domingo, 8 de novembro de 2009
O pequeno príncipe
Eu já dei palestras de divulgação científica algumas vezes. É muito comum que eu mostre uma sequência de imagens que começa na Terra, passa pela Via Láctea, com seus bilhões de estrelas, e termina com uma foto que contém várias galáxias, quando então eu afirmo que estima-se que há ao nosso redor no mínimo bilhões de galáxias, cada uma com seu bilhão (ou centenas de bilhões) de estrelas. Acho que assim fica na audiência a óbvia mensagem de que o ser humano é ridiculamente pequeno.
Eu aprendi cedo que sou pequeno. Aprendi a conviver com isso, com esse sentimento de "pequenez" todos os dias, todas as horas e, em especial, quando me olho no espelho, ou quando me vejo em fotos. Cada homem é pequeno, ínfimo mesmo, e eu, dentre todos, sou um dos menores. No entanto...
Ridiculamente, eu sonho. Como todo ser humano, às vezes eu cedo às minhas fantasias. E aí vem a realidade: "Don't get any big ideas / They're not gonna happen". É sempre isso, simples assim: "As estrelas são belas (...) O deserto é belo". Eu não. Eu, pequeno, não tenho nenhuma gota de beleza ou nobreza, mas caí no deserto e quero voltar para o meu planetinha, já que sei que meu reino não é deste mundo... Pena que eu não leve jeito para conversar com serpentes.
(imagem: "As estrelas são belas por causa de uma flor que não se vê..."; fotografia produzida pelo European Southern Observatory.)
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6 comentários:
Prezado Dedalus,
Saint-Exupèry, um verdadeiro herói. Grande escritor, homem de ação, aviador e caçador de nazistas.
Em tempo, o que importa é a grandeza do espírito.
KNX.
Caro KNX,
Parece que você esqueceu o principal feito do cara: ser o pensador mais influente entre todas as candidatas a miss...
Um abraço!
PS: ter grandeza de espírito é legal, mas acho que hoje eu preferia a minha parte em dinheiro...
Dedalus,
A parte em dinheiro costuma boa. Por incrivel que possa parecer, tem um sermão do John Wesley (sou metodista, graças a Deus, hahahaha), onde ele defende que não há nada de mau em querer sua recompensa terrena. Toda a questão está em o que vc faz dela.
Saudações amistosas,
KNX.
Realmente Saint Exupery é um dos mais influente entre as misses. Mas eu gosto de coisas distribuidas inter-subjetivamente. Por exemplo, uma das poucas peças musicais eruditas que alcançaram popularidade foi o trenzinho caipira do Villa-Lobos. Estive ouvindo isso por causa dos 50 anos da morte dele. Descobri que há como ensinar ciencia com essa música. Quer ver? Lá vai...
Onde está o Efeito Doppler em Villa-Lobos?
Ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=pjDZUetrDCM
Grande abraço, KNX.
Caro KNX,
Acho que mais uma vez você me pegou... Não manjo nada de música erudita e, para dizer a verdade, praticamente nunca tinha ouvido Villa-Lobos (eu, quando muito, conseguiria citar como obra dele apenas "O trenzinho caipira"). Indo ao YouTube como você indicou, não vi o efeito Doppler, mas eu tenho uma explicação simples para isso: a meu ver, a música trata da impressão que um viajante dentro do trem pode ter, até a parada do trem...
De qualquer forma, obrigado demais pelos seus comentários: acho que eles enriquecem muito minha vida.
Um enorme abraço!
Oi Dedalus,
Por volta de 1 min da gravação há várias notas que "soam" como apitos (tan-nam... tan-nam... tan-nam...) em tons gradualmente mais graves. É como se o trem estivesse se afastando de um ouvinte parado. Ouça de novo e veja se não parece.
Bom... é a minha interpretação. Acho que o Villa-Lobos não fez isso por acaso. É uma peça meio impressionista.
grande abraço, KNX.
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