domingo, 3 de maio de 2009

O príncipe sapo


Sou pobre, feio, baixinho e ando vestido de maneira patética. Acho que sempre fui assim. E por isso mesmo tomei tantos foras que nem me lembro quantos foram. Talvez pior que os foras reais, foram os que eu levei na minha imaginação, por sentir que não estava à altura... Demorei bastante para entender alguma coisa desse assunto de atração entre homens e mulheres. Mesmo hoje não posso dizer que entendo algo, mas acho que aprendi a maximizar minhas possibilidades: tive filhos.

Acho que as mulheres, de uma forma geral, se importam muito mais com a aparência que os homens - para mim, as indústrias de cosméticos, vestuário e cirurgias estéticas estão aí para confirmar isso. Eu nunca dei muita "sorte" com as moças por conta de minha aparência: eu aparento valer muito pouco (e talvez valha isso mesmo, mas isso é outra história).

E é nas mulheres que eu tenho visto um certo tipo de críticas ao atual presidente do Brasil que me fez lembrar disso tudo. Tenho visto muitas mulheres, a maioria de classe média, criticando o presidente Lula por ele ser um semi-analfabeto, sem estudos, que não lê, por ser um "bebum", por dar maus exemplos, por cometer gafes, etcetera e tal. Na minha humilde leitura pessoal o que essas senhoras estão vendo não é o presidente, mas uma imagem dele, que não sei se é real, a aparência do sujeito, e não a sua essência, como se estivessem escolhendo alguém para namorar.

Eu explico: para mim parece que essas moças, quando moças, escolheram a dedo seus parceiros e pretendentes, e ao olhar para o presidente não o vêem como alguém que elas teriam escolhido; assim, não conseguem aceitar que a maioria das pessoas do país o tenha escolhido para presidente. As críticas que ouço delas não me parecem críticas políticas, com argumentos racionais, mas puro "preconceito" (a palavra que eu queria usar não era essa, mas eu venho da classe social mais baixa, e meu vocabulário não é tão bom assim).

Me lembro claramente de uma vez, há muitos anos, quando, no metrô de São Paulo, vi duas mocinhas bem-criadas que iam para um cursinho na Avenida Paulista. Era época de eleição, e eu não pude deixar de ouvir a conversa delas: frente à pergunta "em quem você vai votar?", uma delas respondeu "no fulano, pois ele é um gato!" Devo ressaltar que, pela aparência, minha e delas, não eram moças que eu sequer pudesse abordar - se eu o fizesse provavelmente seria fulminado por monstruosos olhares de desprezo...

A maioria das pessoas acho que pensa política assim, tão racionalmente quanto escolhe com quem vai fazer sexo. E acho que é em parte por isso que estamos na situação atual, com as instituições públicas em frangalhos: ninguém parece querer realmente entender a ideologia que cerca este ou aquele político, muito menos o que significa ideologia. Todo mundo se guia pelas aparências e se deixa seduzir por princípes - e magos - que no fundo, no fundo, querem apenas um belo e polpudo dote...

Quanto a mim, nunca imaginei ser um príncipe, e por isso, vivendo ainda num pântano, tenho minhas simpatias por sapos, barbudos ou não.

(imagem: ilustração do século XIX para o conto dos Irmãos Grimm que dá título a essa postagem)

3 comentários:

Unknown disse...

Na época da eleição do Collor ouvi muita gente dizendo que votaria nele porque era mais bonito.Quer dizer,aparência conta sim,infelizmente...

Ruth Mendes disse...

Dedalus,
há pessoas adultas que insistem em manter um comportamento adolescente em alguns aspectos da sua vida. Seja nos relacionamentos(sonham com atores e atrizes de Hollyood)
na política ("todos os políticos são iguais, etc.
Quanto à sua tese de que existe uma relação entre a escolha política e atração física...não sei...acho temeroso fazer uma afirmação desse tipo sem uma pesquisa científica como base.O que eu sei é que os brasileiros (e não só eles) tratam a política com muito descaso.

Um abraço.
Ruth

Dedalus disse...

Cara Ruth,

Obrigado pelo seu comentário certeiro! Na verdade, na verdade, eu queria colocar na postagem um link para um "press release" que vi falando sobre um estudo que tentou mapear que áreas do cérebro se "ligam" quando as pessoas pensam em política, mas não consegui encontrá-lo... Enfim, eu, nessa postagem, estou apenas fazendo uma observação pessoal, não científica, sobre um comportamento que me pareceu bastante comum: julgar pelas aparências. A maioria dos políticos sabe o quanto a aparência, a imagem pessoal, é importante: na verdade, eleições são concursos de popularidade, não de escolha das melhores idéias ou das pessoas mais representativas ou capazes.

Um abraço!