Na "Carta do achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha, encontrei o seguinte trecho:
"E o Capitão mandou àquele degredado Afonso Ribeiro e a outros dois degredados, que fossem lá andar entre eles; e assim a Diogo Dias, por ser homem ledo, com que eles folgavam. Aos degredados mandou que ficassem lá esta noite."
Mais tarde, os degredados reaparecem no relato:
"Creio, Senhor, que com estes dois degredados ficam mais dois grumetes, que esta noite se saíram desta nau no esquife, fugidos para terra. Não vieram mais. E cremos que ficarão aqui, porque de manhã, prazendo a Deus, fazemos daqui nossa partida."
Relocalizo estes "degredados e desertores" em um livro do historiador Eduardo Bueno, "Brasil: terra à vista!":
"Não existe nenhuma informação sobre o destino dos dois grumetes que desertaram da esquadra de Cabral e decidiram permanecer na nova terra. Provavelmente eram meninos entre os 14 e 16 anos, e é possível que tenham sido "adotados" pelos nativos, passando a viver como eles. Quanto aos dois degredados, abandonados aos prantos à beira-mar, tiveram um exílio tropical de apenas 20 meses: em dezembro de 1501, a dupla foi recolhida pela primeira expedição enviada para explorar o Brasil."
Não sei quem teve melhor destino: se os resgatados, que de início ficaram à força, chorando, ou os sumidos, que desertaram atraídos pela terra nova.
De qualquer modo, escrevi isso tudo só para dizer que descobri há algum tempo que eu faria o caminho dos grumetes, e não derramaria uma lágrima pelas naus que se vão.
(imagem: ilustração da nau de Pedro Álvares Cabral, na Wikipedia)
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