sábado, 21 de novembro de 2009

A interpretação dos sonhos



Acordei hoje me lembrando de dois sonhos distintos. Num deles, eu era irmão do doge de Veneza que, tendo contrariado várias pessoas, era traído por elas e passava a perseguí-las. Eu, no entanto, era amigo do grupo de perseguidos e gostava de meu irmão, portanto, tinha que me manter em cima do muro. No outro sonho, o contexto era totalmente outro: eu, nos tempos atuais, estava tendo um caso amoroso que, se descoberto, causaria um escândalo. Mas havia janelas e um fotógrafo com uma super máquina  fotográfica... Enfim, eu consegui pegar o sujeito, que me chantageava, e destruí as fotos.

Eu muitas vezes me surpreendo com a capacidade inventiva de meu inconsciente (ou seria o meu subconsciente?). Já tive sonhos de vários tipos, alguns de interpretação óbvia, mas outros que me deixam boquiaberto. Já tive sonhos em que fui um cavalheiro inglês do século XIX, uma mulher da corte francesa e até mesmo um alienígena de uma raça em guerra e ameaçada de extinção (aliás, a ficção científica é um tema comum de meus sonhos).

Outra noite sonhei que havia um golfinho branco assassino assustando as pessoas. Na caça por esse bicho havia o capitão de um barco que - surpresa! - era o golfinho disfarçado... Minha análise? Eu misturei Tubarão, Moby Dick e um episódio dos Simpsons em que há uma revolta dos golfinhos e criei a minha estória original. Ou seja, meu inconsciente trabalhou fazendo um ótimo processo de reorganização de pensamentos, unindo um filme, um livro e um seriado de TV, para criar uma estória com moral: Tubarão e Moby Dick falam do medo e da luta constante da humanidade diante das forças irracionais da natureza, mas meu inconsciente me alertou de que essas forças estão também aqui entre nós, humanos, disfarçadas...

Meus sonhos são muito mais ricos que isso, porém - e é algo assustador. Exemplo? Ainda adolescente, tive um sonho longuíssimo dividido em várias partes (eu acordei entre cada uma delas, mas ao voltar a dormir o mesmo sonho continuava). Nesse sonho eu era um francês algo rico que desagradava alguns poderosos da época. Eu decidia fugir mas sabia que estariam à minha procura. Eu tinha que ir embora da França e decidia ir para a Inglaterra, onde tinha amigos, mas sabia que estariam me esperando em Calais; logo fui para Marselha. E é aqui que devo fazer a primeira pausa: eu não sabia, na época, onde eram Calais e Marselha. Eu sei que não sabia por ter ficado assombrado com os nomes, que para mim eram diferentes e que fui buscar numa enciclopédia (lembrem-se, meninos e meninas, na época da minha adolescência não havia internet, e nem mesmo TV a cabo...). Bem, Calais, eu descobri, é um porto no norte da França, próximo à Inglaterra, enquanto Marselha é um porto no sul da França (na direção oposta...). Juro: conscientemente, eu não sabia disso.

Entretanto, não parou por aí: eu cheguei à Inglaterra e para me esconder melhor embarquei num navio que ia de lá para outro lugar. Na saída do porto, ouvi o capitão fazer um discurso que falava de estarmos indo descobrir novas terras para a glória do rei, George III. E todos gritavam algo como "longa vida ao rei". Aqui vem outra pausa explicativa: George III? Quem foi esse sujeito? Eu acordei com o nome me incomodando (junto com Calais e Marselha) e fui a uma enciclopédia em busca dele: ele foi rei da Inglaterra de 1760 a 1820, famoso por duas coisas - uma doença que o deixou louco e a independência dos Estados Unidos, mas eu não sabia disso, pelo menos conscientemente. Houve descoberta de novas terras pela Inglaterra nessa época? Bem, houve James Cook, que fez uma viagem famosíssima em 1770 para mapear as ilhas do Pacífico. Na época, eu não sabia disso.

E a minha estória não termina aí: na terceira parte do meu sonho eu vi o naufrágio de um bote que saía do barco para explorar uma região no Canadá. Eu me lembro bem disso: era o Canadá. O que o Canadá tem a ver com o resto desse sonho? Oras, para minha imensíssima surpresa, James Cook foi o primeiro a mapear a região da Terra Nova, no Canadá, entre 1762 e 1767, numa viagem que permanece até hoje "largely unknown and ignored".

Ora bolas, como é que o inconsciente de um adolescente de periferia foi montar um roteiro tão convincente, tão articulado, sozinho? Eu, sinceramente, até hoje não entendo. Posso, quando muito, supor que minha "alma" tem capacidades que eu desconheço. E essas capacidades já se manifestaram muitas vezes: eu poderia contar aqui várias outras estórias "interessantes", que mostram que eu dormindo enxergo muito mais que acordado...

Para finalizar, deixo aqui uma última historinha: outra manhã, acordei com um susto imenso, daqueles causados por pesadelos. Contudo, não era um pesadelo: o que me aterrorizou, no sonho, foi uma declaração de amor, feita para mim por uma moça que conheço e que, na vida real, nunca esteve muito próxima. Como interpreto isso? Foi uma "sacada" de meu inconsciente, um aviso de algo que eu ainda não percebi conscientemente, ou é a realização de um desejo meu, algo que minha "alma" está me avisando que eu tenho? Sinuca de bico...

(imagem: "O Sonho", pintura de Pierre-Cécile Puvis de Chavannes, 1883 - cortesia da wikipedia)

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Dedalus,

Semana passada eu estava tão tenso por causa da montagem de uma banca, que eu sonhei que um trem ia me atropelar, e dei um salto da cama, dormindo, mas tão longe, que fui parar no chão, batendo a bacia com toda força... quase não consegui me levantar de tanta dor.

Decidi, a partir de então, pegar mais leve... KNX.

Dedalus disse...

Caro KNX,

E eu acabei sem saber o que foi resolvido nesse seu caso... Segundo o que fiquei sabendo, o concurso da minha área também teve problemas com datas e bancas. Em resumo: segunda vou ver o que aconteceu.

E é preciso mesmo não se preocupar demais: eu tento relaxar, muitas vezes, apelando para a ficção, escrita ou áudio-visual. Mergulhos em mundos que não são o meu são muitas vezes bem calmantes.

Um abraço!

Cris disse...

Oi! Muito legal seu blog, adorei esse post. abracos, Cris.

Dedalus disse...

Cara Cris Venturini,

Obrigado pela visita e pelo elogio. Como infinitos outros, este blog é apenas uma tentativa rasa de mostrar algumas das propriedades decorrentes da interação entre uma pequena molécula (eu) com uma molécula muito maior (o mundo)...

Um abraço!