segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A fogueira das vaidades



Moro na periferia de uma grande cidade, onde as pessoas mais jovens não têm nomes como Paulo, João ou Pedro: os pais da garotada daqui acham que é necessário sofisticar, e para isso abusam, especialmente, de k's e y's, letras que até recentemente creio que não faziam parte do alfabeto usado no Brasil. Mas não é só isso: há todo um contexto cultural maior que eu não sei explicar ou definir; quando muito posso dar exemplos, e essa postagem é um pouco para isso.

Bem, o sonho dos pais dessa garotada é que seus filhos tenham um futuro. O que isso quer dizer realmente, eu não sei, mas o que acontece de fato é que os mais sortudos desses rapazes e moças vão parar em cursos universitários de instituições privadas, que existem às dúzias por aqui.

Foi numa dessas instituições que minha esposa, por exemplo, se formou professora de português. Eu, como professor de uma universidade pública, por acaso me ofereci para substituir por uma semana uma colega que ia viajar, ficando no lugar dela nas aulas de uma disciplina do tipo "Psicologia da Educação". Uma das aulas que eu peguei tinha como tema um sujeito chamado Henri Wallon. Perguntei à minha senhora se ela já tinha ouvido falar do sujeito e a resposta foi, é claro, um sonoro não. Skinner? "Quem?" Enfim, acho que é assim que se forma a maioria de nosso professorado.

O mais interessante é que essas instituições privadas oferecem não só cursos de licenciatura, mas também outras coisas muito interessantes, como turismo. O que leva um sujeito a buscar um curso universitário de turismo eu não sei mesmo, pois jamais me passou pela cabeça estudar algo desse tipo, mas eu entendo que há razões que são muito diferentes das minhas.

Pois foi nesse contexto que surgiu por esses dias uma personagem contendo o y fundamental em seu nome, construindo seu caminho para a fama. "Celebridade miojo" parece ser o termo apropriado: feita em três minutos, consumida em cinco. Todos se comportam como era esperado, especialmente a imprensa, que se vê como A defensora da liberdade e da justiça (o artigo é com letra maiúscula, mesmo). Opiniões para todo lado, faltava a minha: isso me lembra "A fogueira das vaidades", o livro, não o filme. E a moça me lembra, por razões estéticas e culturais, Joelma, do Calypso (banda que também tem o y necessário): os vestidos de uma combinam perfeitamente com os da outra.

(imagem: "Vaidade", de Frank Cadogan Cowper, o último dos pré-rafaelitas)

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