segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Gênio obsessivo



Marie Curie, cientista ganhadora de dois prêmios Nobel, veio de uma família de classe média baixa. O pai era professor, a mãe morreu de tuberculose e ela teve de trabalhar, em parte para se sustentar e em parte para auxiliar nos estudos da irmã mais velha. Essa história é bem contada nos primeiros capítulos do livro que usei para nomear essa postagem, "Gênio Obsessivo":
"Mas ela imaginava um futuro melhor. À noite estudava, e acordava antes das seis para continuar sua educação autodidata. Escreveu que estava lendo "a Física de Daniel, da qual acabei o primeiro volume; a Sociologia de Herbert Spencer em francês; Lições de anatomia e fisiologia de Paul ber em russo". Ela tendia para a matemática e a física e se esforçava sozinha para aprender as matérias que achava que precisaria saber quando Bronya [sua irmã] a chamasse. O pai lhe enviava com regularidade problemas matemáticos para ela resolver e aconselhava que ela ficasse estudando para não ficar para trás na vida. Aos dezoito anos, ela já "adquirira o hábito do trabalho independente": chegar às próprias conclusões, sem ser condicionada pelas percepções aceitas, mais tarde ajudaria em suas descobertas surpreendentes."
Isso era lá no arcaico século XIX, na distante Polônia. Hoje, no moderno Brasil do século XXI, dá para achar alguém parecido? Aliás, a poderosa elite intelectual brasileira produziu quantos ganhadores do prêmio Nobel mesmo? Nossos meios de comunicação, com seu famoso padrão de qualidade, produzem coisas como a "Menina Fantástica 2009", em que uma das participantes declara "Queria mais que tudo na minha vida ser a Menina Fantástica. Gosto muito de estar na casa e de todas as meninas. Não queria sair agora”.

No rádio, hoje pela manhã, ouvi Lulu Santos cantando
"Assim caminha a humanidade
Com passos de formiga
E sem vontade..."
De novo, acho que não tenho mais nada a declarar. Ah, não! Me enganei: no local onde trabalho há um conselho composto por uns dez professores e pesquisadores universitários eleitos entre os pares - embora houvessem candidatas, nenhuma mulher foi eleita como titular.

(imagem: eu olho para a senhora Curie e me lembro de que no Fantástico de ontem se falava de implante de silicone - é algo bem na moda, especialmente no Brasil)

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu de novo, Dedalus,

A minha musa é Hipatia de Alexandria. Segundo consta, era gostosa como só ela, mas não dava bola para marmanjos:

http://en.wikipedia.org/wiki/Hypatia_of_Alexandria


Até mais, KNX.

Karl disse...

Que gata, hein?! ;)
Abraço

Dedalus disse...

Caro KNX,

Parece que a Hipatia não teve um final feliz. Um grupo de amorosos cristãos a teria matado de forma exemplar (isto é, para deixar um exemplo para outras mulheres). Esse é um momento lindo do cristianismo que deveria ser ensinado em todos os cursos de catecismo.

Caro Karl,

Eu preferia que meu país tivesse pelo menos uma dessas (sempre vestida de preto) do que uma centena de Giseles de bundinha arrebitada (lordose, quem diria?). E se você fala da beleza da Curie mãe é porque não viu a filha (Irene, que também ganhou um Nobel)...

Um abraço!