Li hoje, no jornal que eu assino, um texto de um médico, o doutor Dráuzio Varella, sobre "o sono e os sonhos". Segundo ele, sonhar é uma qualidade desenvolvida por alguns seres vivos (os mais complexos) que 'sobreviveu' por conferir a quem sonha alguma vantagem evolutiva.
A necessidade de sonhar sempre me fascinou. Eu algumas vezes tive gatos que, nitidamente, sonhavam, gastando horas nisso. Eu, sonhando, percebi muitas vezes que o que eu sei do mundo, conscientemente, parece ser menos do que eu realmente sei, que se apresenta em sonhos.
Por exemplo, quando adolescente eu morava em uma república de estudantes, com uma liberdade sequer imaginada pela maioria dos adolescentes. Nessa época, em que eu descobria o mundo e meu lugar nele, me preocupava muito qual deveria ser minha postura ética em relação a tudo, mas especialmente com as mulheres.
Foi assim que, numa noite, tive um sonho em que eu era convidado por uma amiga para sair com ela. No sonho, íamos para um shopping, onde ela se transformava, na frente de um espelho, em uma boneca de borracha, dessas que se compra em sex-shops, só que com uma diferença: a boneca que era ela tinha quase que só órgãos sexuais, que queriam me devorar. Ela era apenas sexo. Assustado, eu fugia, para encontrar outras mulheres que viravam bonecas monstruosas - todas as mulheres viravan bonecas monstruosas, transformando meu sonho num filme de terror classe B. Mas, antes de eu acordar, encontrei uma moça que não virava uma boneca, e que, para meu espanto completo, era a única mulher pessoa de verdade - era uma colega de faculdade que, até onde eu sabia, era a única que fazia iniciação científica.
Psicanalistas podem analisar esse sonho de muitas formas mas, seja como for, foi um 'aviso' de meu subconsciente, sobre um tópico que me incomodava muito. Hoje, anos mais velho, vejo com pesar que a ciência, que eu amo, de uma forma geral não atrai mulheres, o que para mim é muito mais doloroso e assustador que um filme B de terror.
E eu sonho, hoje, acordado, em ser digno de encontrar no paraíso alguém como Émilie du Châtelet, quase esquecida por uma sociedade que impõe a beleza como qualidade máxima a ser buscada pelas meninas...
(imagem: Émilie du Châtelet, retratada por algum pintor anônimo, com livros e segurando um compasso)
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