quinta-feira, 12 de março de 2009
Górgias
É de bom-tom (com hífen, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa On-line Priberam) nunca discutir com mulheres, advogados e filósofos: mesmo que você esteja certo, eles irão usar qualquer coisa que você disse para provar que você está errado... Escrevo isso apenas para introduzir um comentário que vou transformar numa postagem:
"Dedalus,
Nem sempre as palavras são o mais importante: às vezes são as ideias (sem acento, de acordo com a nova ortografia). Por exemplo:
"Assim funciona a ciência: observação da natureza, criação de hipóteses, experimentação e, se tudo der certo, formulação de regras gerais."
Isso aí, que do ponto de vista gramatical é perfeito, é uma baita balela chamada INDUTIVISMO. Posso lhe PROVAR que a visão acima não tem o menor fundamento do ponto de vista lógico, primeiro porque induções não são válidas e, segundo, porque as observações são previamente informadas por teorias tomadas tacitamente.
Ah... só faltou você falar que os erros primários de física eram em concurso público, que por sinal rendem no mínimo R$ 5.200,00 líquidos em início de carreira. Erros ortográficos em blogs não são nada. Seu argumento peca por IGNORATIO ELENCHI.
Saudações, KNX"
O que eu posso dizer, senão agradecer ao KNX pela lição? Como eu já escrevi aqui, "eis, para o bem e para o mal, minha ignorância exposta. Outras vezes errarei, e gostaria de ser corrigido quando isso acontecer (de preferência amigavelmente, é claro): errar é humano, e continuar no erro não é muito cool... Além, disso todo cientista deve admitir que pode estar errado, mesmo que isso não seja muito bom para sua imagem."
De qualquer modo, quanto ao teor do que foi escrito pelo KNX, acho que devo fazer uns poucos comentários. Primeiro, acho que não é necessário usar as novas regras ortográficas ainda: acho que há um prazo de adaptação para idiotas jurássicos como eu.
Eu não conhecia o termo "IGNORATIO ELENCHI" (latim? grego? uma mistura dos dois?) e, portanto, tive de recorrer à moderna santa protetora dos ignorantes, a Wikipedia (com inicial em maiúsculo ou minúsculo?). E para quem, como eu, não for um filósofo ou especialista em lógica, eis o que ela me disse: esse termo denomina uma falácia informal conhecida também como conclusão irrelevante, que acontece quando o argumento apresentado, que pode até ser verdadeiro, não se aplica ao que está sendo discutido.
Sobre o indutivismo, é uma famosa balela para os filósofos: por exemplo, um filósofo, viajando de trem pelo campo vê uma ovelha branca - ele só pode afirmar que ele viu uma ovelha com um lado branco, mas não que as ovelhas são brancas... Feliz ou infelizmente, para nós seres humanos comuns, não preocupados com a lógica em profundidade, conclusões obtidas por indução são, em geral, boas primeiras aproximações, mesmo que se revelem falsas depois, numa análise mais cuidadosa. E é por isso mesmo que temos a tendência a usar a indução quase sempre. Do ponto de vista técnico, eu, pessoalmente, acho bem mais legal uma das definições usadas na Desciclopédia: "Na Filosofia, a indução é um processo no qual você faz todo mundo de idiota, pensando de uma forma diferente da realidade, mas que revigora o SEU ponto de vista; bem, é mais ou menos por aí..."
Quanto à existência de idéias erradas (e outros erros) em meus textos, eu admito: eu erro! (Ah, é, eu já tinha admitido isso antes...) Mas o que eu quis dizer é o seguinte - a ciência funciona com hipóteses, tiradas sabe-se Deus de onde, seja por observação da natureza, seja por leitura de blogs, seja por iluminação divina, desejo de fama, plágio, e sei lá mais o quê. Além disso, também faz parte da ciência a observação da natureza - há um mundo de biólogos, para dar um exemplo concreto, que vivem disso. Outra coisa que existe na ciência é a experimentação - afinal, existem laboratórios de pesquisa, e espero que lá alguém faça experimentos. E, finalmente, alguns cientistas, mas nem todos, tentam bolar regras gerais, seja por iluminação divina, desejo de fama, plágio, e sei lá mais o quê. Em nenhum instante eu disse (pelo menos eu acho que não) que todo cientista faz tudo isso ou que há uma única seqüência (com trema, por eu ser conservador) lógica correta que deve ser usada na ciência envolvendo todos esses fatores.
Para dar um exemplo concreto, vamos lá: eu, às vezes, verifico algo - por exemplo, ao ler um texto me salta aos olhos uma palavra, sei lá, "eclipce". Sou capaz de fazer essa observação - é o tal "me salta aos olhos" - por tacitamente imaginar que ela está escrita de forma inadequada, ou seja, por acreditar que existe uma forma adequada de escrevê-la. Consulto um dicionário e vejo que lá ela aparece como "eclipse". Então formulo uma ou mais hipóteses para explicar o que vi: o sujeito escreveu de forma apressada, ou com descuido, ou não conhecia a palavra escrita, ou não sabia que existem corretores ortográficos, ou sei lá. Dessas hipóteses, escolho uma - por exemplo, o sujeito não sabia escrever a palavra. Acumulando várias dessas observações, reforço minha hipótese: vários sujeitos não sabiam escrever várias palavras, por não terem hábitos de leitura. Daí eu já passei para uma generalização, e "facinho", chego, como conclusão, à formulação de uma regra geral: as pessoas da minha amostragem não sabiam escrever várias palavras por não terem hábitos de leitura, e isso é apenas uma amostra de como as pessoas de hoje são pouco informadas. Claro é que essa pode ser uma conclusão totalmente equivocada, mas, bem, é minha conclusão: ninguém precisa aceitá-la.
Erros ortográficos num blog não são nada mesmo. Mas existem. Em blogs, jornais, na TV (ontem vi na legenda de um seriado um policial pedir a "fixa" de um suspeito) e mesmo em livros as pessoas escrevem mal. O que isso significa? Nada, talvez. Para mim, entretanto, significa a ponta de um iceberg: se até doutores, que são pessoas com alto grau de educação formal, cometem esses erros, que são muito fáceis de evitar (minha filha de sete anos já usa um corretor ortográfico no computador - eu fiquei espantado vendo ela fazer isso), o que mais se pode esperar?
Enfim, para mim, cometer barbeiragens num concurso público ou escrever errado num blog são sintomas de algo maior, que é... deixa para lá! Já escrevi demais, e para bom entendedor meia palavra basta. Seguindo Sócrates (ou seria algum outro filósofo?), "só sei que nada sei" e "existe apenas um bem, o conhecimento, e um mal, a ignorância"...
(imagem: Sócrates, a quem se atribui a frase "Education is the kindling of a flame, not the filling of a vessel.")
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3 comentários:
Dedalus,
O Osame fez um post ótimo exatamente sobre o assunto que estamos discutindo. Chama-se: Cinismo científico e criatividade científica, do dia 07/03. Dê uma olhada pois vale a pena.
KNX.
Dedalus,
lendo esse último post e pensando sobre ele, chego à seguinte conclusão:você cometeu um acerto e um erro. Não veja esse comentário como um julgamento, mas como uma colaboração minha, para a discussão.
O acerto está em mencionar erros que são cometidos por escritores com alta escolaridade.Você fez bem em chamar a atenção para esse fato.Às vezes eu observo algo semelhante e fico preocupada. A linguagem usada por alguns comentaristas de blogs, não é exatamente humana. É algo mais parecido com grunhidos e zumbidos. Em outros casos é uma linguagem de pequenos grupos, só acessível para alguns.Isso vai afetar a comunicação de alguma forma.Apresentar a escrita correta é uma obrigação do escritor, seja o seu texto publicado em que meio for. Divulgar incorreções é uma forma de deseducar.
Com relação ao erro, eu diria que você cometeu um descuido ou uma indelicadeza ao fazer indicações explícitas (apesar de não ter citado nomes) da origem dos erros. Mas ja se desculpou por isso,certo?
Erros de português ou de etiqueta são cometidos com frequência. No mundo civilizado, governantes e autoridades, pedem desculpas sem maiores dificuldades. Acho até que o reconhecimento do erro já foi feito por todos aqueles que deveriam fazê-lo.
Um abraço
Ruth
P.s. caso haja algum erro nesse longo comentário, peço desculpas.
Dedalus,
Também um comentário nada a ver com esse post... vi o vídeo do youtube que você mandou e vou postá-lo no blog da disciplina da biologia animal da UFABC (www.zoologiaufabc.blogspot.com). Quem sabe os alunos não se empolgam e criam um coral de Natal cantando algo parecido?
Abraço
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