sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Em busca do ouro



De ressaca da ceia de Natal, fiquei a tarde toda jogado no sofá. Zapeando nos mil canais da TV a cabo, encontrei por acaso um filme de Charles Chaplin, "Em busca do ouro". Para quê? Tive de me segurar - muito - para não chorar (e mesmo agora quando escrevo essas linhas ainda sinto um comichão nos olhos)...

O filme, que conta as aventuras do personagem conhecido no Brasil por Carlitos na corrida do ouro do Alasca, foi originalmente feito por Chaplin em 1925, mas a versão que assisti é uma remontagem também feita por Chaplin em 1942, quando então foi acrescentada uma narração (feita pelo próprio autor) e uma trilha musical. Na narração, o que me chamou a atenção foi a descrição do personagem Carlitos, que nunca recebe um nome, mas que é apresentado (inclusive nos créditos) como "lone prospector" e "little man" - dou destaque para os adjetivos "lone", solitário, e "little", pequeno.

Até onde o sucesso do personagem de Chaplin se deve a essa colocação dele como um outsider, pequeno e solitário? E até onde isso tem a ver com a visão que Chaplin tinha de si mesmo? Chaplin gostava de parecer pequeno e solitário?

Nos filmes de Chaplin que assisti é comum que Carlitos, uma criatura um tanto quanto patética e ao mesmo tempo esperta, se apaixone por alguma moça que não lhe retribui o sentimento de imediato (isso acontece no "Em busca do ouro"), mas que se encanta com o personagem no desenrolar da história.

Acho que a poesia está aí: Carlitos pode até cometer pequenos delitos, mas não é mau, só é fraco, pequeno, quase ingênuo e certamente tem um bom coração, e essa conjunção de características acaba por, no fim, conquistar os corações - especialmente da audiência, que reconhece as dificuldades de Carlitos com facilidade e que quer acreditar que o bem vence no final.

Não, não é preciso ter palavras, nem efeitos especiais sofisticados ou violência para encantar: basta ter poesia, e nisso Chaplin demonstrou ser um mestre. Não foi à toa que ele fez "O grande ditador"(outro filme maravilhoso que vi recentemente também numa tarde perdida), criticando abertamente Hitler e Mussolini antes da guerra (as filmagens começaram uma semana antes do início da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939): ele viu o que ninguém queria ou conseguia ver.

"The way of life can be free and beautiful. But we have lost the way." (trecho do discurso final de "O grande ditador")

(imagem: dança dos pães)

Um comentário:

Ana Paula disse...

Era um gênio. E os gênios não precisam de quase nada.