quarta-feira, 13 de maio de 2009

De profundis


É manhã: vou ao restaurante do hotel para o desjejum e me encontro, para minha surpresa, refletido na concavidade da colher do café. O sol brilha por mil janelas e parece me dizer que o mundo é mais belo e profundo do que parece.

Profundo? Não sei. O café parece raso, a mesa também, assim como o pão, e as pessoas nas outras mesas, essas eu sei, não existem de verdade, são apenas imagens formadas na superfície da minha retina. O mundo não é profundo, eu talvez seja. O mundo não tem poesia, eu talvez tenha. Ou não: talvez eu só exista como uma imagem superficial em colheres, retinas e fotos, e sei lá mais aonde, e a poesia que eu sinto em minhas veias seja só ilusão.

Acho que no fundo, no fundo, é isso: tudo é ilusão. E a beleza que eu procuro, pela qual me desespero, não existe, a não ser como uma imagem no fundo da minha alma rasa. Alma rasa, tão rasa que só vive em folhas de papel e telas de computador (como essa) - sou bidimensional, um verme chato, chato em todos os sentidos...

Mas esse sol, que quase nunca vejo em São Paulo, diz diferente. Onde, meu Deus, posso encontrar esse calor? Amar é isso: é ser atravessado pela luz do Sol, e espantar a escuridão das profundezas da alma. Eu amo - e não devia: não há ninguém por perto. Tudo é ilusão rasa, só não o sol e o meu amor sem destino.

(imagem: um pouco de latim)

2 comentários:

Ale Carvalho disse...

Atlas, concordo com tua reflexão. Muitas vezes me sinto assim. Hoje recebi uma sugestão de leitura da revista "The Atlantic", um texto que diz 'What Makes Us Happy?" sobre uma pesquisa da Universidade de Harvard. http://www.theatlantic.com/doc/200906/happiness

Dedalus disse...

Cara Ale,

O meu problema é: o que fazer com esse sentimento? Obrigado pelo link!

Um abraço!