Eu ando meio irracional estes dias. Por exemplo, sem mais nem menos me deu vontade de ler poesia. Mas não qualquer poesia, e sim João Cabral de Melo Neto. Fui ao shopping mais próximo de minha casa, que se gaba de ter "mais de 63 mil metros quadrados" e receber "mensalmente 1,3 milhão de clientes", e na única livraria existente lá, recém-reinaugurada, entre prateleiras e bancadas repletas de coisas como "Crepúsculo" e "Lua Nova", não encontrei livros do autor que eu buscava. Típico de um mundo de periferia, e algo que já tinha me acontecido antes, há uns 15 ou vinte anos, quando, na mesma cidade, busquei Shakespeare e também não encontrei.
Mas não saí da livraria de mãos vazias. Embora sem tempo, senti vontade de fazer algo que eu fazia em minha adolescência, que era escutar os livros e esperar um deles me chamar. Ei! Pera lá! Escutar livros? Sim, isso mesmo. Eu tinha o hábito, há muito perdido, de ir a bibliotecas (eu era pobre e não frequentava livrarias) e andar sem direção entre as prateleiras e estantes para ouvir algum livro me chamar.
Isso é algo totalmente irracional. Todos sabem que livros são objetos inertes, que não fazem nada se você não fizer algo com eles. Livros não chamam pessoas. E, no entanto, era assim que eu escolhia meus livros em bibliotecas, muuuuuitas vezes. E não só livros: discos também. E filmes também. Eu fazia escolhas assumidamente irracionais, impulsivas talvez, malucas certamente. E foi assim, "ouvindo o universo", que escolhi fazer física, por exemplo.
Lá vou eu divagando de novo. O que eu quero dizer é que eu parei no meio da livraria do shopping e, de repente, comecei a caminhar sem rumo, até chegar numa prateleira onde Karl Popper me chamou. Eu nunca li nada do sujeito, nem saberia dizer que livros ele escreveu e, assim mesmo, peguei o livro que me chamava e o comprei, sem nem perguntar o preço antes.
Eis como cheguei ao seguinte trecho:
"Comecemos pelo conhecimento. Vivemos numa época em que, mais uma vez, o irracionalismo virou moda. Por isso, quero iniciar com a confissão de que vejo o conhecimento das ciências naturais como o melhor e mais importante conhecimento que temos - embora não o considere nem de longe o único."Acho que, ao menos por ora, não tenho nada mais a acrescentar.
(imagem: Philosophy, mural pintado por Robert Lewis Reid, presente na Biblioteca do Congresso, em Washington, nos Estados Unidos; segundo a wikipedia, a pintura é acompanhada da legenda "HOW CHARMING IS DIVINE PHILOSOPHY" - eu não pude deixar de notar que a moça está com um seio à mostra: seria um vislumbre da verdade?)
Nenhum comentário:
Postar um comentário