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Li esta semana, num guia de lançamentos de livros, que estão sendo relançados no Brasil vários livros com a obra de Shakespeare, em novas edições. Shakespeare é fantástico, um prodígio que merece reconhecimento.
Eu, pessoalmente, o encontrei pela primeira vez quando saía da adolescência. E foi um encontro por meio de quadrinhos - isso mesmo, eu li Hamlet, pela primeira vez, em quadrinhos! Muito impressionado, saí para procurar o texto integral nas livrarias da minha cidade e, para meu espanto maior, não encontrei em nenhuma - isso mesmo, todas as livrarias da minha cidade, uma cidade de mais de 500 mil habitantes, não tinham nenhuma obra de Shakespeare. E tinham, é claro, todos os livros de Paulo Coelho... Dá para imaginar um mundo sem Shakespeare?
Enfim, é de se louvar o relançamento da obra de Shakespeare, em português, no Brasil. Pena é que os preços anunciados não são muito palatáveis: entre 110 e 350 reais cada volume. Mas isso é o Brasil: quem lê Shakespeare mesmo? E mais: quem deve ler Shakespeare mesmo?
No guia de lançamentos, esta semana, não havia Shakespeare apenas. Havia, é claro, mais uma multidão de outros livros de outros autores. Milhares de livros devem ser lançados por ano no Brasil, com uma multidão de autores inéditos ou não. São multidões, creio eu, de candidatos potenciais a novos Shakespeares. Já imaginou se aparece um novo Shakespeare mesmo e o quanto a humanidade ganharia com isso?
Eu, no entanto, quando vejo essa exuberância das letras, fico pensando, do meu canto de mundo, se não seria melhor aparecer um novo Einstein: já imaginou se aparece um novo Einstein mesmo e o quanto a humanidade ganharia com isso? E quantos candidatos potenciais a novos Einsteins existem? Quantos querem estudar ciência?
Restam os imbecis como eu, que nunca serão gênios. Melhor: resto eu, que sou imbecil - os outros, são todos gênios, por mera e simples comparação. A literatura é muito mais importante que a ciência, sempre foi e sempre será: a ciência não é nada, apenas "uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada", enquanto a literatura é "o material sobre o qual os sonhos são construídos"... Meus filhos, se forem criativos e inteligentes, muito mais facilmente serão artistas, e não cientistas.
(imagem: Hamlet observando o que restou do pobre Yorick, numa clássica cena que fala da efemeridade da vida humana)