quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O mensageiro das estrelas


Um ano, outro ano - este, me dizem, é o Ano Internacional da Astronomia, em comemoração aos 400 anos das observações de Galileu Galilei.

Galileu muito provavelmente não inventou o telescópio, mas soube fazer um. O mais importante é o uso que ele fez do aparelho: enquanto os outros apontavam telescópios para as coisas na Terra, para ter vantagens vendo antes o movimento de navios ou tropas distantes, Galileu apontou o seu aparelho para o céu. E o que ele viu? O mundo.

Crateras e montanhas na Lua, luas em Júpiter (mais tarde, manchas no Sol): o céu não era a perfeição que se pensava. E sendo céu e terra iguais, imperfeitos, não fazia sentido dizer que o céu ou a Terra eram lugares especiais: a Terra devia ser só mais um lugar...

Mas, enfim, não é só isso: me dizem que também se comemoram 150 anos da publicação de "A origem das espécies", de Charles Darwin. Galileu achou o início de uma revolução olhando para o céu, enquanto Darwin encontrou outra viajando pelo mundo, tentando entender a diversidade dos seres vivos.

É isso: somos apenas bichos nascidos num planeta muito pequeno de um universo gigantesco, seguindo leis da natureza como todos os outros bichos daqui. Se temos almas, são almas de natureza animal, que podem até lembrar uma centelha divina, mas não fomos mesmo feitos à imagem e semelhança de alguma divindade: somos apenas poeira de estrelas, irmãos do Sol e da Lua e de todas as criaturas e coisas do universo, nascendo, vivendo e morrendo dia após dia, ano após ano, até que séculos e milênios se formem.

E nada disso nos foi revelado: Galileu e Darwin não são e não foram profetas, foram gente, como eu e você, com a única diferença de que eles viram mais longe. Espero que as celebrações desse ano lembrem as pessoas disso, de que nada nos fez ver tão longe quanto a ciência, e nada nos fez ver o quão pequenos somos, e o quão grandes poderemos ser, se quisermos.



(imagem: livro de Galileu, "O mensageiro das estrelas")

7 comentários:

KNX disse...

"Duas coisas enchem a Alma de admiração e reverência tanto maiores quanto mais e mais intensamente a reflexão se concentrar nelas: o céu estrelado acima de mim; e a lei moral dentro de mim" (Kant).

Dedalus disse...

"Mundo, mundo, vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."

(Carlos Drummond de Andrade)

mariliafig disse...

Dando uma olhada por aqui, vi que você conhece Emily Dickinson. Procuro uma frase dela que fala do cuidado que devemos ter com nossos pais. Porque quando se vão nos sentimos desorientados e confusos. Você conhece, por acaso?
Obrigada

Dedalus disse...

Cara mariliafig,

Não sou um especialista em Emily Dickinson, mas creio que o texto que você procura (em inglês, "Hold dear to your parents for it is a scary and confusing world without them") teria sido atribuído a Emily Dickinson em uma série de TV chamada "Crossing Jordan": é isso mesmo? Se for esse o caso, parece que o texto citado na série não é de Emily Dickinson - veja, por exemplo adiscussão (em inglês) no seguinte link: http://forum.quoteland.com/1/OpenTopic?a=tpc&s=586192041&f=099191541&m=8601965816&inc=1

Um abraço!

mariliafig disse...

NOSSA!!! Muitíssimo obrigadíssima!!!Foi lá mesmo que ouvi a frase. Minha filha e eu cansamos de procurar no Google e não encontramos. Chegamos a conclusão de que não seria da Emily. Vou dar uma olhada no link que você indicou. Mas...de qualquer forma você me salvou!!!
Obrigada de novo!!!
Abraço

Anônimo disse...

Olá Dedalus, quanto tempo! Provavelmente nem lembra de mim.

Andei um tempo pelo lado escuro da lua, mas tenho acompanhando seu blog "às escondidas".

A gente se fala em breve.

Nowhere Man

Unknown disse...

Aproveito para lembrar hoje, dia 7 de Janeiro de 2010, celebra-se o quarto centenário da descoberta de três planetas “que giram com admirável rapidez em torno de Júpiter” por Galileu Galilei; o quarto foi observado no dia 13 de Janeiro de 1610: “Eis que no sétimo dia de Janeiro do presente ano de 1610, na primeira hora da noite, enquanto contemplava com o óculo os astros celestes, apareceu Júpiter. Dispondo, então, de um instrumento excelente, percebi (coisa que antes não me havia acontecido em absoluto pela debilidade de outro aparelho) que o acompanhavam três estrelinhas, pequeninas, ainda que claríssimas, as quais por mais que considerasse que eram do número das fixas, me produziram certa admiração, pois pareciam dispostas exactamente em linha recta paralela à eclíptica e também mais brilhantes que as outras de magnitude parecida.” (“O Mensageiro das Estrelas”, reedição da Duetto Editorial da edição de “A Mensagem das Estrelas”, Galileu Galilei, do Museu de Astronomia e Ciências Afins, Brasil, 1987, para a Scientific American Brasil, 2009).