quarta-feira, 25 de março de 2009

Reckoner



Muitas coisas fiz, muitas coisas vi em meus séculos de existência. E na maioria das vezes apenas o silêncio e a luz me acompanhavam, e não havia como levar o que eu vi comigo, a não ser em mim.

Mas em alguns poucos instantes havia música e mais alguém. Instantes raros, que me lembram agora um show, comigo como único espectador, ainda que cercado por uma multidão, que dançava outra música, que era a mesma.

Pois minha vida foi e é assim: eu e a multidão que povoa o mundo sempre nos separamos, como ondas quebrando numa praia deserta, cada uma no seu ritmo, e eu sempre num ritmo diferente.

Foi assim que eu acabei aqui, um especialista em cálculos solitários, que eu crio como poemas dedicados à toda a humanidade. E não há ninguém para culpar.

(imagem: uma música de raiz)

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro Dedalus,

Segundo Voltaire a amizade é um contrato tácito entre pessoas virtuosas.Se Voltaire está certo,não digo que esteja,é praticamente impossível cultivar amizades no mundo humano.
Um abraço.
Ruth

Dedalus disse...

Cara Ruth,

A dificuldade está em encontrar pessoas virtuosas, eu acho. Eu mesmo não sei se posso ser considerado um homem de virtudes. Mas, segundo a assim chamada 'palavra de Deus', parece que é muito mais difícil encontrar uma mulher virtuosa: "Mulher virtuosa, quem a pode achar? Pois o seu valor muito excede ao de jóias preciosas". Vai entender...

Um abraço!

Anônimo disse...

Dedalus,
querido, quantas guerras ainda pretende provocar neste mês? Primeiro foi uma espécie de guerra do conhecimento,depois uma guerra dos mundos, e a agora é a vez da guerra dos sexos? Você está sob a influência de marte? Março, marte, estou esperando com ansiedade o mês de abril...
Do meu ponto de vista não há homens e mulheres totalmente virtuosos.É preciso aceitar a imperfeição dos nossos amigos (resguardando nossos mais caros princípios) e a reciprocidade nesse caso, deve ser uma lei.
Um abraço.
Ruth

Dedalus disse...

Cara Ruth,

Eu não estou querendo causar guerra nenhuma! Apenas fiz um comentário, que eu entendi como sarcástico, mas que (vejo agora) não explicitei como deveria: a menção a pessoas virtuosas aparece na definição de Voltaire por ele, provavelmente, se achar uma pessoa mais virtuosa que as outras, ao passo que a dificuldade de encontrar uma mulher virtuosa aparece na Bíblia por, provavelmente, ela não ter sido escrita por mulheres... Ou seja, cada um puxa a sardinha para o seu lado, de acordo com cada época. Foi isso que eu indiquei (muito, mas muito de leve mesmo) com o tal "vai entender". Concordo mais que completamente com você: "É preciso aceitar a imperfeição dos nossos amigos (resguardando nossos mais caros princípios) e a reciprocidade nesse caso, deve ser uma lei." Assim sendo, por favor, aceite meu principal defeito, que estou notando que é a capacidade de irritar as pessoas sem querer fazê-lo...

Um abraço!

Anônimo disse...

Dedalus,

posso aceitar, desde que eu venha a ter certeza de que esse é realmente um defeito seu.A primeira parte do comentário foi só uma tentativa de tratar o assunto com bom humor. Até mais.
Um abraço.
Ruth