds que o resto de nós cientistas (as pessoas mais "chiques" que trabalham comigo são químicas mulheres).
De resto, tive conversas e palestras muito boas, e recebi a indicação de dois livros: Red Queen, de Matt Ridley, e Sperm Wars, de Robin Baker. Curiosamente, eu havia acabado de ganhar (de um amigo ecólogo) o Red Queen, que fala sobre o papel do sexo na evolução da natureza humana. Comecei a lê-lo, lentamente, mas o assunto geral do livro parece ser a importância central do sexo para os seres humanos: tudo que fazemos tem algo a ver com sexo e reprodução, pois somos máquinas biológicas com um impulso básico de reprodução.
Reprodução, no caso humano, significa corte, sedução, conquista, um jogo entre machos e fêmeas. Bem, biologicamente falando os machos que se dão melhor são os que conseguem convencer mais fêmeas a cruzarem com eles. E o que eles usam para esse convencimento? Basicamente, demonstrações de qualidade reprodutiva e de criação da prole, demonstrações de saúde e poder.
Ei, espera um pouco! E a cultura humana, onde entra nisso? A minha resposta é que ela é mero reflexo da nossa biologia: na cultura humana valorizamos o quê mesmo? Assuntos que envolvem saúde e poder - fofocas sobre celebridades, por exemplo, são importantes pois ficamos sabendo quem é e como age quem está no "poder', e assim podemos imitá-los para talvez ter algum poder também. Outro exemplo é a importância da "economia" - os jornais dedicam mais páginas a isso do que à ciência. E etc, etc, etc.
As pessoas comuns estão envolvidas nesse ambiente cultural, em que importa muito ter poder, pois isso leva a melhores possibilidades reprodutivas. E no nosso ambiente cultural, a ciência não é vista como uma coisa que dê tanto poder assim. Logo, o interesse das pessoas por ciência, em geral, é pequeno (e a ciência acaba sendo feita basicamente por homens "mais fracos" que tentam de alguma forma "mostrar" suas qualidades). Simples assim.
Com mais tempo, talvez eu escreva mais sobre isso. Ou não (acho que devo falar mais sobre minha experiência como professor). Não importa mesmo: eu fui ao encontro de blogs, apareço na foto oficial e não fui lembrado em nenhum lugar. Não que eu devesse esperar ser lembrado, já que eu era um mero ouvinte, mas também não fiquei vendo tudo calado - eu participei, e percebo que parece que não. Paciência. Para mim, valeu a pena: vou comprar logo, logo, o Sperm Wars.
(imagem: foto oficial do I EWCLiPo - eu sou um desses aí, mas também apareço em outras fotos, no Flicker)
sábado, 13 de dezembro de 2008
Um curso de cálculo
Voltei correndo de Ribeirão Preto, onde fui participar de um encontro de blogueiros, e onde se discutiu para quê ou para quem divulgar ciência, e agora estou em uma sala de aula, aplicando uma prova de astronomia para uma turma de quase 40 alunos. Na prova anterior, com questões no formato de múltipla escolha retiradas de um livro-texto da área, envolvendo apenas conceitos mais ou menos básicos, sem nenhum cálculo ou conta por fazer, nenhum deles foi bem: a média da turma ficou abaixo de 2, numa escala que vai de 0 a 10.
A reclamação básica foi de que havia "pegadinhas", ou de que todas as alternativas pareciam muito iguais. De qualquer forma, a imensa maioria de meus alunos não conseguiu discernir o que havia de certo ou errado numa lista de opções, em que havia algumas opções muuuuuuuito erradas... Por outro lado, na primeira avaliação da disciplina, com questões dissertativas, eu recebi como respostas escritas, de diferentes alunos, "à noite a luz não consegue se propagar" e "a camada de ozônio fica na extratosfera".
Pois bem, no próximo período letivo não haverá astronomia. Irei para a mecânica clássica, onde as respostas envolvem cálculo, e onde eu já estive: da última vez apenas um aluno decidiu terminar o curso.
E assim caminha a humanidade.
(imagem: ensinar o quê para quem?)
domingo, 7 de dezembro de 2008
Einstein (2)
Logo depois de escrever sobre a exposição de Einstein fui jantar, e só hoje voltei à internet, onde encontrei por puro acaso (num site que eu frequento sempre, dos Lablogatórios) o seguinte texto (aparentemente de autoria de John Barrow, e publicado na revista Nature):
"Einstein restaurou a fé na inintegilibilidade da ciência. Todo mundo sabia que Einstein tinha feito alguma coisa importante em 1905 (e novamente em 1915) mas quase ninguém poderia dizer exatamente o quê. Quando Einstein foi entrevistado para um jornal holandês em 1921, ele atribuiu seu apelo popular ao mistério do seu trabalho para as pessoas comuns..."Bem, acho que a exposição que eu vi apelava justamente para esse sentimento, o do cientista como um mago ou semi-deus que faz algo incompreensível - e maravilhoso - para os humanos. Ou seja, é como se a ciência fosse algo especial, que deve ficar distante das pessoas comuns, preparadas para lidar apenas com coisas mais simples. Eu não apoio essa visão: para mim, existem poucas coisas que deveriam ser importantes para todo ser humano - e uma delas, certamente, é a ciência.
Enfim, eu acho que a humanidade só teria a ganhar se as pessoas se interessassem por ciência tanto quanto por economia, futebol ou novelas. Mas é só a minha opinião, e acho que não consigo convencer nem meus alunos nem minha família disso...
(imagem: Hécate, deusa grega da magia, dos fantasmas e da feitiçaria)
sábado, 6 de dezembro de 2008
Einstein
Bem, já faz algum tempo, uns quinze dias - ou mais - mas fui ao Ibirapuera ver uma amostra sobre Einstein. Saí de lá algumas horas depois, com uma caneca de 18 reais, e desanimado.
Vamos lá: no saguão, junto à bilheteria, havia um estande vendendo coisas sobre Einstein e lembranças da exposição. Havia alguns livros - e eu descobri que tenho e li a enorme maioria deles. Na verdade, a minha biblioteca pessoal tem muitos mais livros sobre Einstein. Ou seja, acho que sei algo sobre o sujeito. Além disso, sou professor na área de física. Ou seja, eu sei um pouco de relatividade, dentre outras coisas.
O que me frustrou na mostra? Ela me pareceu pobre demais, focando principalmente no lado humano de Einstein, e não deixando muito claro qual a importância dele para a ciência. Tá bom, fica claro que ele foi um grande homem, a equação E=mc2 estava lá, mas...
Mas o quê, homem? Bem, bem, bem: foi Einstein quem abriu as portas para as duas maiores revoluções conceituais da física - a unificação do espaço com o tempo (essa é a relatividade), e a elevação da incerteza e do acaso a um papel central no universo (essa é a mecânica quântica). Einstein pode até não ter gostado do resultado dessas revoluções, mas até suas críticas foram extremamente relevantes (um dos trabalhos mais importantes de Einstein é o do paradoxo EPR, que consiste numa "experiência pensada" destinada a mostrar que a mecânica quântica não é uma teoria completa).
Acho que o tamanho da contribuição intelectual de Einstein, de longe o mais brilhante cientista dos tempos modernos, não ficou claro na exposição. Faltou o confronto entre o pensamento antes de Einstein e depois dele. Faltaram mais brinquedos como o "simulador de movimento browniano", ou o "simulador de buracos negros" (que comeu cinco centavos meus). Faltou mais luz. Faltou deixar claro que Einstein poderia ter ganho uns cinco Prêmios Nóbel, mas só ganhou um, por uma das menores das suas contribuições. E faltou, meu Deus, muuuuuito mais da cosmologia moderna, que é filha direta do trabalho de Einstein.
Como eu disse a um amigo, num rasgo de humildade, eu faria melhor se a exposição estivesse a meu cargo. Falando seriamente, acho que faltou deixar a exposição a cargo de alguém que realmente visse Einstein como modelo...
(imagem: a mecânica quântica e a relatividade relaxando)
Era uma vez no Oeste
Fiquei sozinho em casa no sábado à tarde, e decidi ficar deitado no sofá. Liguei a TV e encontrei por acaso "Era uma vez no Oeste", de Sergio Leone. Eu já tinha assistido o filme antes, numa madrugada qualquer, mas revê-lo foi... deslumbrante. Nunca os filmes atuais me pareceram tão ridículos diante da grandeza mostrada neste western italiano. Nunca a atualidade me pareceu tão sem cor diante dos anos 60 (o filme é de 68).
Nada de bonitões como Brad Pitt: os homens que aparecem são todos feios e sujos, mesmo os mocinhos. Nada de Brad Pitt ou George Clooney: ao invés disso, closes de Charles Bronson. Closes, muitos planos lentos e nada de ação desenfreada. Diálogos lentos e simples. Um roteiro simples - até mesmo previsível - e um trabalho de câmera que não sei descrever. E poeira, muita poeira...
Fui ao imdb e vi que lá o filme aparece entre os mais bem votados. Mas isso não me contentou: fui ver também os comentários de quem odiou - e encontrei lá o seguinte trecho (que me pareceu uma boa amostra dos comentários contra o filme): "I watch movies for entertainment. Perhaps this has some sort of literary value, but its just too slow for me." Ou seja, eu vi exatamente o que esse comentarista viu no filme, só que eu gostei - muito.
Vale a pena ressaltar que há no site do imdb também um fórum de discussão, onde um título me chamou a atenção: "You idiot females under 18..." Não conheço as mulheres tanto assim (acho às vezes que quase não as conheço), muito menos as que têm 18 anos hoje, mas tenho quase certeza que esse é o tipo de filme que não agrada as mocinhas de hoje.
(imagem: Monument Valley, ou "o Oeste")
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