sábado, 3 de julho de 2010

Cemetry gates


Há vezes, na vida, em que a gente se sente perdido, como um cachorro que caiu de um caminhão de um mudança... Hoje, estou assim: meu coração está noutra parte, e não neste mundo em que sou obrigado a vagar.

Vagando, fui almoçar numa padaria perto de casa, onde há várias revistas à disposição dos clientes que aguardam os seus pedidos. Em meio a revistas sobre carros e dicas de saúde e beleza, encontrei uma "Veja", que nunca leio ou compro, por discordar - muito - de sua linha editorial, e fui folheando até achar, na resenha de um filme envolvendo uma parte da vida do poeta inglês Keats, um parágrafo que me agradou demais. Sem caneta à disposição, fotografei a revista com meu celular, que tem uma câmera de baixa resolução e, agora, o que consigo ler nas duas fotos que tirei é isso:
"Brilho de uma paixão é suntuosamente fotografado e muito embevecido com a beleza de suas casas, jardins e figurinos (sem falar na beleza limpa e fresca de sua atriz, uma espécie de versão alimentada a leite integral da também australiana Nicole Kidman). Para o espectador distraído, pode assim passar como mais uma história "de mulherzinha" sobre uma paixão impossível e de fim trágico. Quando Keats morreu de tuberculose longe dela, na Itália, aos 25 anos, Fanny se entregou a paroxismos de sofrimento, o que poderia ser visto como confirmação dessa hipótese. Mas, prestando-se atenção ao desenvolvimento perspicaz que Jane Campion dá ao romance, entende-se o que Fanny de fato perdeu: não só seu primeiro amor, como a possibilidade de uma conexão verdadeira e sem reservas. O que não é só muito - é quase tudo."
"Uma conexão verdadeira e sem reservas" é quase tudo que eu acreditava ser impossível existir entre seres humanos. Romântico e idealista, eu já quis escrever coisas como as que o ultra-romântico Keats escreveu:
"My love has made me selfish. I cannot exist without you — I am forgetful of every thing but seeing you again — my Life seems to stop there — I see no further. You have absorb'd me. I have a sensation at the present moment as though I was dissolving — I should be exquisitely miserable without the hope of soon seeing you. [...] I have been astonished that Men could die Martyrs for religion — I have shudder'd at it — I shudder no more — I could be martyr'd for my Religion — Love is my religion — I could die for that — I could die for you. [Meu amor me fez egoísta. Eu não posso existir sem você - estou esquecido de tudo exceto de vê-la novamente - a minha vida parece parar aí - eu não vejo além. Você tem me absorvido. Tenho uma sensação no momento presente de que é como se eu estivesse me dissolvendo - Eu seria intensamente miserável sem a esperança de vê-la em breve. [...] Me surpreendia que homens pudessem morrer mártires da religião - isso me arrepiava - não me arrepio mais - eu poderia ser martirizado por minha religião - minha religião é o amor - eu poderia morrer por isso - eu poderia morrer por você.]"
Mas, olhando para mim e o meu entorno, em meu passado, quando eu era moço, nunca vi para quem endereçar devaneios desse tipo. E hoje, com a velhice se anunciando nas minhas juntas, o que me restou foi almoçar um prato feito de padaria, enquanto a TV mostrava a Espanha enfrentando o Paraguai...

Se Deus permitir, aceito uma outra sugestão de outra revista "Veja" da padaria e, ao invés de ficar aqui, vou até Santos ("a bola da vez") num fim de semana desses. Lá, posso até não encontrar o que eu queria, mas há a Bolsa do Café, e, como sempre, o mar onde, quem sabe, posso afogar meus olhos à vontade.

(imagem: Keats, num retrato que está num belo museu de Londres; preciso voltar lá um dia desses... O título desta postagem vem de uma música dos Smiths: "So we go inside and we gravely read the stones / All those people all those lives / Where are they now? / With the loves and hates / And passions just like mine / They were born / And then they lived and then they died / Seems so unfair / And I want to cry")

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Dedalus,

Se precisar onde ficar na Baixada...

Só que em casa vamos falar da beleza contida na poesia, na filosofia, na matemática (já leu Hardy?), na física e, por que não?, no amor. Todavia fica proibido "science wars", se tal área é mais importante que outra, quem devia formar mais e quem menos, etc.

A vida é curta meu caro... Não vou perder meu tempo com vaidades...

KNX

Dedalus disse...

Caro KNX,

Acho que vou logo, logo, aceitar o seu convite... Quanto às "science wars" eu só ajo defensivamente.

Um abraço!

▲ quanta alfaiataria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.