Na Folha de São Paulo deste domingo saiu uma entrevista com o autor de um livro sobre o movimento guerrilheiro peruano Sendero Luminoso, "La Cuarta Espada", onde li o trecho:
"Agravava a situação o fato de que os senderistas viviam num mundo muito pequeno. Debatiam e casavam entre si. O extremismo passou a parecer algo normal, porque perderam os referenciais do mundo de fora."
Oras, oras: e as pessoas aqui no Brasil que vivem em lugares como Alphaville (nome tirado de um filme de Godard, eu acho - é interessante comparar o verbete em português com o verbete em inglês na wikipedia), também não vivem em mundos pequenos, debatendo e se casando entre si? Aliás, acho que não é necessário nem ir tão longe: a classe média brasileira, enclausurada em seus bairros e prédios chiques, também não vive debatendo e se casando entre si, ignorando o resto do país?
Já passei por várias universidades públicas, como aluno ou funcionário, e nelas encontrei muito poucos negros ou pardos, que acho eu não são tão minoritários assim na população brasileira (para usar dados, pretos e pardos formavam 44,5 % da população no censo de 2000)... Aliás, segundo o IBGE, no censo de 2000,
"a população que se declarou de cor preta aumentou quase duas vezes mais que a que se declarou branca e oito vezes mais que a parda, mas os brancos constituem 53,7% da população, sendo que, entre empregadores, os brancos são 80%."
Mas o mais interessante que vi foi o ocorrido num curso de bioquímica da USP, que servia de disciplina optativa para mim, mas era obrigatória para os estudantes de odontologia. O professor, na primeira aula, perguntou quem ali tinha pai ou mãe ou irmão ou tio dentista. Acho que só eu não levantei a mão.
Enfim, só mesmo nas novelas a moça pobre se casa com o rapaz rico - e vice versa.
(imagem: a família brasileira, na visão de Debret)
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